Humberto Pinho da Silva
Iniciou-se o a assalto...Todos querem ser os
primeiros, na busca de melhor lugar. Em alarido a multidão fermente
acotovela-se na ânsia de abrir caminho.
Ouço vozes de protestos, apartes lamentosos em
surdina, e crianças procuram furar entre a floresta de pernas.
Na confusão endiabrada fui arrastado para junto de
chapa de aço esburacada...
Oprimido e espremido, olho em redor: bicicletas
emaranhadas (7), trotinetas, sacos... e entre eles, no carrinho de rodas altas,
nené choraminga, de olhos esgazeados.
Em cada estação entram e saem passageiros, aos pulos, aos saltos, costeando malas, empurrando trotinetas, afastando bicicletas.
Ouço zunzuns de conversas cruzadas, guinchos de
mancebos, gritinhos estilhaçados de mocinhas acéfalas, como se viajasse em
barca poveira.
Cachorrinho, entalado entre pernas, chora baixinho
sua desdita.
Frequentemente realizo a viagem e nunca me vi em
tais apuros.
Que se leve malas e animais - que são, quase
sempre, ótimos companheiros - aceita-se. Agora, colossais malões, trotinetas e
sacos... parece-me demais!
Por que não limitar o número de velocípedes e
outros objetos nos transportes públicos?
Outrora despachava-se para não incomodar os
viajantes. E agora?
Em época em que as carruagens são confortáveis,
proporcionando agradáveis viagens, em segurança, era bom evitar excesso de
bagagem, para não pensarmos que se viaja no vagão de mercadoria ou em
transporte de gado.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, julho
de 2022
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