Teresa de Sousa
A História ainda pode ser generosa com
ele, se a história desta crise acabar bem e não demasiado tarde. Mas também
pode vir a ser implacável. Hoje já menos gente se atreve a subestimá-lo. Para
este retrato, todas as perguntas são legítimas. As respostas são ainda muito
incompletas.
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Foto: Rui Gaudêncio/Público |
Passos Coelho é um sedutor.
Pelo trato, pela educação, pela afabilidade, pela cortesia. Depois, há uma
parede de vidro, invisível, que rapidamente se percebe que é intransponível.
Quando foi eleito líder do PSD, em Março de 2010, toda a gente quis saber quem
era o homem que ousara desafiar a oligarquia cavaquista. Dos grandes espaços
africanos à dureza de uma aldeia transmontana. A imersão precoce na política. A
liderança da JSD. O desprendimento da política. "Entrou e saiu",
"liga e desliga com uma enorme facilidade".
Sem alarde. E sem cobranças.
Regressou para liderar um país em plena tormenta. Entre a cordialidade e a
distância, há um campo difícil de decifrar. Que apenas se pode intuir.
Mário Soares nunca escondeu a simpatia pelo personagem, incluindo nos momentos politicamente mais inoportunos. Ninguém como ele sabe separar as ideias das pessoas. "Gosto dele porque é simpático e inteligente, mas eu sou um socialista e ele é um neoliberal". O que parece não ter grande importância. "Há dias, logo a seguir a eu ter dito o que disse sobre o Governo e sobre a troika, encontrámo-nos numa coisa pública e ele cumprimentou-me com a simpatia de sempre."
Mário Soares nunca escondeu a simpatia pelo personagem, incluindo nos momentos politicamente mais inoportunos. Ninguém como ele sabe separar as ideias das pessoas. "Gosto dele porque é simpático e inteligente, mas eu sou um socialista e ele é um neoliberal". O que parece não ter grande importância. "Há dias, logo a seguir a eu ter dito o que disse sobre o Governo e sobre a troika, encontrámo-nos numa coisa pública e ele cumprimentou-me com a simpatia de sempre."
Aparentemente, Passos retribui. Nunca cortou as pontes com Soares. "Talvez sejam os dois muito ciosos da sua própria autonomia". Talvez. Soares simboliza a história da democracia portuguesa.
Passos é da geração que pela
primeira vez se libertou do momento da ruptura com o antigo regime e da visão
que emanou dessa ruptura. A democracia rotinizou-se. Os políticos também. Vai
um mundo entre eles. Passos Coelho foi, no entanto, o primeiro
primeiro-ministro de um governo de centro-direita a comparecer no Parlamento no
dia 25 de Abril exibindo um cravo vermelho. Sinal de libertação? Há qualidades
de carácter que o definem e que um ano de governo através da maior crise vivida
pela democracia portuguesa não parece ter conseguido alterar. Assunção Esteves,
a Presidente da Assembleia da República que resultou do primeiro
"erro" cometido pelo novo primeiro-ministro (a escolha falhada de Fernando
Nobre para segunda figura do Estado), não faz parte do círculo mais próximo.
(…)
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