Humberto Pinho da Silva
Andava embebedo em velhos e poeirentos
cartapácios, em busca de assunto interessante para levar aos meus leitores,
quando deparo com antigo jornal, publicado em 1905 – 4 de março – “A Palavra”.
Abro cuidadosamente o papel amarelento e frágil,
queimado pelo tempo, e, estupefacto, encontro edificante notícia – sobre
caridoso rapazinho, filho do Visconde de Carcavelos.
Enternecido, emocionado, o repórter relata que menino, apesar de ser de tenra idade, já é reconhecido por generoso esmolar. Dinheiro que retira prodigamente do mealheiro.
Extremamente sensível, a criança rapidamente se
comove ao deparar com necessitados e miseráveis, que residem na cercania de sua
casa.
Tinha apenas cinco anos, quando ocorreu a
ternurosa cena, que descreve efusivamente:
Saíra o petiz em ameno passeio, acompanhado da
senhora de apelido Noronha. Perpassa por bazar que tinha brinquedo há muito
desejado pelo menininho, que logo o compra.
Todavia, ao sair do estabelecimento encara com
deplorável e trôpega velha, mal enroupada, pedindo com a mão estirada, encarecidamente
esmola.
Perturbado, fermente com tanta pobreza, o filho do
Visconde de Carcavelos, condoído, não hesita – arrasta a Senhora Noronha para o
bazar, e só sossega quando consegue desfazer o negócio.
Recuperado o desejado dinheiro, corre em demanda da pobre mulher, e deposita-lhe na mão todas as moedas que possuía.
O gesto nobre desse menino, fez-me recordar outro,
de Frei Bartolomeu dos Mártires, ocorrido na Terrugem (Oeiras), quando ainda
era pequerrucho.
Lavrava em Lisboa mortífera peste. Os pais, receosos,
assentaram que era melhor retirarem-se dos ares fétidos da Capital.
Estava o menino ao colo de sua mãe, à porta do
Casal que possuíam, quando se avizinha homem de aspecto estrangeiro, pobremente
trajado.
Alvoraçou-se o menino, esticando os delicados
bracinhos, e de fisionomia risonha, começa a bater palminhas de contentamento,
e só para depois da mãe dar a esmola.
Crianças há que parecem fadadas para auxiliarem os
necessitados; mas a inclinação natural é, quase sempre, devido à educação que
lhes foi administrada.
É dever iniludível dos pais incutirem, pelo
exemplo, os nobres sentimentos, dando-lhes sólida educação cristã, baseada
sempre nos divinos ensinamentos de Jesus.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, maio
de 2022
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