quinta-feira, 18 de agosto de 2022

[Daqui e Dali] A crítica e os críticos

Humberto Pinho da Silva

Meu pai era jornalista. Às sextas-feiras, publicava a seção “Apontamentos“, no “O Comércio do Porto”. Certa vez, jovem liceal – assíduo leitor, – escreveu-lhe interrogando: "Por que emprega pontuação, que meu professor de português, considera imprecisa?"

Respondeu-lhe, mais ou menos, deste modo: "Cada qual tem seu estilo, escreve, muitas vezes de modo que o gramático taxa abstruso." Como os textos de Saramago, digo eu.

Antero de Quental considerava, que se devia escrever com simplicidade e clareza. Ter estilo, a seu parecer, é descobrir ideias. Não ter estilo, é nada dizer, encher de palavras folhas de papel...

Geralmente quem critica, exceto o critico honesto, move-se pela inveja. Dizia Cruz Malpique, em 1991: "A crítica entre nós, é a impressão escrita sobre o joelho, com a pressa de quem vai salvar o pai, da forca; escrita por amizade, ou por antipatia; nem sim nem sopas; a de ajustes de contas (agora é que ele vai saber de que força é o filho de meu pai!); a de ciúmes recalcados..."

Helena Sacadura Cabral, teve parecer semelhante, no "Diário de Notícias": " Em Portugal há uma longa tradição de murmúrio. De inveja. De cobiça. E de preguiça também. Os valores raramente são reconhecidos, e os mais inteligentes constituem o pasto ideal para calúnia."

Quantas vezes o sucesso do escritor não é devido, também, à ideologia que professa?

Certa ocasião participei num colóquio entre Joaquim Paços d'Arcos [foto] e Óscar Lopes, onde este teceu, com mestria, desagradáveis comentários ao escritor. Estranhei o parecer do crítico, mas não percebi os velados remoques.

Manuel António Pina, em "Por Outras Palavras" (JN. 26/1/2012) esclareceu-me: "(...) Suplemento Literário dirigido por Nuno Teixeira Neves (acabou) por não ter sido devidamente louvado um medíocre romancista do regime, Joaquim Paços d'Arcos." – opinião do autor. Daqui se conclui: o crítico, em geral, encontra-se encantoado em capelinhas políticas, louvando ou botando abaixo, o que não é da sua devoção.

Poderia citar outros casos, assim como são atribuídos, alguns prémios literários... e "muchas otras cosas más", como disse, com graça, Cruz Malpique.

Reis Brasil, na comunicação que fez no III Congresso de Escritores Portugueses, afirmou: "(...) A grande maioria dos críticos lusos peca por crassa ignorância, por inconsciência, por falta de honestidade."

Sem "padrinhos" ou "pistolão", como dizem os brasileiros, é difícil fazer carreira em qualquer profissão.

Por detrás do mérito, há quase sempre razões que a razão, por vezes, nunca conhecerá.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, agosto de 2022

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