Francisco Vianna
A formação do cidadão, no
Brasil, é uma das piores do mundo. Não adianta ficar pondo a culpa nas escolas
ditas “de ensino superior”, se o ensino fundamental e o médio são de péssima
qualidade. Crianças, mal educadas e mal ensinadas, passam de ano como se a finalidade
da escola fosse apenas exarar um certificado ao final dos cursos. O sistema
educacional em vigor é equivocado e criminosamente mantido por uma seara
acadêmica de professores mal preparados, mal pagos, estressados, sem segurança
funcional e com alunos que passam de ano com aproveitamento ruim e abaixo do
que se poderia conceber como nível de corte para isso.
A educação, quase sempre não
recebida em casa ou na escola, favorece o crime, o uso de drogas, a rebeldia
contra os valores morais e civilizacionais
cristãos e estabelece condutas de agressão e desrespeito aos semelhantes. A
competência profissional não é o escopo e o mercado de trabalho por si só não
consegue melhorar o nível da oferta de mão de obra qualificada. A sensação que
se tem, é que a ignorância, a incompetência, a imoralidade, e a desonra são
cultivadas, hoje em dia, como espécies de ‘virtudes’ republicanas e sinais de
‘esperteza’ e inteligência.
O primeiro grande absurdo no
sistema escolar brasileiro é a não distinção entre educação e ensino. São
coisas díspares, embora complementares, na formação de um cidadão socialmente
participativo, ou seja, capaz de formar suas opiniões, e de funcionar de forma
política e economicamente ativa (e, pois, socialmente) na manutenção da sua comunidade,
estado e nação.
No meu entender, a educação é
um conjunto de valores culturais e civilizacionais que a família e não a escola
deveria passar para os seus dependentes. Todavia, há que se considerar a
realidade de uma possível maioria de famílias desestruturadas, fragmentadas e
por muitos motivos – entre os quais se sobressai o acúmulo de gerações mal
educadas e mal ensinadas – incapazes de educar quem quer que seja. Então, a
escola tem que educar essas pessoas, essas famílias, fazendo-os compulsoriamente
alunos para a formação de uma cidadania melhor.
O ensino é o conjunto
conhecimentos teóricos e procedimentos práticos cujas técnicas pedagógicas
visam o resultado de fazer o aluno aprender tudo aquilo do qual dependerá a
qualidade da sua futura vida profissional. O ensino tem que ter como horizonte,
a capacitação profissional e a educação deve ter como horizonte a capacitação
cultural e a assimilação dos valores morais de nossa cultura judaico-cristã,
além de se esmerar na construção de um cidadão democrático, que valorize o
mérito e capaz de entender a vida que o cerca, os acontecimentos que se sucedem
na sua comunidade, no seu estado, no seu país, e no mundo.
Como se consegue isso?
Primeiramente, adotando essa
conceituação básica de diferenciar essas duas partes importantíssimas na
formação da cidadania. O próprio conceito de cidadania deve mudar. Há um
contingente, ainda minoritário, de pessoas capazes, adimplentes, probas,
honradas, e cujas ações devem ser consideradas parâmetros a serem estabelecidos
para a formação de um brasileiro melhor.
A cidadania, pois, não deve
levar em consideração a faixa etária, mas sim a escolaridade educacional e de
ensino. Se transformarmos o certificado de conclusão do segundo grau num
chamado ‘DIPLOMA DE CIDADÃO BRASILEIRO’,
já estaremos dando um passo gigantesco para criar no Brasil um povo-potência,
condição legítima para termos a seguir, como consequência natural, um
Brasil-potência. Um país não é rico porque tem um estado totalitário e rico,
mas porque tem um povo educado, competente, e, por conseguinte, rico. A falta
de educação e a ignorância são preceptoras da pobreza e da miséria. O cidadão
mal formado é caldo de cultura para o totalitarismo e a corrupção
institucional.
É claro que, a partir daí,
todas as pessoas que não tiverem a conclusão do segundo grau não poderiam ser
considerados “cidadãos” e, por
tal razão, teriam que ser consideradas “dependentes”.
Esse grande contingente, ainda majoritário, de dependentes, estaria vinculado
às quatro molas propulsoras da sociedade civil:
- o cidadão;
- os grupos de cidadãos;
- as empresas;
- o estado.
- os grupos de cidadãos;
- as empresas;
- o estado.
