domingo, 24 de abril de 2022

[As danações de Carina] Pra sempre

Carina Bratt

Para sempre é um lugar que só existe dentro de nós, notadamente quando o amor chega de mansinho e sinaliza que não vai mais embora.
Cristiana Alves, em seu livro ‘Tatuagem.’


EU QUERO lhe entregar de vez o meu amor. Consciente que você não merece só isso, mas tudo aquilo que eu tenho de especial dentro do meu ser. Com ele, vai, de brinde, numa caixinha surpresa, a minha vida, meus dias porvindouros, meus desejos e ansiedades, meus medos e sobressaltos, meus entusiasmos e júbilos, bem ainda, as alegrias e os sonhos que juntei até o dia em que você se fez real como um poeta cheio de versos, mudando completamente o rumo da minha existência.

Eu quero, igualmente, me deleitar na sua paz. Me lambuzar inteira no seu suor, e me aplacar serena e calma, desse desejo voraz que me atormenta, como a viajante sequiosa que procura a fonte e retém nas mãos em concha a água pura que lhe matará o medonho da sede avassaladora. Quero deixar para trás, os dissabores das noites mal dormidas. De roldão, as horas que me encheram de tristezas. Esquecer, apagar da mente, deletar os momentos perniciosos e nefastos.

Ao seu lado, quero viver a plenitude de um querer que se fez real dentro do imaginário que eu idealizei, não para mim, para nós dois. Nós dois, literalmente, seremos um. Sei, agora, de consciência tranquila, depois de tantos anos, você se fez em mim como uma promessa eterna e regozijada de ventos aprazíveis e fagueiros. De igual modo, dentro de você, juro por Deus, me transformarei de menina moça e ingênua, para a essência vertiginosa de uma princesa, ou seja, abandonarei aquela adolescente que vivia adormecida num jardim ao acaso da sorte.

Jogada às traças, é bem verdade, não passava de flor sem viço. Todavia, prometo, me farei adulta, me olvidarei dos medos e me deixarei desabrochar. Embalada em fúria sofreada, na hora da entrega, quando você me enlaçar em seus braços, meu corpo inteiro se soltará como pássaros aprisionados. Nesse instante, uma voz maviosa gritará alto e em bom som, as efervescências do meu ‘eu’ escondido. No minuto seguinte, deixarei atonar aquelas loucuras da garota apaixonada e sem juízo que trago aqui no peito, contrapesando meus desvairos.

Aos poucos, num devagar sem pressa, tudo em nossa volta explodirá como a atômica de Hiroshima, animando, em estrondoso estardalhaço a nossa paixão engalanada, e acredite, entrelaçada, asilada, a um devaneio de proporções indescritíveis. Certamente, nesse pega me larga, me solta, me agarra, ouviremos em melodiosa sinfonia, a nossa cama em delírio se metamorfoseando na figura de um maestro encantado regendo a música dos amantes que nos aprisionará no para sempre de um ardor lindamente mavioso e efervescente.

Eu me farei sua, todinha e inteira, sem melindres, sem barreiras, esfomeada e aguerrida, afoita e intrépida dos seus desejos mais ardentes e pecaminosos. Me abrirei como portas fechadas, me escancararei como janelas oclusas deixando que o sol bonito bailando lá fora, adentre e aqueça os cantos e recantos sombrios que até então vegetavam em redor da sua solidão. Eu quero lhe entregar, de vez, o meu amor... para que você desfrute, ousado e valente, viril e destemido e, por fim, beba o cálice do licor açucarado que está guardado a sete chaves, esperando o momento de se dissolver, gole a gole, no profundo do seu paladar mais apurado.

Título e Texto: Carina Bratt. De Salvador, Bahia. 24-04-2022

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