José Manuel
Existe um desenho animado
antigo famoso de um personagem que está no mar num pequeno barco, e vê um navio
gigante vindo na sua direção que vai possivelmente passar por cima dele.
Pois é, não consigo achar esse
desenho, mas passei por algo muito semelhante, e esse desenho me veio à memória
no ato do ocorrido.
Mais um voo para Manaus com
dois dias inativos, passeios exóticos e a Zona Franca toda nos esperando, numa época
em que o acesso a produtos internacionais só era possível indo a Manaus.
Isso ocorria por volta do ano
de 1973 e ir a Manaus era um presente dos Deuses, para quem gostava de fazer
compras de vestuário, principalmente americano, como jeans, ou mesmo itens para
casa, que nem no Rio ou São Paulo eram possíveis de serem encontrados.
Nessa época ficávamos muito
bem localizados no centro da cidade, perto de tudo, num pequeno, mas
aconchegante hotel. A VARIG, tinha um rodízio intenso de tripulações
pernoitando lá, e o dono desse hotel, o Cosme, fazia de tudo para nos agradar.
Eram voos diários de São Paulo
ou Rio, chegando, fora os voos internacionais a partir de Manaus com destino ao
México via Bogotá, ou mesmo Miami.
Então à época Manaus era um
"HUB" importantíssimo às operações da empresa, fora os voos
cargueiros.
E o Cosme, se virava "nos
trinta" para deixar todos satisfeitos, às vezes até “demais”, acabando por
proporcionar coisas exóticas e fora da nossa realidade jovem e impetuosa. Até hoje
vejo como milagre, não terem acontecido tragédias, como a que passo a relatar,
tema deste texto.
Certo dia, no lobby do hotel
éramos quatro conversando, quando ele apareceu com uma chave na mão perguntando
se não queríamos passear na lacha dele.
Como assim? Ele iria nos levar
para passear, como era de praxe em outros tipos de passeios?
– Não amigos, vocês podem ir
dar uma volta na minha lancha que fica ancorada em lugar tal, e nos entregou a
chave.
Não deu outra, saímos correndo para o tal lugar, um igarapé que tinha uma espécie de iate clube. Esse pernoite era com dois dias inativos e então nesse primeiro dia, navegamos pelos igarapés, aliás algo assim inesquecível de tão bonito o contato com a natureza bruta daquela região amazônica.
A lancha em questão era um
tipo 10 pés, mais ou menos três metros, com motor de popa e acomodação para quatro
pessoas confortavelmente.
Então no primeiro dia nos
igarapés foi tudo uma maravilha e retornamos ao hotel com a certeza de sermos
"pilotos de embarcação fluvial com carta homologada de navegação".
Coisa absoluta de jovens, não diria irresponsáveis, mas deslumbrados com aquele
mundo novo.
Ao entregarmos a ele no hotel
a chave da lancha, respondeu que como iríamos ficar mais um dia, ele iria
conosco no dia seguinte.
Não é difícil de adivinhar que
logo depois do café da manhã rumamos para o iate clube onde estava a lancha.
Começamos a passear de novo e
ele sugeriu nos levar até ao encontro das águas, no que prontamente topamos.
Apesar da lancha ser veloz,
isso demoraria mais ou menos trinta minutos, descendo o Rio Negro até ao Rio
Solimões. O Cosme então encheu o tanque da lancha e lá fomos nós rumo ao
infinito.
Com ele a bordo, habilitado e conhecedor
de toda aquela área, cruzamos o canal navegável a grandes embarcações do Rio Negro
e descemos até ao Solimões pelo lado direito do Rio.
Chegando ao Solimões com aquele espetáculo da natureza de poder sentir aquelas duas águas tão diferentes, sem se misturar nas nossas mãos, dobramos à direita e ainda navegamos por ele talvez uns 500 metros.
De repente levamos um susto
enorme com dois botos rosa enormes ladeando a lancha, que era menor que eles e
fazendo com que ela balançasse muito, com suas brincadeiras.
Saímos dali em desespero, e
conseguimos voltar ao Negro com relativa facilidade, mas quase com os calções
borrados.
Então, uma vez de volta ao Rio
Negro navegamos sempre pelo lado esquerdo do rio e na altura da cidade de
Manaus, começamos a cruzar de volta o canal navegável.
Exatamente no meio do canal,
ficamos à deriva pois o motor parou de funcionar. E agora?
À deriva significou que íamos
lentamente sendo levados pela correnteza de volta ao Solimões!
Tentativas e mais tentativas,
nos revezando para colocar a funcionar o motor de popa, quando vimos "aquilo"
preto e enorme como se fosse o Empire State, vindo na nossa direção. Foi aí que me lembrei do tal desenho!
É uma sensação horrível sentir
aquilo sem poder fazer nada, apenas continuar tentando fugir dali.
A nossa única esperança era a
de que o piloto do navio estivesse nos observando e fizesse uma manobra
qualquer, pois a nossa lancha não se deslocava nem para a esquerda nem para a
direita do canal, só para trás, reto com a correnteza, e com a proa crescendo!
E pelo que sentimos, o piloto não
nos via pois cada vez mais a proa do navio aumentava de tamanho e se aproximava
ameaçadoramente da nossa lancha.
Claro, entramos em pânico pois
o semblante do Cosme, acostumado que era com aquelas plagas hídricas, não
mostrava nenhuma razão para que permanecêssemos calmos.
Finalmente quando o navio se
encontrava a talvez uns 500 metros ou menos, o motor deu sinais de que iria
funcionar.
Bem, se estou aqui escrevendo
em 2022, é porque o motor voltou e lentamente fomos nos afastando do eixo do
rio e daquela previsão de tragédia iminente.
Título e Texto: José Manuel
– naquele dia, num dos maiores rios do mundo, perseguido por um monstro
daqueles senti mais um milagre acontecer na minha vida.
The Plaza, 5th Ave – Central Park
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