O cidadão, em tese, teria sob seus cuidados os
seus próprios dependentes, nas pessoas de seus filhos e parentes entregues à
sua tutela, que ainda não tivessem terminado o segundo grau. Caso a família
fosse formada por pessoas não qualificadas para exercer a cidadania, elas
deveriam estar aos cuidados de grupos de cidadãos (associações, sindicatos,
ONGs, etc.) que a sociedade civil estimularia para se dedicarem a essa
atividade social básica e pioneira.
Tais pessoas, também, poderiam
ser adotadas culturalmente e pedagogicamente por empresas nacionais ou
internacionais com investimento considerável no país, pois elas são, em tese,
as principais interessadas em sua futura mão-de-obra qualificada.
Finalmente, caso as três
instâncias acima não conseguissem educar e ensinar todas as pessoas dependentes
e fazer delas cidadãos qualificados conforme os conceitos acima, o estado
assumiria o que sobrasse, a partir do município, depois do estado e finalmente
em âmbito federal.
As pessoas em formação, os
dependentes, não seriam em nada 'inferiores' aos cidadãos como pessoas humanas,
assim como os nossos filhos não são inferiores a nós, seus pais e responsáveis.
Apenas seguiríamos a lógica de não exigir, delas, os deveres e
responsabilidades inerentes ao exercício da cidadania, enquanto elas ainda não
estivessem preparadas para tal. Evidente é que a falta de deveres e obrigações
corresponderia, diretamente, à inexistência de direitos correspondentes por
eles consubstanciados.
Os dependentes, enquanto nessa
condição, não teriam nenhuma participação política, não poderiam ser
proprietários, não pagariam impostos, e exerceriam atividades apenas como
aprendizes, mesmo que, por isso, viessem a receber algum tipo de ajuda de
custo. Não poderiam, pois, receber salários nem qualquer tipo de honorários
profissionais, uma vez que somente os cidadãos educados e profissionais, a
partir da conclusão do segundo grau, teriam o direito a isso.
É preciso, também, que os
cursos educacionais sejam ministrados paralelamente, mas não misturadamente,
com os cursos de ensino de formação profissional. Aí, então, reside o problema
dos pedagogos e profissionais de educação e de ensino, em estabelecer quais as
matérias ou disciplinas pertencem a cada tipo de formação. Apenas como
ilustração, atrevo-me a dizer que, na minha concepção, as matérias de educação
seriam, por exemplo, a Educação moral e cívica, a Educação artística, a
Urbanidade, a Leitura e interpretação de textos, a Higiene alimentar e vida
saudável, a História do Brasil e Geografia histórica brasileira, a História
Universal e geografia histórica da humanidade; a Filosofia; a Educação
religiosa; a Estética e Sociabilidade; as Noções de direito e de dever, etc.
Os cursos de ensino
profissional abrangeriam, então, as matérias que todos necessitarão nas suas
vidas profissionais, tais como: Matemática, Línguas, Ciências Naturais,
Ecologia e climatologia, Física, Química, Biologia, Genética, Informática,
Administração pública e privada, Matemática financeira, Estudo das Profissões,
todas direcionadas à formação de profissionais de nível médio, que é o que o
país mais necessita.
O nosso desemprego decorre
muito mais da falta de mão de obra qualificada do que da falta de vagas no
mercado de trabalho. Vivemos num mundo altamente competitivo onde as pessoas que não estão preparadas para
terem uma atividade produtiva, fatalmente terão uma atividade destrutiva.
Cabe aos cidadãos e as suas instituições de representatividade democrática,
privadas e públicas, a responsabilidade de zerar o déficit educacional e de
ensino que existe de forma alarmante na nossa sociedade.
Dentro desta perspectiva,
salta ao entendimento que o interesse geral da cidadania e do estado passaria a
ser a formação dos seus dependentes, da melhor maneira e da maneira mais rápida
possível, transformando-os e cidadãos de uma qualidade muito melhor à que temos
hoje.
A sedimentação de valores
éticos e culturais cristãos criaria uma mística de honestidade, honradez e
probidade que parece, hoje, estar perigosamente se desvanecendo, se é que,
algum dia, tenha existido em nosso país de modo efetivo.
Está lançada a ideia. Devemos
trabalhá-la para fazê-la prosperar.
O Brasil merece isso!
Título e Texto (grifos): Francisco Vianna, 18 de setembro de 2009 – atualizado em 19 de maio de 2012
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