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Ilustração: Mónica Carreteiro |
João César das Neves
Os portugueses sempre souberam
viver bem. Neste tempo de crise é bom recordar isto. Temos um clima
excepcional, paisagens deslumbrantes, a melhor culinária, fruta, queijos e
vinhos únicos, bons divertimentos, fé sólida, hábitos afáveis e forte
camaradagem, um povo sereno e esperançoso.
Mesmo quando éramos um país
pobre e atrasado sabíamos viver bem e hoje que somos ricos e preocupados
continuamos a saber viver. Por isso é tão triste que quase desapareça por cá um
dos maiores prazeres da vida.
Há poucas coisas nesta Terra
que sejam melhores do que ter um rancho de filhos à volta da mesa a rir. Quando
vêem isso, um homem e uma mulher sentem algo indefinível, único, incomparável.
Esta é uma das principais razões por que os portugueses vivem tão bem, pois até
na choupana mais pobre se pode sentir este prazer sublime.
Hoje cada vez menos. Não se
diga que a causa disso é a maldita austeridade, que apaga o riso ou força a
ausência. A verdadeira razão veio da prosperidade balofa, que nos trouxe à
crise, e desfez os casais, reduziu a prole, gerou a esterilidade e o aborto.
Quando a fartura regressar e
nós voltarmos a viver, bem como sempre, mas de novo com facilidade, esse prazer
particular não regressa. A mesa passará a ser farta, mas as cadeiras permanecem
vazias.
A questão é importante, não
apenas em si mesma, mas também pelos efeitos. É que as cadeiras vazias de
filhos põem em risco a dimensão das futuras gerações e até a sobrevivência dos
portugueses. O que seria uma pena para o mundo, porque eles sempre souberam
viver bem.
Título e Texto: João César das Neves, Destak, 22-11-2012
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