José Manuel
Como escrevi em texto
anterior, entre os anos de 1974 e 1980, o Boeing B-707, o flecha ligeira, ainda
reinava quase absoluto nas rotas principais que começavam a ser absorvidas
paulatinamente, de acordo com a chegada, pelo gordão DC-10, que iniciou a operação
em meados de 74.
Então, logo que cheguei à Rede
Aérea Internacional, RAI, e fixo nesse equipamento, voei até 1976 como Auxiliar,
sendo promovido a Supervisor de Econômica nesse ano, fiz maravilhosas
programações de dois a três dias inativos, pelo mundo afora.
Um dos voos que adorava era o Los Angeles, que nos proporcionava um pernoite fantástico em Hollywood, num dos hotéis mais icônicos da América. O ROOSEVELT, na Hollywood Boulevard.
Depois do meu início no mundo
dos sonhos, na Suíça, logo a seguir caí de paraquedas no coração do cinema
americano. HOLLYWOOD!
Mal podia acreditar que dormia
na mesma cama onde personalidades do cinema dormiram, tomava banho numa das
mais famosas piscinas das telas e pisava na calçada da fama, lendo com avidez
os nomes nas estrelas que pelos meus pés desfilavam.
Quando cheguei a primeira vez ao hotel, assim que desembarquei do ônibus, olhei lá em cima na montanha, a palavra HOLLYWOOD, e do outro lado da rua, bem na minha frente, o famoso cinema CHINESE THEATER, tive de me beliscar várias vezes para ter a certeza de que era ali mesmo que eu estava.
Nem em sonho poderia supor que um dia na vida estaria naquele lugar. E não foi um dia, foram anos viajando frequentemente para lá.
Já que Deus estava sendo tão
gentil comigo, então o melhor a fazer era exatamente aproveitar da melhor forma
possível aquela dádiva. A Disney, a
Universal Studios, o museu de cera Madame Tussauds, Knott's Berry Farm nas cercanias
do hotel, e mais uma dezena de atrações eram sempre uma opção, mas o que eu
gostava muito de fazer era andar de manhã bem cedo por aqueles bulevares bem
tratados, e as grandes caminhadas eram o meu prazer e toda a vez que lá ia, "escalava
as colinas de San Fernando Valley ou as Hollywood
Hills, me lambuzando de primeiro mundo com as casas maravilhosas que desfilavam
aos meus olhos sempre admirados pela arquitetura, ajardinamento das ruas e
beleza organizada desses lugares.
Voava muito para Los Angeles,
e o único problema era uma programação muito longa, normalmente com 12 a 13
horas de voo via Lima e um fuso horário de menos 5 horas, o que arrebentava com
qualquer um.
Nessa época, por volta do
final de 1979, estava noivo, com casamento marcado para dali a alguns meses, e
era bastante "na minha" além do que sempre fui, uma característica
muito própria, o que às vezes, gerava alguma má interpretação por parte dos
colegas.
E foi num voo desses, em que
aconteceu algo parecido com a minha auxiliar, por sinal uma garota bastante
interessante, e bonitinha.
Após o café da manhã, quando o Boeing começou a "descer escada" na aproximação de LAX e não sei explicar que tipo de procedimento estranho era aquele, mas que só acontecia naquela rota, sentei-me no crew seat para continuar a leitura do livro "Os meninos do Brasil", quando, por trás da poltrona, ouvi a pergunta se aquela escritora IRA LEVIN, era boa.
Era a bonitinha querendo saber
sobre o livro, porém, como a posição para responder não era das melhores uma
vez que ela estava atrás de mim em pé, respondi, talvez secamente, que IRA
LEVIN era um escritor americano. Um homem, não uma mulher!
Acho que não fui muito bem
interpretado e ficou um clima interessante, aliás dois.
O dela, que não gostou, e o
meu que gostei!!
Enfim, chegamos, e durante o
pernoite, no dia seguinte bem cedo saí para caminhar, quando encontrei com três
colegas da minha tripulação, voltando do café da manhã, ela, entre eles, que não
me deu a menor bola. Uma cena interessante, que não esqueço pois achei super engraçada
aquela reação.
Mais tarde um pouco, de volta
ao hotel, em plena calçada da fama, numa coincidência incrível, tropecei com a
Luiza Hauschild, amigona da minha amiga Nara, ambas de Novo Hamburgo, da qual
eu gostava muito. Claro, foi uma festa em plena Hollywood Boulevard, que até
hoje comentamos sobre essa faceta gostosa da vida.
Enfim, no dia seguinte
voltamos ao Brasil e por cinco anos não mais vi a minha auxiliar bonitinha,
pois era base São Paulo e eu base Rio.
Em 1983, já separado, fui
fazer uma programação para Paris, indo de extra crew e já na tripulação
do Kelmer, no gordão DC-10 quando para meu espanto a "bonitinha",
mais bonitinha ainda, fazia parte daquela tripulação.
Título e Texto: José Manuel – naquele
voo duas coisas estavam escritas nas estrelas: ter encontrado a Luiza, e estar
casado com a “bonitinha" há 38 anos! Abril de 2022.
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Um New York, um idiota e o fusca verde
As ervas da ira (parte III) – Gozador extrapolando limites
As ervas da ira (parte II) – Quando o demônio se incorpora
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As ervas da ira (parte I) – Um sonho quase desfeito
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