António Barreto
Sempre se disse que as
esquerdas têm um problema com o dinheiro. A começar pelo facto de não o terem.
É natural. Tivessem dinheiro e talvez não fossem esquerdas. Com algumas
excepções, as pessoas de esquerda não têm muito. Por isso, quando estão no
governo, têm uma atitude ligeira com o dinheiro dos outros. Querem promover a
educação, a saúde, a segurança social e as obras públicas, o que é excelente,
só que para isso, que custa tão caro, faz falta o dinheiro. Mas, convencida de
que a direita tirou aos pobres para dar aos ricos, a esquerda também quer
reverter e devolver aos pobres... No entanto, dar é uma coisa. Crescer e
distribuir é outra, bem diferente e mais difícil. Mas a verdade é que uma e
outra, esquerda e direita, desde 2000, não conseguem investir nem crescer.
Nos bons tempos, gasta-se o
que se tem. Nos anos difíceis, gasta-se o que não se tem. Depois, é necessário
encontrar dinheiro. As soluções: fazê-lo, pedi-lo emprestado ou ir buscá-lo
onde ele está. Portugal está a viver um período desses, dos maus. Só que não se
pode fazer dinheiro, o Banco de Portugal e a Casa da Moeda já não servem para
isso. Pedir emprestado, é o que se vai fazendo, mas está cada vez mais caro. E
quem tem dinheiro ficou exigente: ou não empresta ou impõe condições proibitivas.
O que se deve é tanto que só os juros levam os recursos para investimento. Foi
aliás por causa de se ter pedido a mais que chegámos onde estamos.
Sobra, portanto, a última
hipótese. Ir buscá-lo onde ele está. Em primeiro lugar, entre os capitalistas do
mundo inteiro, para investir. Seria o ideal. Só que Portugal não oferece hoje,
nem sequer nos últimos anos, boas condições. Não sabe criar incentivos nem
atrair investimento. Se não há capitalistas lá fora, é preciso ir ter com os de
cá de dentro. E levá-los a investir. Só que... Já não há! Ou quase não há! O
capitalismo português acabou. Sobravam uns banqueiros, umas empresas e umas
famílias: faliram, estão depenados, levaram o seu dinheiro para outros países
ou não têm confiança no regime e no governo. O dinheiro dos bancos já não
existe ou está preso pelo BCE. Os bancos já não têm que chegue e precisam dos
contribuintes!
Há, evidentemente, o dinheiro
dos turistas, mas não é suficiente. Há o dos emigrantes: é bom, apesar de já
não ser o que era, mas também não chega para as encomendas. Há finalmente os
dinheiros europeus, os famosos "fundos". Esses são excelentes,
essenciais há mais de trinta anos, mas o montante já não é o que era. Além
disso, estão sob controlo europeu cada vez mais apertado e presos na tenaz
burocrática portuguesa. E também em risco de suspensão, dado o mau
comportamento financeiro do governo e do país. Os fundos já não são a solução!
Se o que havia fugiu e se não
se atrai o que está lá fora, só resta mesmo ir à receita miraculosa dos
comunistas, do Bloco e dos socialistas mais nervosos: ir buscá-lo onde está! É
há anos a receita infalível. Os dirigentes políticos dos novos aliados do PS
sempre o disseram. Ir buscá-lo onde? Aos ricos. Às contas bancárias. Às
empresas. Às casas.
O problema é que não há ricos.
Ou antes, não há ricos que cheguem. Os que tinham dinheiro já o puseram a
recato. E o dinheiro já não chega. Por conseguinte, vamos aos que se seguem,
todos os que têm alguma coisa. Passam a ser todos ricos. Por exemplo, para já,
aos que têm património de mais de 500 mil euros... Faz-se uma lei sem saber
quantas pessoas, quantas casas, qual o rendimento... Não se faz a mínima ideia,
o governo não define o que é um rico nem um pobre. É quem convém. E se não
chega, arranjar-se-á mais, com os impostos indirectos, antes de se passar aos
directos. E a tudo o que vive. Tudo o que tem ou ganha qualquer coisa. Até se
chegar aos remediados. Até deixar de haver ricos. Mesmo que então já só haja
pobres...
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