José Manuel
“NEXT TIME… JAIL... #!”
Sim, foi isso que ouvi,
precedido daquele sinalzinho feito com os dedos!
Foi o dia em que passei a maior
vergonha da minha vida, e dei graças a Deus de ter conseguido depois de muita
conversa não ter sido preso e ter evitado de envolver a empresa num triste
episódio. Mas fui fotografado e fichado nos arquivos da Sears Roebuck de
Hollywood em Los Angeles.
Ninguém merece tal insensatez!
Pela segunda vez estive a
ponto de ter perdido o meu emprego, por algo que não tinha nada a ver comigo.
A cena, um pouco pior, se
repetia como na parte I desta série que ora termina.
Esses cinco casos, até que
foram poucos, sendo apenas 5% de coisas ruins, perante um universo de 95% de
fatos bons e saudáveis em 25 mil horas de voo.
Era uma programação regular
com um voo para Los Angeles na década de 80, ainda com pernoite em Hollywood.
Sempre gostei de andar sozinho
principalmente em Hollywood, quando ia sempre preparado para caminhar muito e
bem cedo, por conta do fuso horário. Mas, gostava muito também de frequentar
lojas de ferramentas como a Sears e sua marca famosa, a Craftsman.
Então, naquele dia, desci do meu quarto para tomar café antes de me dirigir à Sears na Santa Mônica Boulevard, quando encontrei na mesma Coffee Shop, dois membros da minha tripulação.
E aí, fiz o que nunca fazia,
disse aonde ia e eles quiseram me acompanhar até a loja pois não sabiam onde
ficava localizada.
É um bom pedaço de caminho, do
hotel até lá e fomos andando naquela manhã ensolarada.
Antes, passamos em uma loja de
papel de parede, onde havia feito uma encomenda em voo anterior e depois
chegamos à Sears por volta das 10h30.
Uma vez no interior,
combinamos que cada um iria ver coisas de seu interesse e depois nos
encontraríamos na coffee shop da loja para beber algo antes de irmos embora.
E assim foi, nos encontramos
no lugar indicado, conversamos durante algum tempo e nos dirigimos à saída pela
Santa Mônica.
Assim que colocamos os pés na
rua, talvez uns cinco metros da porta dois seguranças da loja, nos abordaram
com a mão no ombro do colega que estava no meio entre mim e o outro,
solicitando que os acompanhassem de volta à loja.
Nesse momento, ele colocou a
mão na cabeça e tirou do bolso, uma peça da loja, dizendo que havia esquecido
de pagar!
Legal, e olha a situação que
me encontrei, na rua, sem pai nem mãe a quem recorrer!
Uma vez, na sala da segurança,
o rapaz não parava de se desculpar e foi advertido a se manter calado e olhar o
vídeo à sua frente.
Estava tudo ali e não tinha
como se desculpar. Mais uma vez, Deus estava do meu lado, quando propus que
cada um fizesse o seu roteiro na loja, e nesse momento do delito, ele se
encontrava sozinho
O terceiro colega era
professor de inglês e ficou mudo.
O causador, não falava uma
palavra de inglês e apenas gesticulava mostrando que tinha dinheiro para pagar,
olhando para mim o tempo todo.
Então, com muita calma, fui
contando aos dois seguranças que éramos tripulantes e que estávamos pernoitando
no hotel tal, e que o procedimento do rapaz não tinha desculpa, apresentando
nossos três crachás a um deles. O silêncio por parte deles era sepulcral,
talvez para nos deixar bastante nervosos, enquanto um deles preparava a máquina
e o lugar das fotos.
Eu estava gelado por dentro e talvez por fora pois enfrentei aquilo de cabeça erguida, sem demonstrar fraqueza alguma, o que talvez fosse isso que queriam.
Todo esse processo demorou
aproximadamente duas horas e depois de nos fazerem assinar uma declaração, ouvi
deles que como havia sido constatado que apenas um tinha cometido aquele delito
e pela veracidade das minhas informações, me colocando ao dispor deles
inclusive, a partir daquele momento estávamos liberados, mas sem esquecer que
estávamos fichados nas lojas Sears, e que numa próxima vez, seria cadeia, sem
dúvida.
Saímos de lá e fui mudo até ao
hotel, prometendo a mim mesmo nunca mais compartilhar meus programas com
ninguém.
Aos poucos fui me recuperando
do torpor em que me encontrava e da vergonha por que havia passado, dando
graças a Deus de não ter sido muito pior, com uma corte pela frente e a perda
do meu emprego.
Anteriores:
As ervas da ira (parte IV) A delinquência nunca compensou
Ira Levin é um homem, um escritor
Um New York, um idiota e o fusca verde
As ervas da ira (parte III) – Gozador extrapolando limites
As ervas da ira (parte II) – Quando o demônio se incorpora
Eu, a Panair e o assombro das imagens
A Pedra da Gávea e o voo de Miami
As ervas da ira (parte I) – Um sonho quase desfeito
Os números esquecidos, a realidade e as consequências
As ervas da ira. (Prólogo)
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