terça-feira, 15 de outubro de 2019

[Para que servem as borboletas?] O que nos move na vida, a razão ou imaginação?

Valdemar Habitzreuter

Pela visão Espinozista, somos parte da NATUREZA. A palavra “natureza” nos remete a nascer, gerar. Portanto, é inerente à NATUREZA uma potência que faz nascer, surgir. Há nela um duplo viés: a natureza naturante que é o ato de gerar, e a natureza naturada que são as coisas geradas (nascidas).

Portanto, a Natureza é um sistema orgânico de corpo e alma. Seu corpo é o universo das coisas geradas; e sua alma, a inteligibilidade geral que perpassa esse universo. Nós sentimos a Natureza em nosso íntimo, pois nossa constituição também é corpo e alma.

É bom saber o que nos move na vida para aproveitá-la com mais compreensão e assim podermos melhor nos nortear e verificar o porquê dos altos e baixos que acometem a vida particular de cada um de nós.

É inerente a nós uma potência de agir, uma força natural que faz com que perseveremos na vida. Ninguém quer morrer. É, claro, um suicida deseja dar cabo a sua vida porque não avalia essa força positivamente; tudo o que lhe afeta neste mundo o puxa a anular essa força, pois vive numa profunda tristeza.

Essa força quando se refere à alma chama-se vontade; quando se refere, concomitantemente, ao corpo e à alma chama-se apetite. O apetite, por sua vez, quando é acompanhado da consciência, transforma-se em desejo. A essência do ser humano é, então, desejo. Não que isso signifique, simplesmente, desejo disso ou daquilo, mas desejo generalizado, desejo de viver.

Pois bem, no âmbito desse desejo de viver temos que lidar com o mundo circundante em que somos afetados pelas coisas, ou pelos outros, em que nossa potência de agir pode ser aumentada ou diminuída. Assim, as coisas que nos afetam podem nos tornar mais fortes em perseverar na vida, ou nos enfraquecer.

O que conta são as ideias adequadas ou inadequadas que perpassam nossa mente pelas quais nos deixamos influenciar. As ideias adequadas são da razão que procura ver as causas originais dos afetos e saber utilizá-los para aumentar nossa potência de agir que nos desperta para a alegria da vida, enquanto as ideias inadequadas são ideias imaginativas que nos levam a inconsistências afetivas onde mora a tristeza.

A razão é capaz de avaliar adequadamente se o objeto do desejo aumenta nossa potência de agir e, assim trazer a alegria consistente ou não. A imaginação, ao contrário, como ideia inadequada, obscurece a razão e a deixa confusa em que o objeto do desejo pode ser ocasião de tristeza, enfraquecendo nossa potência de agir.  

Portanto, as afecções nos tornam mais fortes se formos os agentes; isto é, se a partir de nosso íntimo determinamos o que nos deve afetar positivamente e, assim, teremos a alegria de viver. Se, ao contrário, formos passivos e deixarmos que as afecções do exterior nos ditam o destino de nossas vidas podemos ter a tristeza como companheira se o que nos afeta não nos agradar. Mesmo as afecções do exterior que nos agradam podem nos trazer a tristeza, pois são imaginárias e, por isso, inconsistentes.

Cabe a nós, pois, se deixamos a razão ou a imaginação ditar o que nos convém; se deixamos a alegria ou a tristeza reger nossas vidas, sabendo que na alegria o amor é a tônica com seus inerentes afetos positivos, e na tristeza advém, mui facilmente, as paixões negativas, como o ódio e seus satélites que podem nos dominar.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 15-10-2019

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2 comentários:

  1. As vezes fico na dúvida de que muitos confundem afetos com amor.
    Espinoza diz-nos que afetos são afecções do corpo, o qual concordo em plenitude, porque age diminuindo ou aumentando seus graus potenciais de ação.
    Nós temos afecções de alegria ou tristeza, amor ou ódio, correspondendo a dualidade do universo.
    Podemos dizer que essas experiências vividas é um processo de transição dos sentidos. As alegrias podem ser transformadas em tristezas e o amor em ódio.
    Nós desejamos afecções de alegria para completar nossa felicidade.
    Nesse interim nos tornamos seres passivos nas causas afetivas, deixamos de agir naquilo que nos faz mal.
    Devemos sempre analisar e avalizar nossas relações nas afecções afetivas.
    As pessoas sensatas e com ética, devem admirar e conviver com o que lhe convém identificando na razão suas reais intenções afetivas de alegria e felicidade.
    O oposto causa depressão e maldades a si mesmo.
    Perceber que há uma diferença entre estar apaixonado e estar emocionalmente dependente de alguém, é necessário para que se tenha liberdade e independência.
    Dependência afetiva significa que você não consegue viver ou tomar decisões importantes em sua vida ter outra pessoa ao seus lado.
    As decisões importante de nossa vida dá-se só sem ser solidão.
    fui...

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  2. Corrigindo a frase:

    Dependência afetiva significa que você não consegue viver ou tomar decisões importantes em sua vida sem ter outra pessoa ao seu lado.

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