Rodrigo Constantino
Impossível não voltar ao tema, mesmo tendo de interromper minhas férias
uma vez mais. O Brasil nos enche de vergonha mundo afora, quando “ilustres
intelectuais” partem em defesa, ainda que tímida, dos terroristas islâmicos,
apelando para um relativismo cultural e religioso nojento e hipócrita. Cheguei
a escrever um comentário em minha página do Facebook expondo a insustentabilidade da postura
relativista, que procura sempre amenizar o “outro lado” para cuspir no Ocidente
mais civilizado:
A grande incoerência daqueles que tentam enxergar o
“outro lado” nessa coisa toda abjeta do terrorismo islâmico em Paris é não
perceber que, se o relativismo cultural dá uma espécie de salvo-conduto para a
barbárie, então em nome do mesmo multiculturalismo poderíamos argumentar que o
Ocidente pode reagir à barbárie com uma bomba atômica. Seria parte da “nossa
cultura”. E nem uma palavra poderia ser dita pelos relativistas sem que caíssem
em contradição. Ou seja, ao assumirem que alguns de outra cultura ou religião
podem reagir à sátira com violência e sangue e outros não, estão
automaticamente admitindo a SUPERIORIDADE do lado ocidental, justamente aquilo
que pretendiam negar com o relativismo. Deu para entender?
Mas se a reação de certas figuras da esquerda nos deprime, pois tentam
defender o indefensável, ao menos alguns outros nos vingam, com excelentes
textos que massacram intelectualmente esses relativistas. Foi o caso da
reportagem de capa da Veja desta semana, que conclamou todos os cidadãos
civilizados ao combate ao terrorismo, usando as nossas melhores armas: as
ideias, a liberdade de expressão, o humor. Diz a conclusão do editorial:
Outro que lavou nossa alma foi Demétrio Magnoli, ele mesmo de esquerda,
mas indignado com o esquerdismo retrógrado de nosso país, tomado pela lavagem
cerebral antiamericana de nossas universidades. Demétrio escreveu um excelente texto na Folha, derrubando
as falácias dessa esquerda atrasada que flerta com o terrorismo. Diz ele:
A mensagem dos franceses foi um tributo à vida e à
civilização. “Eu sou Charlie” não significa que concordo com qualquer uma das
sátiras do Charlie Hebdo. Significa que concordo com a premissa nuclear das
sociedades abertas: a liberdade de expressão é, sempre, a liberdade daquele com
quem não concordo. Isso, porém, nunca entrará na cabeça de nossos mensageiros
da morte.
Seu discurso padrão começa com uma condenação
ritual do ato terrorista: “É claro que não estou defendendo os ataques”,
esclareceu de antemão uma dessas tristes figuras, antes de entregar-se à
defesa, na forma previsível da condenação das vítimas “justiçadas”. “Não se
deve fazer humor com o outro”, sentenciou pateticamente Arlene Clemesha, que
ostenta o título de professora de História Árabe na USP, para concluir com uma
adesão irrestrita à lógica do terror jihadista. É preciso, disse, “tentar
entender” o significado do ataque: “um atentado contra um jornal que publicou
charges retratando o profeta Maomé, coisa que é considerada muito ofensiva para
qualquer muçulmano”.
E concluiu, de forma fulminante:
Em outros lugares e outros tempos, o pensamento de
esquerda confundiu-se com o cosmopolitismo e produziu as mais comoventes
defesas das liberdades civis. No Brasil de hoje, com honoráveis exceções,
reduziu-se a um pátio fétido habitado por “black blocs” iletrados, mas
fanaticamente antiamericanos e antissemitas.
“Não se deve fazer humor com o outro”, está escrito
na lápide definitiva que cobre o túmulo do humor. Raqqa, a sede do califado, é
aqui. “Eu sou Charlie”.
Por fim, outro que veio pelo lado direito detonar a estupidez
esquerdista foi Denis Rosenfield que, em sua coluna de hoje no GLOBO, descreveu
o absurdo da postura dessa gente, cuja alcunha é merecida e dá título ao
artigo: esquerdopatas. Uma mistura de esquerda com psicopata, pois sim, é
preciso ser um psicopata para relativizar ou até mesmo jogar a culpa nas
vítimas de um atentado tão cruel e desnecessário como o ocorrido em Paris. Diz
Rosenfield:
Os terroristas mostraram em sua ação o seu extremo
profissionalismo. Não são “lobos solitários” nem indivíduos que agem de uma
forma amadora, levados por uma emoção intensa. Foram treinados com tal objetivo
e veicularam em seu ato o islamismo radical que os alimenta. Um policial ferido
foi friamente assassinado no solo, quando os terroristas já se retiravam.
Cartunistas chamados por seus nomes, que eram alvos previamente determinados e
que deveriam ser exterminados.
[...]
Trata-se de uma trajetória da maldade que encontra
agora, na figura de jornalistas contestatários, uma espécie de culminação, a do
terror que, nesta sua forma, torna-se mais assustador. Ocorre que esse desfecho
contou, em seus momentos anteriores, com a simpatia de vários setores à
esquerda do jornalismo e da intelectualidade. Muitos dos seus atos, com essas
suas outras faces, eram vistos como modos de luta contra os EUA, o
“imperialismo”, o capitalismo e outras bobagens do mesmo quilate. Outros ainda
afirmavam a necessidade do multiculturalismo, do direito de diferentes culturas
(aliás, direito ao terror, propriamente falando!).
Outros ainda procuram explicar o terror como uma
suposta retroalimentação entre ele e a islamofobia ou, ainda, “justificar” tais
tipos de ação como “respostas” à profanação da imagem de Maomé, como se os
terroristas tivessem o direito de impor as suas crenças aos países ocidentais,
eliminando os seus valores. Claro que sempre há uma frase ou pequeno parágrafo
final condenando o ato, como se assim o jornalista ou “analista” pudesse ainda
salvar a sua face, não se mostrando francamente adepto do terror, o que não
cairia bem no contexto atual de condenação mundial a este ato.
São, na verdade, esquerdopatas, ou seja, dizendo a
mesma coisa de outra maneira, pensam com as patas.
A verdade nua e crua: quem tenta suavizar para o
lado dos terroristas, ou encontra motivos de sobra para colocar um “mas” após
“condenar” o atentado e logo depois dedica o grosso do espaço às críticas ao
próprio Ocidente, prefere falar da “islamofobia” ou dos “excessos da liberdade
de expressão” ou ainda da “falta de respeito com outras culturas e religiões” é
alguém que se entregou ao absurdo, flertando com o terrorismo.
“Qualquer concessão ao multiculturalismo nada mais
é, aqui, do que uma adesão politicamente correta ao terror”, diz Rosenfield. E
está certo. Os multiculturalistas que preferem cuspir nas civilizações mais
avançadas, civilizadas, tolerantes e plurais, pois com isso atacam o
“imperialismo estadunidense”, o c capitalismo e a “democracia burguesa”, são
todos inimigos da democracia, da liberdade e da própria civilização. São
esquerdopatas que flertam com o niilismo, e deveriam buscar ajuda para tanta
alienação em um divã. O problema é que tem muito psicólogo e psicanalista entre
esses esquerdopatas…
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