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Foto: woodsy/stock.xchng |
João Mellão Neto
Pesquisa CNI/Ibope recente
aponta que a presidente Dilma Rousseff, em setembro, foi aprovada por 71% da
população. Esse resultado foi melhor que os de Luiz Inácio Lula da Silva e de
Fernando Henrique Cardoso em igual período de governo, em seus primeiros mandatos.
É um índice espetacular. O pessoal de seu partido, o PT, deveria estar
exultante... Porém não está. Na verdade, os petistas autênticos - ideológicos -
estão é muito apreensivos.
E qual seria a razão para
tamanho desalento?
Simples. A popularidade de
Dilma Rousseff não se deve ao desempenho da economia nem à excelência da sua
gestão. O primeiro indica um crescimento pífio e a segunda se tem caracterizado
pelo curto prazo de validade de seus ministros. Dilma está com a bola toda por
motivos que os petistas julgam equivocados. Ao menos aos olhos dos militantes
do partido. A sua tão festejada "faxina ética" é algo que contraria
todos os dogmas da esquerda.
Combater a corrupção com
moralismo não funciona, alertam alguns. A corrupção é inerente ao sistema
capitalista, proclamam outros.
Basta consultar os principais
blogs simpáticos à "causa" para saber que o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu - anjo decaído do poder central -, permanece sendo um ícone para a
militância partidária. Por ocasião do 2.º Congresso da Juventude Petista, no
último domingo, Dirceu ponderou que, "nas duas vezes em que houve lutas
moralistas contra a corrupção, deu no Jânio e no Collor: um renunciou e o outro
sofreu impeachment".
Já o presidente do Partido dos
Trabalhadores, nesse mesmo congresso, concluiu que "os adversários de
Agnelo (Queiroz, governador do Distrito Federal, investigado pelo Superior
Tribunal de Justiça por suspeita de desvio de dinheiro público) são canalhas e
caluniadores. Eles tentam atingir o PT".
Dirceu, ao final do congresso
petista, foi brindado com uma camiseta onde se lia: "Contra o golpe das
elites".
Qual é o raciocínio que rege
tão estranhas manifestações?
Que elites seriam essas,
malvadas, que pretendem dar um golpe no democrático governo do PT?
Pelo visto, não são as elites
da política e do sindicalismo - que compartilham o governo por intermédio do
PT. Tampouco as elites econômicas e empresariais - escolhidas por critérios
obscuros -, beneficiadas pelo crédito abundante e subsidiado do Banco Nacional
do Desenvolvimento Econômico e Social, mais conhecido como BNDES. E também não
são, com certeza, os privilegiados "especialistas" que prestam consultorias
milionárias às empresas estatais e aos fundos de pensão, porque tudo isso
também é vinculado ao PT.
Então, se as tais elites
malvadas não são nenhuma dessas acima apontadas, a que outras elites os dois
dirigentes partidários se referiram?
Trata-se do seguinte: os
petistas, bem como os demais socialistas, entendem que o grande roubo existente
na sociedade é a exploração dos proletários pelos seus patrões. E a grande
missão que lhes cabe no mundo é denunciar aos pobres que eles continuam pobres
porque os ricos estão cada vez mais ricos. Os burgueses, por natureza, pouco ou
nada trabalham. Vivem à custa da "mais-valia" que extraem do trabalho
da massa proletária. Somente por meio da "conscientização" dessa
massa a revolução se tornará possível...
Dentro da lógica deles, o
combate à corrupção nos órgãos do governo é uma meta secundária, uma mera
manifestação de moralismo pequeno-burguês.
Num sistema igualitário - como
o que eles defendem -, a propriedade privada seria abolida e, assim sendo, as
pessoas não teriam mais por que ambicionar riquezas. E muito menos por que
buscar obtê-las por meios escusos.
Apresentada assim, até parece
uma boa ideia... Só que existe um porém.
Todas as pessoas nascem
iguais, é verdade. Mas os seus anseios, os seus talentos e os seus esforços
acabam por torná-las diferentes. Nivelá-las, todas, por baixo, novamente, é
algo que requer coerção e arbitrariedade. E a História nos ensina que sempre
que a coerção e a arbitrariedade se apresentam à porta é a democracia que foge
pela janela.
Não é à toa, portanto, que os
petistas pregam o "controle social da mídia". É uma forma, digamos,
educada de dizer que eles pretendem tolher o nosso direito de discordar. Não,
não se trata de censura à imprensa, alegam. É apenas, talvez, uma pequena limitação
do que a imprensa pode publicar...
Pessoalmente, eu sempre
duvidei daqueles que acreditam saber julgar, melhor do que o povo, aquilo que o
povo realmente quer e precisa.
Como Deus não revelou a sua
Verdade a ninguém, como a nenhum partido político é concedido o direito de se
arvorar em concessionário exclusivo da virtude e das boas intenções, o mais
seguro para todos é preservar a liberdade. E a liberdade só se consuma por meio
do pleno exercício de eleger e poder ser eleito, da alternância no poder, da
segurança de poder discordar, da sacralidade dos direitos humanos, da justiça
igual para todos, do respeito às prerrogativas de cada um. E, por fim, do
direito, assegurado aos indivíduos, de cada um poder ser feliz à sua própria
maneira.
E quanto ao povo em geral? É
justo viver na miséria? É legítimo morrer de fome? Não existiriam, também,
"direitos sociais" para ele?
Sem dúvida. Mas é preciso
compreender que o povo que deseja o pão é o mesmo que exige honestidade. As
pessoas, que são quase todas elas decentes, não admitem que os políticos não o
sejam.
É por isso que Dilma faz
sucesso. E é por isso, também, que o PT não faz.
Título e Texto: João Mellão
Neto, jornalista, foi deputado federal e estadual, secretário e ministro de
Estado, O Estado de S. Paulo, 18-11-2011
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