Vi hoje no Observador um
artigo de Saliu Djau sobre acabar com a mutilação genital feminina. Confesso que não li o texto, mas tive
curiosidade em perceber quem seria o seu autor.
Este assina a peça como
“Guineense, membro da organização do Festival Política e da rede transacional
de ativistas, MURAL- Mutual Understanding, Respect And Learning.” O meu interesse cresceu substancialmente!
Tive oportunidade de verificar
que o Festival Política já
vai na sua terceira edição e o tema deste ano é dedicado à “Europa” e serão abordadas
questões como “o populismo e a pressão migratória que estão a criar divisões no
espaço da União Europeia, o ‘Brexit’ e as fake news”.
Fiquei também a perceber que
o Projeto tem como parceiro nacional o Alto Comissariado para as Migrações.
Dediquei atenção adicional a
estas instituições e constatei que a produtora principal do espetáculo é a
“Associação Insonomia” (NIPC 514833610), cuja fundadora teve contratos com
a Câmara Municipal de Cascais de mais de 120.000€ por ajuste direto para
“implementação do plano de transparência, integridade, accountability” e
“recuperação de impostos municipais”.
Na produção deste
acontecimento cultural também esteve a “Produtores Associados” (NIPC:
508038197) que por sinal teve 298 contratos públicos por ajuste direto, num total de perto de 6
milhões de euros e cujo sócio é ex-deputado do PCP.
Por sua vez os mesmos sócios
desta produtora têm outra empresa chamada “Idade das Ideias” (NIPC: 513445137)
do qual também fez parte um avençado da
Câmara Municipal de Sesimbra.
Esta produtora teve, por sua
vez, 118
contratos públicos por ajuste direto, no valor global de mais de 3
milhões de euros.
A “Produtores Associados”
detém ainda uma quota de 50% numa outra empresa do ramo chamada “Bravopalco”
(NIPC: 508702240), esta com outros 44 contratos públicos por ajuste direto no valor global de quase 900
mil euros.
Voltando ao Festival
Política, conforme noticiou o Público, em edição anterior ao evento foi produzido um vídeo de
divulgação cuja narrativa anti-abstenção era o do perigo de as decisões
políticas serem deixadas a pessoas “racistas, chauvinistas, homofóbicas,
xenófobas e saudosistas dos tempos do Salazarismo”. Na altura o PS e o PAN também usaram este vídeo na
campanha das autárquicas. (Pergunto-me se os abstencionistas terão mesmo o
perfil acima descrito. A ser verdade, mais de metade dos eleitores nacionais
serão pouco menos que nazis…)
Além da preocupação de apelo
ao voto, gostaria de salientar que este Festival também já teve como mensagem
central a necessidade de “beijos apaixonados para acabar com as
discriminações”.
As pessoas e entidades
envolvidas nas atividades e contratos a que acima faço referência não são, que
eu saiba, suspeitas ou arguidas de qualquer ilegalidade ou irregularidade.
Salvo informação que desconheça, tudo é legal e trata-se de práticas comerciais
habituais. Aliás, toda a informação recolhida é de acesso público e irrestrito
à distância de um click através da internet.
Mas, o que concluo de tudo
isto?
Duas coisas:
1.
Que a política é mesmo um festival e que o
festival é mesmo política.
2.
Que a “rede transacional de ativistas” vive à
custa do dinheiro dos contribuintes.
Entretanto, a causa contra
mutilação genital feminina parece relegada para um secundaríssimo plano por
esta gente.
Título e Texto: Telmo Azevedo Fernandes, Blasfémias, 9-8-2019
Título e Texto: Telmo Azevedo Fernandes, Blasfémias, 9-8-2019
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