Telmo Azevedo Fernandes
Em 1989 o sinistro Ayatollah Khomeini do Irão anunciou ao
mundo a sentença de morte para Salman Rushdie por este ter escrito um livro
considerado ofensivo do Islão. O líder religioso supremo da altura mandatou
qualquer fiel para a execução da pena em qualquer altura e em qualquer lugar.
Assim, há dias, trinta e três anos depois, Salman Rushdie escapou por pouco à morte
em consequência de um infame ataque perpetrado por um zelota islâmico.
Mas o mundo e o nosso país está hoje cheio, cheiinho de
ayatollahs. Os actuais Khomeini têm Silva, Santos, Ferreira, Costa ou outro
qualquer apelido. Os fundamentalistas dos nossos dias chamam-se Afonso,
Benedita, Martim, Guilherme ou Carolina.
Hoje, o livro de Rushdie “Versículos Satânicos” nem
sequer teria qualquer hipótese de ser publicado. Os editores têm agora por
prática a auto-censura e não publicam livros que considerem ter certas palavras
indizíveis nem obras que temam possam ferir sentimentos de algum sector mais
sensível da sociedade.
Os órgãos de comunicação social têm medo de usar termos que não sejam politicamente-correctos. Nas universidades os professores são coagidos a adoptar um discurso que os maluquinhos activistas raciais, do feminismo, da igualdade de género ou das emergências climáticas considerem próprio. As redes sociais estão pejadas de trupes e gangs sempre à espreita de denunciar aqueles que têm ideias desalinhadas ou que não se submetem à ideologia progressista. Apela-se à censura e tudo se classifica como discurso de ódio. Na nossa Assembleia da República os deputados aprovam leis e regulamentos travestidos de virtude, mas que na prática pretendem limitar a liberdade de expressão.
Nas relações sociais, hordas de sabujos têm a distinta
lata de afirmar à boca pequena que quem usa da sua palavra livremente “provoca”
ou “se põe jeito” para reacções intimidatórias ou mesmo fisicamente violentas.
Os cobardes e os moluscoides aconselham em vez disso um discurso redondo e o
uso de banalidades para não incomodar ou tornar desconfortável o ambiente
social instalado.
Parece, portanto, que em Portugal interiorizamos de modo
voluntário a lei islâmica. A fatwa, a condenação à morte por
blasfémia, é apenas a última etapa e o último grau dos tabús e do «respeitinho»
a que nos habituamos. Mas não estamos tão longe disso quanto se possa imaginar.
Os «ayatollah khomeini» portugueses estão no caminho para terem as mãos sujas de
sangue.
Mas só existe verdadeira liberdade de expressão se houver
liberdade de ofender.
A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:
Título, Texto e Vídeo: Telmo
Azevedo Fernandes, Blasfémias,
17-8-2022
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