Ruth Manus
TAP, não há como não amar quem nos leva até
nossos amores. Mesmo quando você resolve ser tão injusta e fazer com que esses
abraços custem tão caro.
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Foto: Mário Cruz/Lusa |
Poucas relações que tive na
vida foram tão coerentes com a expressão “entre tapas e beijos” quanto minha
inevitável relação com a TAP. A TAP está mais presente na minha vida do que 48%
dos meus parentes e 31% dos meus amigos. No fundo, eu não tenho como fugir
dela, nem ela de mim.
Lisboa-Madri, Lisboa-Londres, Lisboa-Funchal,
Lisboa-Paris, Lisboa-Frankfurt, Lisboa-Porto e, dezenas de vezes, Lisboa-São
Paulo. O TP87, o TP88 e o TP89 são velhos conhecidos, nos encontramos muitas
vezes ao longo do ano. Talvez passe mais tempo com eles do que com o meu irmão,
o que não me deixa muito contente. Neste exato momento estou no TP89 rumo a São
Paulo, torcendo para poder passar 4 ou 5 horas com meu irmão no próximo
domingo.
Sabe, TAP? Muitas vezes eu te
odeio. Muitas mesmo, preciso ser sincera. Cheguei no aeroporto de Lisboa te
odiando hoje. Comprei minha passagem ontem e só Deus sabe quantos textos vou
ter que escrever ou em quantas causas vou ter que advogar para te pagar este
bilhete. Mas meu pai vai ser operado e dinheiro nenhum é alto demais para estar
perto dele.
Não sei o que te deu nos
últimos meses, TAP. Eu costumava te pagar um dinheiro justo para voar para a
minha terra. Mas 2017 chegou e você resolveu simplesmente dobrar os preços, sem
nem nos explicar o porquê, sem nos pedir desculpas, sem nos mandar flores amarelas
com algum constrangimento. Nem sei se isso é legal.
Eu te odeio, TAP, a cada vez
que você não honra a cozinha portuguesa e nos serve refeições intragáveis como
aquela carne estufada com purê e a salada de feijão frade sem tempero. Eu te
odeio quando pego voos nos quais a televisão parece ser tão nascida na década
de 80 quanto eu. Odeio as filas inexplicáveis no check-in de Guarulhos. Odeio nunca ser presenteada com um finger e ter que ficar pendurada no
transporte até o avião enquanto o motorista faz curvas malucas.
Mas às vezes - só às vezes -
eu te amo, TAP. Nesse exato momento eu te amo (mas talvez o vinho tinto esteja
agindo a seu favor). Te amo porque seus comissários me fazem lembrar que ser
sorridente ainda vale a pena. Porque eles correspondem à simpatia que eu nunca
consegui arrancar da minha cara.
Eu gosto de você, TAP, porque
as sobremesas são sempre boas. A mousse de chocolate está ótima, embora eu
ainda prefira a baba de camelo. E eu te amo porque a seleção de músicas nunca
me decepciona, porque os filmes são recentes e porque os funcionários do
check-in sempre têm paciência com meus pedidos de busca por cadeiras onde não
haja ninguém ao lado. E hoje eu gosto de você ainda mais por causa dos raviólis
que entraram no menu.
Eu te amo, TAP, mesmo quando
te odeio. E te odeio mesmo quando te amo. Te amo quando tomo meu vinho bom e te
odeio quando me lembro o quanto estou te pagando por isso. Te odeio quando
estou naquela fila gigantesca, mas te amo quando os comissários me recebem com
um sorriso tão sincero e tão raro em solo europeu.
Mas, acima de tudo, eu te amo
TAP, porque entrar no TP87 ou no TP88 quer dizer que estou indo rumo a abraços.
Os dos meus pais, que me esperam ansiosos na selva de pedra paulistana, ou os
do meu marido e da minha enteada que me aguardam sorridentes atrás de azulejos
lisboetas. E não há como não amar quem nos leva até nossos amores. Mesmo quando
você resolve ser tão injusta e fazer com que esses abraços custem tão caro.
Título e Texto: Ruth Manus, Observador,
14-5-2017
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Tenho optado pela TAP por três razões:
ResponderExcluir1) Voo direto;
2) Franquia da bagagem de porão - até março deste ano, era duas malas de 32 kg, e
3) Milhas já contabilizadas.
No entanto, após converter essas milhas (uma viagem, um trecho, um upgrade...) considerarei muito seriamente a possibilidade de viajar em outra empresa, com conexão, pois o preço é mais barato...