domingo, 23 de janeiro de 2022

[As danações de Carina] Sob a sombra de antigas mortes o silêncio se deitou esquecido

Carina Bratt 

AMIGAS, ACREDITO GENUINAMENTE que muitas de vocês ainda não se esqueceram daquela filha maravilhosa, que amava os pais, uma jovem bela e rica, que foi criada com todo amor, carinho e dedicação, sem jamais ter ‘pegado no pesado’, tendo em vista, desde os primórdios da infância (nasceu, como se costuma dizer, ‘com o bumbum virado pra lua’), e, anos depois, em fase adulta, aos 18 anos (parida em 3 de novembro de 1983) se transformado numa pedra de tropeço, ou melhor, na maior desgraça que uma mãe poderia ter colocado para fora de suas entranhas. Se foge à memória me permitam refrescar as ideias para que consigam entender onde estou querendo chegar. Falo de uma doença maligna chamada Suzane von Richthofen. 

Essa moça, juntamente com seu namorado, Daniel Cravinhos, de 21 anos e o cunhado (outro monstro infame), batizado Cristian Cravinhos, de 26, se juntaram e mataram fria e barbaramente seus genitores, o casal Manfred Albert von Richthofen e a mãe Marísia von Richthofen enquanto dormiam em casa, uma linda e confortável mansão na rua Zacarias de Góes, nº 232, no bairro do Brooklin, uma área considerada nobre da Zona Sul de São Paulo. O pai da Suzane, na época, com 49 anos, desfrutava uma posição de destaque na Engenharia de Desenvolvimento Rodoviário SA (conhecida como DERSA). 

A mãe, dona Marísia, um ano mais velha que o esposo, psiquiatra igualmente famosa, se especializara em atendimentos à clientes ricos (ou a filhinhos de papai), rebentos que por não saberem onde gastar o dinheiro da mesada (igual a Suzane), se prestavam a arranjarem atritos e confusões para colocarem seus aparentados à beira de complicados ataques de nervos. O trio, como amplamente divulgado pela imprensa mundo inteiro, fez mais sucesso que a morte de Jesus Cristo a caminho do Gólgota. Suzane, Daniel e Cristian, no dia 31 de outubro de 2002 (exatos 20 anos passados) mataram a pauladas, o casal, enquanto dormiam. 

Crime estranho, esquisito, sem explicação plausível, visto pela ótica de um tribunal de hipócritas, de juízes com semblantes de urubus desorientados, banhados à luz de uma lei penal cega, comprada, falha, grafada num código penal frouxo e capenga, e cá entre nós, amigas e leitoras, se trocado por meia dúzia de ‘Lulas’ e ‘Sergios Moros’, teria mais valor na eterna Cracolândia um saco repleto dependentes químicos à caça de cigarrinhos de maconha e pinos de coca. Não vou entrar no mérito, até porque seria chover no molhado. Afinal vocês me perguntarão: aonde quero chegar? Simples, amigas. Suzane matou os pais, o irmão de Suzane, Andreas von Richthofen, enveredou pelos caminhos do álcool e das drogas, acabou ‘piradão’. 

Como tal, se viu internado numa clínica de reabilitação para santinhos do pau oco e até hoje está mais perdido que cego em tiroteio na favela de Paraisópolis. E a fortuna da família? Uma parte dela, os nobres advogados de Suzane meteram nos bolsos, se tornaram mais ricos, evidentemente. O que sobrou do trabalho suado de anos à fio do casal Manfred e Marísia, ficou para Andreas. Como o lindo e vistoso ‘garotão’, hoje, com 34 anos (nascido aos 26 de abril de 1987) até o momento não sabe onde tem a porcaria do rabo, tampouco distingue um gato morto de uma onça pintada trepada numa árvore de periferia, os avós foram nomeados como gestores, grosso modo, ‘curadores-curatelados’ do mocinho, até que ele cresça, se torne maior de idade e tome um pouco de juízo. 

Depois de toda essa conversa mole, onde vocês acham que pretendo pontofinalizar? Raciocinem, amigas: Suzane virou febre, grife famosa, se tornou artista de cinema, protagonista de um filme que embora tenha abalado o planeta, ainda conseguiu um bando de desajuizados que perdeu tempo em assistir aos longas. E daí? Matar os pais, dá IBOPE, vende jornais, revistas, fazem os noticiaristas televisivos entrarem no ar em edições extraordinárias, escritores medíocres se tornarem famosos e editores oportunistas empanturrarem os bolsos. E daí, insisto, pasmada e sem ação? Suzane, a estrela, teve o privilégio de ganhar dois filmes que viraram febre. Levou mais gente aos cinemas que defuntos de braços dados com a Covid-19 comendo pipocas e tomando refrigerantes sentados nos arredores de suas sepulturas. 

