O Estado come tudo e não deixa
nada. É disso que o povo gosta há muitos anos
É o país pequenino e pobre de
espírito que temos. O alarido provocado pelo facto da SGPS da família Soares
dos Santos ter sido deslocalizada para a Holanda faz temer o pior sobre a
possibilidade de Portugal ter alguma hipótese de superar a crise actual e
corrigir os erros acumulados durante muitos anos que o levaram a esta
vergonhosa bancarrota. Acontece que o país continua a ter todos os tiques
salazarentos que a democracia, em vez de os liquidar, alimentou e alimenta com
políticas que afastam o investimento, o negócio, a iniciativa privada, o
mercado e tudo o que pode gerar riqueza e emprego. Tudo o que não é público
gera suspeitas, críticas e entraves de todo o género. O país está entregue a
uma gentinha que geme quando se corta na despesa do Estado e exulta quando se
chumba um projecto privado. O país continua dominado por uma gentinha que não
entende a bem que o Estado não tem dinheiro agora e não terá no futuro para
gastar à tripa forra. O país está entregue a uma gentinha que se indigna muito
com um grupo privado que emprega milhares de pessoas, paga milhões de euros em
impostos e procura as melhores condições de investimento. O país está entregue
a uma gentinha que faz apelos patéticos e ridículos a boicotes a grupos
privados que procuram lá fora o que o Estado lhes nega cá dentro. O país está
entregue a uma gentinha que não se indigna com os assaltos fiscais do Estado a
tudo o que mexe e tenta produzir riqueza. O país está entregue a uma gentinha
que se baba quando ouve falar em investimento público, empresas públicas e
emprego público. O país está entregue a uma gentinha que não se indigna com os
700 mil desempregados do sector privado e rasga as vestes quando ouve falar em
despedimentos na função pública. O país está entregue a uma gentinha manhosa
que imagina ser possível andar de mão estendida a pedir dinheiro no estrangeiro
e fazer figura de rico e perdulário cá dentro. O país está entregue a uma
gentinha que nunca irá perceber que o Estado tem de emagrecer e muito e que os
impostos vão ter de baixar e muito. O país está entregue a uma gentinha que
nunca irá entender que o tempo dos défices orçamentais e dívidas públicas
obscenas acabou. O país está entregue a uma gentinha que protesta por tudo e
por nada e imagina que quem lhe empresta dinheiro está disposto a aturá-la.
Mudar esta gentinha e as suas cabecinhas não é uma tarefa fácil. É preciso
fazer muitos ouvidos de mercador e tomar medidas rapidamente e em força que
tornem inúteis os gritinhos de indignação. E talvez valesse a pena gastar uns
euros numa campanha de esclarecimento com três singelas palavras: não há
dinheiro. A gentinha que odeia a iniciativa privada, o investimento privado e
os negócios privados devia aprender de uma vez por todas que o Estado tem de
sair da economia, dos negócios, tem de reduzir os seus custos de forma drástica
e reduzir de forma substancial os impostos que cobra desalmadamente a quem
trabalha e produz riqueza. Esta gentinha deste país pobre e pequenino de
espírito devia saber que a alternativa a este caminho é a miséria. Total e
absoluta.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 06-01-2012
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