Aparecido Raimundo de Souza
NÃO DEVERIA SER TRISTEZA, já que é do nada. O nada não vai além do que não existe. Tudo o que é
ou vem do nada, virou périplo e não deve ser levado a rigoroso, ou a verídico.
Enquanto isso, o muro de Berlim das minhas quimeras sustenta a encosta gramada
onde estou neste momento.
Em paralelo, às minhas costas, floresce a trapoeraba. Não vou, pois, dar uma de “maluco beleza” à
moda Raul Seixas, alimentando essas angústias desairosas estouvanadas, pensando
em criar metáforas intermediando meus pensamentos como se fosse um Cristo
prestes a ser crucificado ao lado de dois ladrões de araque no Gólgota do meu
imaginário irreal.
O imaginário irreal faz às vezes a nossa mente rodopiar por uma espécie
de desvão abissal e sem volta. Apesar de saber disso, levado por uma agonia
intransigente visito meu “eu” de surpresa, num abrupto que até a mim me deixa
boquiaberto. Chego sem avisar. No hall da minha chegada um toque de eternidade
entre o céu e o meu deslumbramento.
Passeio por dentro de meu recôndito assim como se caminhasse ao acaso de
uma subversão malparida, engendrada de modo mesquinho. Meu íntimo é grande como
um campo de concentração perdido num Shangri-Lá qualquer da vida. Por breves
momentos, me perco do mundo real feito cego em tiroteio onde reside um não sei
o que de múltiplas faces.
De repente me vejo como rima que acabou de perder o sabor do verso. Igual
a crônica que deixou de dar à luz ao fim de uma ideia porque a página, num
instante fugaz se fez branca sem que se soubesse o motivo. Penso em voltar
imediatamente desse passeio esquisito. Aliás, se eu parar para pensar, nem
tenho como voltar se nem saí, nem fui para lugar algum.
Mas devo continuar? Sim, devo. Mas para onde? Que lado, que banda? Que
rota? Melhor usar a intuição. E o faço marchando em frente, mediado por sendas
e becos jamais visitados ou percorridos. Estou propenso a crer (e creio), essa
tristeza do nada, sem respaldo nenhum ou coisa alguma explícita, me fez dar
voltas e mais voltas em derredor de mim mesmo, como se estivesse num parque de
diversões vazio a bordo de um carrossel girando intermitentemente em direção a
um oco imensurável.
Embora sufocado e acuado, não posso perder a calma. Menos ainda a
serenidade. Sou esperto demais, ladino em excesso, astuto e abelhudo, manhoso e
versátil para me dar ao luxo de me ver aprisionado dentro do nada. Desse nada,
especificamente. Nada, aqui, se traduz também na figura esquálida de uma
tristeza fria, insensata, fora de ordem, destituída do objeto principal, o
TUDO.
Essa tristeza do nada, apesar de parecer insana, não é um bicho de sete
cabeças que me amedrontará ou me apavorará as ideias. Não será jamais, um
tropeço ou motivo que me leve a cair de cabeça num precipício sem retorno. Nada
que me tire do sério e me faça pensar em mil loucuras, como por exemplo, pular
de uma ponte e mergulhar num mar de águas revoltas.
Nesse relatório de insensatez, não sei se me atenho ao tudo de uma
tristeza que não é nada, ou ao nada complexo de uma tristeza que veio de um
chão sem prumo e pensou que iria me derrubar se fazendo de poderosa. Em resumo,
preciso sair. Fugir me libertar desse aquém do meu coração acelerado, meio que
algemado por detrás de portas que se fecharam para mim.
Em circular de meu corpo, de meu espaço, existe um tudo. Tudo é uma tristeza
transformada numa xícara de café com leite que bebo a hora que bem entendo...
Como se sorvesse um copo de cerveja gelado acompanhado com uma porção de
batatinhas fritas. Tristeza do nada, um conselho!
“Se conselho fosse bom, não se dava, vendia”. Apesar disso, quebrarei a
regra existente. Escute. Vá dançar o engano de seus propósitos em outros
horizontes. O meu hoje se fez bonito, completo tapeteando o poder divino com um
sol de múltiplas cores e facetas. O poder divino está resguardado igualmente de
um NADA que se fez TUDO.
Nesse tudo, extirpou a golpes mortais todas às suas investidas para me
quebrantar, me decompor e me ver, sobretudo, sucumbido, acamado, prostrado.
Imagine só, senhora tristeza: essas acontecência num tempo exato de uma piscadela
de olhos entre a ilusão de vedar o eclipse das suas desgraças reverberou no
contínuo objetivo de lhe dar um basta e pôr a pique, a sua total e derradeira
desaparição. Portanto, suma, se
escafeda. Vase! Antes, espie. As
primeiras gotas da Felicidade plena salpicam em suavidade e avivam
expressivamente o meu amanhã. EU VENCI!
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de São
Paulo, Capital. 1-10-2019
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