Donald Trump ganhou as
eleições para a Casa Branca, o Senado, a Câmara dos Representantes, a maioria
dos parlamentos estaduais e dos governadores. Uma vitória categórica. Amanhã
será um presidente tão mau como os outros, mas nada apaga a imagem dos
tudólogos aterrados a comentar os resultados com cara de velório. O resto das
pessoas há de adaptar-se.
Após a implantação da
República, logo em Outubro de 1910, deu-se o nome de adesivos aos antigos
monárquicos que trataram de declarar a sua adesão ao novo regime. O fenómeno é
recorrente. As massas adoram sempre o vencedor, o triunfante, o líder — o
fogo-fátuo das manchetes e parangonas. Muitos dos que chamaram porco e racista
a Trump aceitariam agora de bom grado um jantarinho na Casa Branca e apertar a
mão ao “homem mais poderoso do mundo”. Bajular os grandes é o desporto favorito
da humanidade. Nos Estados Unidos ou na minha terra. Nada se alterará,
portanto. Tão mau como os outros, Trump será talvez menos nocivo para os demais
países, o que já não é pouco.
O homem não enfrentou apenas
Hillary Clinton, uma candidata fraquíssima e cheia de podres. Teve de bater-se
com a oposição sempre inteligente de António Guterres, o vídeo retumbante de
Robert de Niro, magníficos escritores como Paul Auster, os intelectuais de
Hollywood e dos tapetes vermelhos, a Barbra Streisand, a Cher, a Madonna, a
Hannah Montana, a Lady Gaga, os analistas políticos mais certeiros, a
Bloomberg, a CNN, as sondagens, Wall Street, o Goldman Sachs, as empresas de
armamento. Mas com estes adversários pôde ele bem. Os mais difíceis de vencer
foram a Márcia Rodrigues, o Costa Ribas, a Cândida Pinto, a Fátima Campos
Ferreira, o Miguel Sousa Tavares, o Rodrigues dos Santos, a Teresa de Sousa, o
José Adelino Faria e outros corifeus da imparcialidade.
Dizia o grande Frank Zappa que
todos os povos deviam votar nas eleições americanas porque o resultado afecta o
mundo inteiro. Se assim fosse, a candidata democrata teria ganho com larga
vantagem. Não só na Arábia Saudita ou no Qatar, mas em Portugal, onde o povinho
foi submetido a uma vasta campanha de desinformação. Hillary, a boazinha;
Trump, o vilão. O maniqueísmo do costume. Os jornalistas portugueses devem-nos
um pedido de desculpa. Somos magnânimos. Não precisam de comparecer de joelhos
e corda ao pescoço. Basta o pedido de desculpa.
Título e Texto: Bruno Oliveira Santos, 9-11-2016
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