Aparecido Raimundo de Souza
AS SENHORAS E OS SENHORES vão pensar que se trata de alguma brincadeira de gosto duvidoso. Não é.
Acreditem, caros amigos. Existe um lugarejo incrustado na província de
Tamarugal, ou Pontal do Tamarugal, na região de Tarapacá, em Santiago do
Chile, conhecida pelo sugestivo nome de
Pica.
Nesse pé, é bom que se diga, a Pica chilena, ao contrário do que a
maioria imagina, é uma estância relativamente bem pequena. Todavia, próspera e
venturosa. Por lá, o dinheiro corre solto. Assemelha bastante ao nosso Beto
Carrero, em Praia de Armação do Itapocorói, no litoral norte de Santa Catarina,
ou mesmo a Disney World, em Orlando, na Flórida.
Pica tem uma área de mais de 8 mil kilômetros quadrados e uma população
de 13 mil habitantes, segundo o censo de 2010. Possui inúmeras piscinas
naturais de águas quentes e termais, por aquelas bandas denominadas de Cochas (tipo Caldas Novas, em
Goiás), onde os turistas tomam banho completamente pelados.
Alguns engraçadinhos de plantão acham que entrar nas cachoeiras como se
veio ao mundo, notadamente em Pica, não é aconselhável. Percebam. Dependendo da
ótica de como cada um encara a Pica,
como a vê, e, sobretudo, como a sente, perceberá que não há inconveniente algum
em experimentar as correntes aconchegantes desse lugar lindamente
acolhedor.
Sem falar, nos variados restaurantes. Nos finais de semana, a maioria
fica cheio, bem como os barzinhos e as tavernas. Outro detalhe que deve ser
levado em conta. A água de Pica é uma delícia. Dizem, os entendidos, a melhor
do planeta. O sujeito toma um copo e logo em seguida quer repetir a dose.
Existe uma época do ano (não agora, em face da pandemia do covid-19), que
um considerado número de casais de namorados viaja para Santiago do Chile e
acaba fazendo parada obrigatória nesse pequeno distrito considerado exótico e
delirantemente paradisíaco (não só pelo nome, como pelas belezas naturais)
unicamente com a intenção de mostrar, com detalhes, toda a maravilhosa região
de Pica às suas amadas, notadamente os pombinhos em desfrute da lua de mel.
Um fato interessante, aliás, uma curiosidade. Em Pica, o cidadão não se
refere a uma desgraça ou a um infortúnio de um morador, ou de um amigo, ou
vizinho, cujo ente veio à óbito, dizendo, por exemplo, “o cara foi pras pica”. Tal procedimento é
considerado duplamente ofensivo e abjetamente insultuoso.
O autor poderá vir a sofrer um processo, caso empregue frases como essa
em alusão a certas situações consideradas provocadoras ou injuriosas à moral e
aos bons costumes. Os fazendeiros não
falam que “seus cavalos picaram a mula”, usam a expressão “os animais
debandaram para a outra parte do pasto”. Por aqui, é notório e corriqueiro
ouvirmos o esdrúxulo e bombástico “o garanhão picou a mula”.
A educação, o respeito e o senso pundonorístico comandam as línguas
ferinas, evitando que a coisa descambe para caminhos tortuosos, sendas que
possam ir desembocar nas barbas do tribunal. Mas Pica não fica atrelada a essas
mesquinharias. Pica se tornou um atrativo indescritível em face de seu deserto
arenoso.
Possui, como já dito, águas frescas permitindo aos fazendeiros nativos,
uma excelente agricultura, bem ainda rica e farta gastronomia. Sem mencionarmos
os surpreendentes atrativos arqueológicos, como a Iglesia de San Andrés —, onde
desde a sua fundação, se tornou o Padroeiro do condado.
Para quem aprecia, pode se embrenhar pela arqueologia, fazer boas
cavalgadas, os chamados (trekking), acampanhar — existem vários espaços abertos
e preparados para camping —, piqueniquear, contemplar a flora e a fauna, bem
ainda fotografar ou filmar regiões consideradas irreais.
Em derredor de Pica, é possivel visitar as aldeias pré-hispânicas, como
as de Huatacondo, Collágua, Geoglifos de Pintados, La Huayca, Lagar, Laguna del
Huasco, Salitreira Humberstone, Pisadas de Dinosaurios, Ruinas Salitreira Santa
Laura e o não menos fabuloso Santuário Católico de La Tirana.
De roldão, dar uma aliviada no estresse, passando uma tarde
agradabilíssima nas harmoniosas Termas de Macaya, de Mamina e Lirima. Os
visitantes poderão se banquetear com as frutas fresquinhas, como mangas,
goiabas e o inquestionável mamão de Pica.
Se as senhoras e os senhores, algum dia, resolverem visitar Pica,
conheçam o milagre do deserto.
Milagre do deserto? Como assim? O deserto, ou o devoluto, ou ainda, o
estéril de Pica, todo ele, se abastece de água vinda das camadas subterrâneas
que se acumulam em uma série infindável de piscinas minúsculas, o que não deixa
de atrair banhistas seduzidos por suas temperaturas agradáveis e, claro, o mais
importante: a chamativa vegetação circundante. Visitar Pica, em Santiago do
Chile, é melhor e mais prezeiroso que
passar uma semana na italiana Busseto, província de Parma.
Aliás, a comuna de Busseto, caríssimos leitores, para os que desconhecem,
se tornou famosa mundo à fora, em face de seu filho mais ínclito, o compositor Giuseppe
Verdi e por seus magníficos vinhos e a culinária magistral. Impecável!
Entretanto, Pica nada fica a dever à Busseto, apesar dos esmerados acordes
imortais de “Otello”, “La Traviata” e “Rigoletto”.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de Vila
Velha, no Espírito Santo. 15-5-2020
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Realmente não sei qual imbecil apelidou o órgão sexual masculino de PICA.
ResponderExcluirPICA é uma alotriofagia ou alotriogeusia é uma afecção rara entre seres humanos, de apetite por coisas ou substâncias não alimentares.
Talvez por que alguns humanos coloquem na boca o determinado órgão.