sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pobre gente, pobre país de indignados

António Ribeiro Ferreira
O Estado come tudo e não deixa nada. É disso que o povo gosta há muitos anos

É o país pequenino e pobre de espírito que temos. O alarido provocado pelo facto da SGPS da família Soares dos Santos ter sido deslocalizada para a Holanda faz temer o pior sobre a possibilidade de Portugal ter alguma hipótese de superar a crise actual e corrigir os erros acumulados durante muitos anos que o levaram a esta vergonhosa bancarrota. Acontece que o país continua a ter todos os tiques salazarentos que a democracia, em vez de os liquidar, alimentou e alimenta com políticas que afastam o investimento, o negócio, a iniciativa privada, o mercado e tudo o que pode gerar riqueza e emprego. Tudo o que não é público gera suspeitas, críticas e entraves de todo o género. O país está entregue a uma gentinha que geme quando se corta na despesa do Estado e exulta quando se chumba um projecto privado. O país continua dominado por uma gentinha que não entende a bem que o Estado não tem dinheiro agora e não terá no futuro para gastar à tripa forra. O país está entregue a uma gentinha que se indigna muito com um grupo privado que emprega milhares de pessoas, paga milhões de euros em impostos e procura as melhores condições de investimento. O país está entregue a uma gentinha que faz apelos patéticos e ridículos a boicotes a grupos privados que procuram lá fora o que o Estado lhes nega cá dentro. O país está entregue a uma gentinha que não se indigna com os assaltos fiscais do Estado a tudo o que mexe e tenta produzir riqueza. O país está entregue a uma gentinha que se baba quando ouve falar em investimento público, empresas públicas e emprego público. O país está entregue a uma gentinha que não se indigna com os 700 mil desempregados do sector privado e rasga as vestes quando ouve falar em despedimentos na função pública. O país está entregue a uma gentinha manhosa que imagina ser possível andar de mão estendida a pedir dinheiro no estrangeiro e fazer figura de rico e perdulário cá dentro. O país está entregue a uma gentinha que nunca irá perceber que o Estado tem de emagrecer e muito e que os impostos vão ter de baixar e muito. O país está entregue a uma gentinha que nunca irá entender que o tempo dos défices orçamentais e dívidas públicas obscenas acabou. O país está entregue a uma gentinha que protesta por tudo e por nada e imagina que quem lhe empresta dinheiro está disposto a aturá-la. Mudar esta gentinha e as suas cabecinhas não é uma tarefa fácil. É preciso fazer muitos ouvidos de mercador e tomar medidas rapidamente e em força que tornem inúteis os gritinhos de indignação. E talvez valesse a pena gastar uns euros numa campanha de esclarecimento com três singelas palavras: não há dinheiro. A gentinha que odeia a iniciativa privada, o investimento privado e os negócios privados devia aprender de uma vez por todas que o Estado tem de sair da economia, dos negócios, tem de reduzir os seus custos de forma drástica e reduzir de forma substancial os impostos que cobra desalmadamente a quem trabalha e produz riqueza. Esta gentinha deste país pobre e pequenino de espírito devia saber que a alternativa a este caminho é a miséria. Total e absoluta.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 06-01-2012

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