Faço alusão aos dramalhões ‘A Menina que matou os pais’ e ‘O Menino que matou meus pais’. Faltaria, a meu ver, um terceiro para fechar a série, cujo nome deveria ser bem chamativo. Tipo assim: ‘Como eu e meu namorado matamos meus pais, nos tornamos ricos da noite para o dia sem um pingo de esforço e ainda, de lambuja, demos uma banana bem gostosa para todo os otários’. Com exceção desse terceiro, que ainda não foi filmado (Suzane e os queridinhos Daniel e Cristian buscam incansavelmente um diretor), trago à baila observando que os dois primeiros estão disponíveis no YouTube e no Amazon Prime Vídeo, que diga-se de passagem, vende de tudo, inclusive meninas bonitinhas e infláveis, com rostinhos de Suzane, Pabllo Vittar e Gretchen a preços módicos. 

Figuras televisivas tipo as beldades do BBB-22, virgens e deleitáveis com traseiros empinados podem ser adquiridas por velhos tarados que desejem se tornar pedófilos sem que a polícia fique de ‘butuca’ em seus calcanhares. Com toda essa balela, quero chegar ao seguinte ponto. Amigas, lembram daquela jovem professora, a desconhecida HELEY DE ABREU SILVA BATISTA [ilustração]? Pois então! Ao contrário da sedutora e poderosa Suzane von Richthofen essa ilustre não despachou ninguém para ver o Altíssimo mais cedo. A mídia deu a ela igual tratamento como aquele dispensado a todas as celebridades que partiram, como a cantora Marília Mendonça, as atrizes Eva Wilma, Mila Moreira, Nicette Bruno e Mabel Calzolari. 

Uma semana depois, Marília, Eva, Mila, Nicette e Mabel foram para o espaço. Caíram no esquecimento. Saíram de cena. Em contrapartida, sequer os afamados diretores de plantão, os cineastas de reputação ilibada se deram ao luxo de produzirem um especial, um filme sobre as suas vidas. Sabem por quê? Porque elas não mataram ninguém. É o caso da desconhecida HELEY DE ABREU SILVA BATISTA, de 43 anos. Esse anjo iluminado se tornou uma mulher de fibra e de coragem. Além de nascida em berço simples, se fez honesta, de índole impecável, e, sobretudo, pautou em desenvolver o seu trabalho de forma digna a não envergonhar quem quer que fosse, incluindo aqueles que lhe deram o sopro benfazejo da vida.

Vocês, amigas, não se lembram dela. Heley não deu IBOPE. Não vendeu jornais, nem revistas, nem apareceu na televisão em horário nobre. Não virou mundana siliconada de peitinhos postiços de nenhum BBB. Heley, alguns poucos sabem o que fez e recordam dela com o coração em festa. Essa cidadã, mereceria, se não tivéssemos um bando de ratos de esgoto, de falsos brilhantes de lojinhas de R$ 1.99, o apogeu, a fama, um lugar ao sol. Se contássemos com a sutileza de diretores e cineastas de sangue nas veias, com visão de futuro, Heley ganharia um filme inteiro, só seu. Com certeza, colocaria nos bolsos as falsas 'Barbies' feitas nas coxas, beldades sem conteúdo, figuras grotescas que somente conseguem prestígio por disporem de corpinhos esculturais e perfeitos, rostinhos de princesas medíocres e, na hora da cama atingirem a nota máxima pelo desempenho do sexo imoral para quem lhes endereçarem sorrisos com dentes arreganhados. 

Heley de Abreu Silva Batista virou paladina. Mártir na pacata Janaúba, pequena cidade do município de Minas Gerais, quando num massacre ocorrido às 9h30m da manhã do dia 5 de outubro de 2017 (quase perto de completar cinco anos), salvou, dentro da Creche ‘Gente Inocente’ após o maluco Damião Soares dos Santos, de 50 anos, vigia noturno ter invadido as dependências do estabelecimento e ateado fogo em si mesmo, na professora Heley e em vários alunos. Tal infortúnio redundou na perda de 14 crianças, 2 adultos 3 outros professores, além de um rol enorme de feridos. Heley, à custa de sua própria vida, evitou o óbito de 25 inocentes.

Em conclusão: faria jus a um filme. Um longa-metragem. Qual o quê! Sua memória, seu esforço hercúleo, rendeu apenas um humilde e apagado ‘documentariozinho’ de curta duração, realizado pela inoperante TV ESCOLA. Perceberam? Se fosse o contrário, se Heley tivesse matado 14 crianças, por certo viraria um tremendo sucesso de bilheteria em todos os cinemas dos shoppings, não só aqui, países e rincões além-mares. Só queria deixar isso evidenciado: o tamanho da D I S T O R Ç Ã O. 

Título e Texto: Carina Bratt. Do Rio de Janeiro, RJ. 23-1-2022 


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