Carina Bratt
“Por mais que eu grite, os ecos da minha voz não acordarão meus medos mais prementes”.
Pachá
DE REPENTE, é como se eu tivesse colocado as minhas digitais de volta no seu passado. E o nosso DNA se fundisse, de novo, numa emoção adormecida, trazendo à baila os momentos de uma felicidade plena vivida num ‘a dois’, envolvente e inesquecível, onde só o amor, o nosso amor, falasse mais alto e ditasse ordens expressas ao nosso mundinho reconditado, ordenando que os presságios maus e os dissabores perniciosos ficassem longe, permanecessem num distanciado seguro e, por mais que tentassem, não conseguissem chegar perto de nossos corações.
Bailou, na sequência, um tempo bom, um período grandioso de paz e tranquilidade, que avivou tudo aquilo que havíamos vivido em eras remotas. Eu renasci das cinzas espalhadas ao vento, como aquela ave eternizada pela Fênix mitológica. De igual forma, você se deu à nova vida, se refez, se repaginou, se amoldou numa reestruturação agradável de ser vista, como uma pintura deleitável e melodiosa, posta insinuante, num quadro emolduradamente bonito e mavioso, e me chegou assim, espantosamente elegante, vistoso e requintado, cristalino e nítido, bucólico e inconspurcado, como um sol agradável aos olhos de uma alegria que eu imaginava morta e enterrada.
No instante seguinte, você se abraçou a mim, me envolveu numa lentidão gostosa, ao tempo em que se fundia numa magia etérea, como cera derretida cobrindo nossas almas num amplexo inesquecível. A sua pele macia, de encontro a minha aveludada, deu evidências concretas de uma paixão doentia, a ponto de, num piscar de olhos ‘desadormecer’ e agarrar nossos desejos numa loucura irreal e fabulosa, uma neurastenia literalmente positivista. Penso, nesse momento, ter ouvido uma canção inesquecível, saudosa, acolhedora; uma canção que me embalou todinha por dentro.
Essa melodia me tirou do chão. Me fez sentir formigamentos adormecidos. Todo meu ‘eu’ interior, num estalo inesperado, sobreviveu ao regular atrito que se interpôs em nossos caminhos, desde a sua partida e, assim, do nada, com o seu reaparecimento, o destino acendeu uma luz. Nessa luz de intensa alucinação fulgurante, me refleti você, e, em você. Me vi, pois, por inteira, nua em pelo, desejosa e carente, pronta para à entrega, tipo assim, um presente embrulhado para deleite e espanto imediato. Do meu coração em brasa, se incandesceu as chamas de um querer de vontades elétricas retumbando como faíscas advindas de cada pedacinho existente em meu ser.
Me fiz mulher da planta dos pés aos fios de cabelos. Sem delongas e no alvoroço da sedução, partimos para o quarto. A cama revolvida, envolta ainda sobre meu sono precário, aninhava sobre os lençóis, os meus pesadelos mais secretos. Você me pegou, e vagarosamente me despiu das poucas vestes. Apenas a calcinha e o sutiã. Em seguida, igualmente a sua masculinidade se engrandeceu à descoberta e escalvada, isenta de pudores e vergonhas. Percebi, num relance assedado, a arma de artilharia pronta para entrar em ação. A espada desembainhada, desarroupada se debatia na convulsão que a tornava poderosa, à espera sequiosa para ingressar correndo na caverna dos prazeres.
Você me depositou na maciez do colchão. Fez isso de forma fagueira e compenetrada, como se eu fosse um cristal, e, antes do ataque, saboreou lembranças secretas e engoliu decisões irrevogáveis distribuídas em beijos ardentes e demorados. Foi, a meu ver insano, depois de tudo passado, uma guerra espiritual indescritível. Não sei quanto tempo depois acordei toda molhada, o desejo satisfeito escorrendo pela epiderme; a gruta dos desejos aquietada; dormente; todavia; despejando um líquido que lembrava curativos necessitando de trocas imediatas. Me esperneei, me virei pra lá e pra cá e, por fim, pulei. Saltei da cama vazia tentando pôr em organização o meu senso de ordem. Em direção ao banheiro, me vi e me senti como uma pomba pequena e indefesa, descrevendo círculos desconexos no ar.
Debaixo do chuveiro frio, me recompus a ponto de me sentir voltando, aos poucos, em direção à Terra. Me vesti com as roupas caseiras que ficam no cabide reservadas para qualquer emergência. Um silêncio embaraçoso reinou sem pedir licença, da cozinha ao quarto, passando pela sala e se sobrepondo, denso e metódico, por todos os cantos do meu apê. Corro à varanda. Espio para os prédios em frente. A maioria das pessoas ainda não se fizeram despertas. Desvio a atenção para o firmamento. Uma vaga faixa estreita de cor rosada limita o céu da linha no horizonte que se estende sobre o mar. E eu me sinto... eu me sinto V I V A E F E L I Z.
Título e Texto: Carina Bratt. De Sertãozinho, interior de São Paulo. 17-4-2022
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Mocinha, você arrasou... me amarrei na "arma de artilharia" para entrar em ação. Fiquei pasmo com a "espada desembainhada" depois de ter atacado a caverna dos prazeres. Bastante criativa. De zero a dez, nota MILLLLLLLLLLLLLLLL.
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza, de Viracopos, Campinas, SP.
Tive e tenho um excelente professor. 'Quem sai igual aquele que está todos os dias ao seu lado... ou aprende ou joga a toalha.
ResponderExcluirCarina Bratt
Ca
de Salvador, na Bahia