quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

As elites e o povo


Henrique Pereira dos Santos

De repente, não mais que de repente, aparecem as coisas habituais "das pessoas do Porto" sobre como Rio era horrível, tiranete e detestado (o editorial de Manuel Carvalho no Público de hoje é inacreditável).

O mesmo aconteceu com Margaret Thatcher (em outra escala, evidentemente, não estou a comparar Rio a Thatcher, estou a comparar a conversa amarga dos seus inimigos políticos) e, em Portugal, o clássico é Cavaco Silva ("não é exemplo para ninguém", como disse Costa, convencido de que estava verdadeiramente a exprimir um consenso generalizado no país, apesar de ser o político com mais maiorias absolutas no país).

Nada me liga a Rui Rio, por quem não tenho qualquer especial afeição, mas continua a parecer-me estúpido que haja tanta gente que pretende explicar aos que não são do Porto como Rio era um nazizinho detestado no Porto: o homem ganhou três eleições e não me consta que nenhuma delas tenha sido fraudulenta.

Há uma quantidade enorme de gente, com acesso aos jornais, televisões e salões da gente "bon genre, bon chic" que conta no país (acham eles) que na verdade se está nas tintas para o que pensam as pessoas comuns, apesar de estarem sempre a falar em seu nome (como eu gostava de um dia ouvir um jornalista perguntar a Catarina Martins por que razão fala em nome do povo quando não vale mais de 10% dos votos desse povo) e que, por isso, acham Rio (como antes Cavaco, ou Trump, ou Bolsonaro) completamente imprestáveis para o exercício do poder, apesar de ganharem eleições.

Vejamos, eu acho Costa um péssimo primeiro-ministro, um tiranete sorridente, desde que não contrariado, mas se no Domingo ganhar as eleições a única conclusão que eu posso tirar sobre isso é que não estou alinhado com a maioria dos eleitores.

Não é por ter a opinião que tenho sobre Costa que vou tentar demonstrar que as pessoas que votam nele têm qualquer deficiência congénita que as impede de ter o voto esclarecido que me pareceria evidente e, muito menos, tentar demonstrar que o homem é detestado no país e, mesmo assim, ganha eleições.

As elites, pelo menos em Portugal, têm uma enorme dificuldade em lidar com as derrotas, aceitando-as como aquilo que são e vivendo tranquilamente com o facto de na vida se perder e ganhar, a maior parte das vezes por responsabilidade própria, outras vezes pelas circunstâncias.

É a vida.

Título e Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 26-1-2022

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