terça-feira, 18 de janeiro de 2022

[Estórias da Aviação] As ervas da ira. (Prólogo)

José Manuel

Nem sempre as memórias escritas são felizes, agradáveis ou engraçadas como gostaríamos, porém, são memórias, aconteceram, são reais, e como tal devem ser escritas. São um idioma especial represado que precisa fluir livremente. As boas vão conosco para a eternidade, e as más ficam por aqui registradas, para servirem de exemplo às novas gerações, para que não mais aconteçam.

Com este texto, aqui início uma nova série dentro do que já foi publicado, apenas complementando a continuação dos textos "Memórias".

"AS ERVAS DA IRA" divididas em cinco partes, para que o teor único de cada uma possa ser mais facilmente compreensível, serão sempre intercaladas, com textos sobre outros assuntos vivenciados.

São fatos, que apesar de tristes aconteceram e estão na minha memória. Foram poucos, num universo de 32 anos, mas também serviram para alicerçar meu crescimento pessoal e profissional, e por isso os considero importantes, a ponto de torná-los públicos. 

Provavelmente, muitos talvez tenham passado por algo semelhante e ao lerem estas linhas não gostem dessas recordações. Servem para mostrar e desmistificar que a nossa vida não foi só glamour, como alguns apregoam. 

Vida que segue!

Uma das coisas ruins que topamos durante a nossa vida, são as chamadas ervas daninhas, que de vez em quando se apresentam à nossa frente, ao nosso lado, na terra que cultivamos, como se fossem uma provação que teremos que lidar e saber como sobreviver a uma verdadeira peste. Todos passam por isso em maior ou menor grau, e o interessante é ter sabido contornar esses problemas sem que tenhamos sido contaminados ou envolvidos irremediavelmente por esse tipo de parasitas. É aí que reside a sabedoria humana.

Tenho um quintal e por mais que mande limpar com recorrente despesa, elas teimam em desabrochar, ao menor sinal de chuva, para meu desespero visual.

O nome não poderia ser mais adequado, pois se sobrepõe às belas flores, aos melhores alimentos, às mais deliciosas frutas, como a dizer, vocês são belos, gostosos, mas eu posso manipular vocês, como e quando eu quiser!

No momento em que escrevo, observo a pessoa que contratei para "amenizar" o meu mundinho, ainda que seja com prazo de validade, e posso ver o quão difícil e exaustivo é esse trabalho, e pior, se estiver sob sol escaldante como agora.

Assim é com toda a nossa existência, e o “sol escaldante“ eram nossas condições no trabalho extenuante, difícil, a bordo.

Quando menos se esperava topávamos com essas ervas à nossa frente, e pior era quando se valiam de posições funcionais estratégicas, um tipo de improbidade privada, transformando parte da nossa vida num inferno, por horas, dias e até anos.

Em textos anteriores, venho dando pinceladas tragicômicas para amenizar algo muito, muito sério, que ocorria com determinado funcionário da empresa que usando de seu poder manipulador de escalas, usava colegas incautos e suas programações, a fim de auferir lucros, pois esse esquema envolvia valores e era absolutamente uma infração grave, pelo uso indevido de suas atribuições, tipo uma mistura de corrupção passiva e ativa.

Obviamente, também lesava a empresa colocando-a em xeque em algumas situações especiais.

Fui registrando a cada texto, o bullying referente a esse esquema, que sofri por parte dessa erva daninha, péssimo colega, que trabalhava na escala de Comissários, e que topei logo no começo de minha carreira de aeronauta, perdurando por "dez" anos seguidos trazendo mal-estar, dores de cabeça e prejuízo psicológico não só a mim, como a outros colegas.

Uma descrição interessante de um profissional manipulador é a da psiquiatra americana Abigail Brenner. Na visão dela, “o abusador entende que manipular o outro é uma ação inevitável e imprescindível, já que só consegue enxergar a si e as próprias demandas."

Todos sabem a quem me refiro, pois o mau elemento era bem conhecido pelas trafulhices, mas para nosso desespero, nada lhe acontecia, pois a quem era subalterno, certamente não tinha a menor ideia do que ocorria com frequência, até ao dia que alguém com coragem, colocou um ponto final na trajetória do meliante.

Título e Texto: José Manuel, janeiro 2022

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O voo 100, o apartamento e Lisboa 
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A chegada do Jumbo e o bullying finito 
O gordão de nariz em pé 
A primeira greve de fome em 2013 

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