Isabel Stilwell
Temos a mania de dourar a nossa infância, de
contar umas histórias muito cor de rosas, inclusive a nós próprios, de que
fizemos sumir as injustiças, as ansiedades e as angústias, e tudo parece tão
fácil e feliz. E a vida na escola é um desses mitos que insistimos em incluir
nas romarias aos tempos que nunca foram e que queremos impingir aos nossos
filhos. Até ao dia em que um deles, perante a insistência de que não faça fitas
para ir para as aulas, nos pergunta de chofre: Mas a mãe gostava assim tanto da
escola?”. Assim, à queima-roupa, a questão suscita o efeito desejado e damos
por nós a confessar: “Eu? Eu odiava a escola!”.
Embora a escola seja hoje um lugar mais acolhedor
do que era, a verdade é que raramente é o lugar preferido de uma criança. E a
criança até aceita que o mundo não pode ser perfeito todos os dias, desde que
os pais também aceitem ouvir os seus desabafos, se solidarizem com as suas
dificuldades e não queiram à força que acordem todas as manhãs eufóricas. E cá
para mim é essa a questão: suportamos mal, mas mal a um nível patológico mesmo,
ver os nossos filhos infelizes e, por isso, tentamos catequiza-los à força para
a maravilha que os espera para lá daquelas portas, na esperança de que
acreditem e não nos façam sentir culpados. E para além disso, tememos que não
estudem e não sejam nada na vida! Mas é mil vezes preferível a sinceridade. Não
tenha medo de dizer que não gostou da escola ou que não tinha boas notas. Não
disfarce a irritação que lhe causa levantar cedo, arrumar lancheiras e
enfrentar o trânsito. Fale das frustrações do seu trabalho. Mas fale também de
como foi capaz de superar o tédio, as dificuldades e os conflitos. Explique-lhe
que não há nada que não seja bom todos os dias, mas que o esforço acumulado
rende. Porque é essa a única moral da história.
Título e Texto: Isabel Stilwell, Destak,
31-8-2012
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