quinta-feira, 10 de novembro de 2016

“Os jornalistas portugueses devem-nos um pedido de desculpa”

Donald Trump ganhou as eleições para a Casa Branca, o Senado, a Câmara dos Representantes, a maioria dos parlamentos estaduais e dos governadores. Uma vitória categórica. Amanhã será um presidente tão mau como os outros, mas nada apaga a imagem dos tudólogos aterrados a comentar os resultados com cara de velório. O resto das pessoas há de adaptar-se.

Após a implantação da República, logo em Outubro de 1910, deu-se o nome de adesivos aos antigos monárquicos que trataram de declarar a sua adesão ao novo regime. O fenómeno é recorrente. As massas adoram sempre o vencedor, o triunfante, o líder — o fogo-fátuo das manchetes e parangonas. Muitos dos que chamaram porco e racista a Trump aceitariam agora de bom grado um jantarinho na Casa Branca e apertar a mão ao “homem mais poderoso do mundo”. Bajular os grandes é o desporto favorito da humanidade. Nos Estados Unidos ou na minha terra. Nada se alterará, portanto. Tão mau como os outros, Trump será talvez menos nocivo para os demais países, o que já não é pouco.

O homem não enfrentou apenas Hillary Clinton, uma candidata fraquíssima e cheia de podres. Teve de bater-se com a oposição sempre inteligente de António Guterres, o vídeo retumbante de Robert de Niro, magníficos escritores como Paul Auster, os intelectuais de Hollywood e dos tapetes vermelhos, a Barbra Streisand, a Cher, a Madonna, a Hannah Montana, a Lady Gaga, os analistas políticos mais certeiros, a Bloomberg, a CNN, as sondagens, Wall Street, o Goldman Sachs, as empresas de armamento. Mas com estes adversários pôde ele bem. Os mais difíceis de vencer foram a Márcia Rodrigues, o Costa Ribas, a Cândida Pinto, a Fátima Campos Ferreira, o Miguel Sousa Tavares, o Rodrigues dos Santos, a Teresa de Sousa, o José Adelino Faria e outros corifeus da imparcialidade.

Dizia o grande Frank Zappa que todos os povos deviam votar nas eleições americanas porque o resultado afecta o mundo inteiro. Se assim fosse, a candidata democrata teria ganho com larga vantagem. Não só na Arábia Saudita ou no Qatar, mas em Portugal, onde o povinho foi submetido a uma vasta campanha de desinformação. Hillary, a boazinha; Trump, o vilão. O maniqueísmo do costume. Os jornalistas portugueses devem-nos um pedido de desculpa. Somos magnânimos. Não precisam de comparecer de joelhos e corda ao pescoço. Basta o pedido de desculpa.
Título e Texto: Bruno Oliveira Santos, 9-11-2016

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