Humberto Pinho da Silva
"Na Carta
de Guia", escreve D. Francisco Manuel de Melo, que viajando por
terras de Espanha, foi parar a hospedaria, onde a dona e suas filhas, tão
elevadas estavam numa novela, que não foram capazes de o receber.
Não encontrou
melhor remédio se não procurar outra estalagem.
De regresso de
viagem, perguntou pela leitora e ouvintes. Disseram-lhe "que poucos
dias depois, a novela foi tanto adiante, que cada uma das filhas daquela
estalajadeira fizeram sua novela, fugindo com seu mancebo do lugar, como boas
aprendizes da doutrina que tão bem estudaram."
O mesmo vai
acontecendo com as telenovelas – versão moderna das novelas de outrora –
imbuídas das mesmas peçonhas, que incutem na juventude o desejo de passarem da
ficção à realidade.Tarcísio Meira e Glória Menezes caracterizados como seus personagens em '2-5499 Ocupado', 1963. Foto: Arquivo/Estadão
Os enredos, em
geral, não são planeados, apenas para divertir, mas, no firme propósito de
inculcar ideologias ou condutas perversas.
O nosso genial
Eça costumava – talvez a pedido do editor – "apimentar" a prosa para
aumentar as vendas. Todavia, conhecedor da perversidade, não queria que os
filhos lessem os textos, mormente a querida Maria.
Asseveram –
não sei se é com sinceridade – cineastas e produtores da TV, que somente
mostram a sociedade tal qual é.
O que se passa
na malfadada TV ocorre, igualmente, com obras literárias – algumas de soberbo
estilo – mas abordando temas asquerosos e torpes, rebaixando a dignidade humana,
ofendendo a mulher – mãe, irmã e esposa.
Refiro-me a
obras de valor, porque escritas em elevado estilo tornam-se ainda mais
perigosas do que as outras.
Bem avisa o
bom Heitor Pinto in "Imagem de Vida Cristã: "Como a
espada, quanto mais excelente, tanto é mais perigosa na mão do furioso; assim a
linguagem quanto mais elegante, tanto mais perigo traz consigo."
Não é de
admirar, portanto, com tantas imundices, tanta telenovela e livros perversos,
convidando à voluptuosidade, a nossa terra seja infestada de estupros,
violações e porca pornografia vendida sem o menor pejo.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, junho
de 2022
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