Humberto Pinho da Silva
Meu pai era jornalista. Às sextas-feiras, publicava a seção “Apontamentos“, no “O Comércio do Porto”. Certa vez, jovem liceal – assíduo leitor, – escreveu-lhe interrogando: "Por que emprega pontuação, que meu professor de português, considera imprecisa?"
Respondeu-lhe, mais ou menos, deste modo: "Cada
qual tem seu estilo, escreve, muitas vezes de modo que o gramático taxa
abstruso." Como os textos de Saramago, digo eu.
Antero de
Quental considerava, que se devia escrever com simplicidade e clareza. Ter estilo,
a seu parecer, é descobrir ideias. Não ter estilo, é nada dizer, encher de
palavras folhas de papel...
Geralmente quem critica, exceto o critico honesto,
move-se pela inveja. Dizia Cruz Malpique, em 1991: "A crítica entre
nós, é a impressão escrita sobre o joelho, com a pressa de quem vai salvar o
pai, da forca; escrita por amizade, ou por antipatia; nem sim nem sopas; a de
ajustes de contas (agora é que ele vai saber de que força é o filho de meu
pai!); a de ciúmes recalcados..."
Helena Sacadura Cabral, teve parecer semelhante,
no "Diário de Notícias": " Em Portugal há uma longa
tradição de murmúrio. De inveja. De cobiça. E de preguiça também. Os valores
raramente são reconhecidos, e os mais inteligentes constituem o pasto ideal
para calúnia."
Quantas vezes o sucesso do escritor não é devido, também, à ideologia que professa?
Certa ocasião participei num colóquio entre Joaquim Paços d'Arcos [foto] e Óscar Lopes, onde este teceu, com mestria, desagradáveis comentários ao escritor. Estranhei o parecer do crítico, mas não percebi os velados remoques.
Manuel António Pina, em "Por Outras
Palavras" (JN. 26/1/2012) esclareceu-me: "(...) Suplemento
Literário dirigido por Nuno Teixeira Neves (acabou) por não ter sido
devidamente louvado um medíocre romancista do regime, Joaquim Paços
d'Arcos." – opinião do autor. Daqui se conclui: o crítico, em
geral, encontra-se encantoado em capelinhas políticas, louvando ou botando
abaixo, o que não é da sua devoção.
Poderia citar outros casos, assim como são
atribuídos, alguns prémios literários... e "muchas otras cosas más",
como disse, com graça, Cruz Malpique.
Reis Brasil, na comunicação que fez no III
Congresso de Escritores Portugueses, afirmou: "(...) A grande
maioria dos críticos lusos peca por crassa ignorância, por inconsciência, por
falta de honestidade."
Sem "padrinhos" ou "pistolão",
como dizem os brasileiros, é difícil fazer carreira em qualquer profissão.
Por detrás do mérito, há quase sempre razões que a
razão, por vezes, nunca conhecerá.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva,
agosto de 2022
O Contista - Joaquim Paço d'Arcos
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