Péricles Capanema
Um intelectual público abre dissidência.
Verifiquei depois de pesquisa
rápida que o mencionado artigo publicado por ele no WSJ é síntese (resumão) de
trabalho mais extenso e circunstanciado postado anteriormente, 10 de dezembro,
em site de estudos especializado. A mais, a mesma matéria vem sendo tratada
pelo autor em diversos órgãos de divulgação. Enfim, ele tem uma opinião bem
fundamentada e a vem divulgando ativamente. Breve, está em campanha. Afã
especialmente dirigido a público que influencia de forma relevante os Estados
Unidos — políticos, homens da academia, executivos, jornalistas.
Existe crise grave na China.
Reconhece Thomas J. Duesterberg, suas opiniões não são consensuais: “O
público em geral, e aqui incluo os líderes da opinião política e os analistas
do governo, via de regra não entendeu ainda a gravidade do perigo posto pela
crise econômica da China. Minha análise vai por outro caminho”. De
outro modo, ele acha que a crise é profunda e vai deixar sequelas grandes.
Desconhecê-la seria quase suicídio. Não a aproveitar, imensa tolice.
Mais estatismo, mais repressão, menos liberdade.
Para enfrentar a crise, o PCC (Partido
Comunista Chinês), sustenta Duersterberg, está abandonando o modelo “socialista
de mercado” e adotando outro, mais estatista, baseado nas estatais, com maior
repressão política. Enfim, menos abertura, fechamento na economia e na
sociedade. Duersterberg julga que referida direção trará diminuição do ritmo de
crescimento chinês, talvez até mesmo uma recessão.
Pão versus liberdade.
Aqui segue o miolo da tese que advoga: “Se os crescentes problemas com o atual modelo econômico chinês trouxerem a diminuição do ritmo de crescimento ou até a recessão na China, teremos impactos fortes sobre os Estados Unidos e seus aliados de duas maneiras importantes. Em primeiro lugar, dado que a economia da China é a segunda do mundo (em alguns aspectos, a primeira), e tem sido motor de crescimento para economias na Europa e no restante da Ásia, crescimento menor ou recessão na China acarretará provavelmente diminuição do crescimento no mundo ou até a recessão. Em segundo lugar, como o crescimento tem grande significado na China — justifica o sistema autoritário de governo — significativa diminuição no índice de crescimento ou recessão pode trazer instabilidade política. Considerando a retórica nacionalista da China em relação a Taiwan, poderia a instabilidade política, por sua vez, ser causa de arriscadas atividades militares que desembocariam em confrontação com países de mercado livre. Da perspectiva dos Estados Unidos, a diminuição do ritmo de crescimento da China poderia exacerbar as já sérias tensões comerciais e econômicas, sobretudo se as forças nacionalistas na China escolherem os Estados Unidos como bode expiatório para seus problemas internos”. Neste ponto, Thomas Duesterberg teme revoltas internas na China: “De outro modo, o derretimento econômico potencialmente ameaça o pacto social implícito na China entre governantes autoritários e população sossegada”. Simplificando, há um pacto tácito, a população aceita não ser livre, se houver melhoria de vida. Não havendo mais melhoria de vida, quererá de volta a liberdade.
Discernimento do perigo.
Aqui surge a proposta política do articulista. Diante dos problemas econômicos
chineses, que reverberam no ânimo da população, os Estados Unidos e seus
aliados devem endurecer o relacionamento comercial, limitar o acesso chinês à tecnologia
e financiamento ocidentais, bem como impor sanções econômicas por causa da
violação de direitos humanos. E assim, propõe ele, é hora de aproveitar com
desembaraço os instrumentos de que dispõem os Estados Unidos e aliados para
proteger as economias ocidentais e, ao mesmo tempo, forçar rumo menos nocivo da
política chinesa. Entre tais instrumentos, divulgar mundo afora que a economia
chinesa está enfrentando dificuldades das quais não será fácil escapar. Resta
saber se os governos ocidentais estão dispostos a aproveitar a ocasião propícia
para ação que decorre do quadro desenhado pelo articulista do WSJ. Tenho minhas
dúvidas.
Lucidez corajosa.
Admito, o quadro pintado por Thomas Duesterberg pode ter carências e
imprecisões. Importa pouco. Prevalece a constatação animadora: um intelectual
público de expressão batalha nos Estados Unidos para que o país tenha maior
consciência dos perigos que o ameaçam e tome logo medidas preventivas eficazes
para manter abertas no futuro, no mundo inteiro, as portas da liberdade e da
prosperidade. Portas abertas inclusive, e de forma especial, para a população
da China. Em suma, suas opiniões esclarecedoras, raras e corajosas, desvendam
enigmas. Merecem não só atenção e estudo, postulam a mais ampla divulgação.
Título e Texto: Péricles
Capanema, ABIM,
28-1-2022
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