Se Paulo Freire ajudou a doutrinar milhares de comunistas nas salas de aula, Olavo de Carvalho ofereceu o antídoto com seu embasamento
Rodrigo Constantino
Desafio o leitor a encontrar
na grande imprensa a expressão “extrema-esquerda” em alguma reportagem. Será
como procurar uma agulha num palheiro, missão quase impossível. Já “extrema-direita” é mais fácil do que apontar corruptos no PT: há em abundância o uso
dessa expressão, e basta estar à direita dos tucanos para ser rotulado assim,
ou como “ultraconservador”. O viés esquerdista é escancarado na mídia.
Na Academia não é muito
diferente. Professores marxistas pululam pelos campi universitários,
enquanto raramente se escuta falar em Burke, Roger Scruton, Eric Voegelin ou
algum outro pensador mais conservador. Há uma quase hegemonia do pensamento
“progressista” nas salas de aula, e os próprios professores e reitores se
esforçam para manter essa situação, interditando o debate e asfixiando o
contraditório.
De tempos em tempos, porém,
surge um lobo solitário disposto a desafiar todo esse esquema, romper com a
espiral de silêncio que busca expurgar qualquer visão mais conservadora do
debate público. Roberto Campos é um nome que vem à mente, e que pregou no deserto
na década de 1990, combatendo quase que sozinho toda a esquerda nacional. Olavo
de Carvalho foi o grande nome associado ao conservadorismo que furou a bolha
esquerdista nos anos 2000.
Com colunas publicadas nos principais jornais e depois em seu próprio site, Olavo foi atraindo aos poucos uma pequena multidão de leitores capazes de desafiar o status quo graças a seus ensinamentos. Foi um dos únicos debatedores a falar do Foro de São Paulo, por exemplo, quando na imprensa os jornalistas tratavam o convescote comunista como paranoia de reacionário.
Olavo estudou o comunismo mais
do que qualquer outro pensador brasileiro, e ele mesmo foi comunista no
passado, o que lhe dava acesso ao modus operandi da turma.
Denunciar os métodos comunistas, que se adaptam com o tempo, foi sua principal
missão como comunicador. Seus adversários intelectuais, despreparados,
preferiam debochar do professor autodidata, ridicularizando a “teoria da
conspiração” da suposta ameaça comunista. Mas Olavo simplesmente ignorava o cerco
contra ele e seguia em frente, com fatos e argumentos. E o tempo é amigo da
razão.
Quando as portas na velha
imprensa se fechavam, Olavo criava as próprias alternativas. O site Mídia
Sem Máscara, o programa True Outspeak e depois seu curso
COF, que atraiu milhares de alunos todas as semanas, substituíram os
instrumentos tradicionais como meios de preservar seu espaço como educador.
Tentaram calar o “velho doido”, fizeram de tudo para ridicularizar seus pontos
de vista, e alguns mais ousados até aceitaram debater, na esperança de enterrar
de vez o “maluco”. Mas Olavo driblava cada obstáculo e continuava com seu
trabalho, cada vez mais influente.
Quem o conhece apenas pelas
redes sociais, pelo personagem desbocado e provocador, não faz ideia do intenso
trabalho de base criado pelo filósofo. Polemista nato, e também radical no
estilo, Olavo angariou muitos inimigos no caminho. Mas, na imensa maioria,
trata-se de figuras menores, sem qualquer estofo intelectual, que nunca
mergulharam de fato no pensamento do “guru de Virgínia”. Imitadores de focas ou
atores fracassados acharam que bastava usar rótulos para eliminar Olavo de
cena. Doce ilusão!
A ditadura do pensamento único foi sacudida por um sujeito sem diplomas
“respeitáveis”, e isso foi intolerável para essa patota arrogante
Um exército de soldados estava
sendo preparado em suas aulas, gente com bagagem para defender o legado da
civilização ocidental judaico-cristã, para combater o globalismo, para oferecer
resistência na guerra cultural em curso. Aos 74 anos, Olavo de Carvalho
faleceu, e um misto de ódio e júbilo tomou conta das redes sociais. Os
insignificantes socialistas comemoraram, como se a partida de Olavo
significasse a volta do silêncio do lado conservador. Não entendem que Olavo
criou um movimento, e que seu legado permanece. Olavo não morreu.
Basta ver a quantidade de
alunos seus escrevendo, fazendo filmes, comentando nas rádios ou em seus
programas próprios na internet, com grande audiência. Basta ver as editoras
disputando o nicho conservador de mercado, com inúmeras publicações de nomes à
direita, inacessíveis antes ao leitor brasileiro. Olavo não é o único
responsável por isso, claro, mas teve importante contribuição. Com coragem e
independência, desafiou todo um sistema podre, um clubinho que se fechou numa
redoma e impedia qualquer outsider de apresentar o
contraditório. A ditadura do pensamento único foi sacudida por um sujeito sem
diplomas “respeitáveis”, e isso foi intolerável para essa patota arrogante.
Mas eles terão de lidar com o
fato de que Olavo tem relevância, e eles, não. Gente medíocre, que preferiu a
segurança do carreirismo acadêmico ou midiático, que jogou de acordo com as
regras impostas pelo sistema e se blindou na repetição maçante de slogans marxistas,
agora observa com perplexidade a multidão de seguidores de Olavo. A esquerda
ficou preguiçosa, talvez pela própria posição dominante, enquanto os jovens,
ávidos por conhecimento, devoravam os livros recomendados por Olavo, assistiam
a suas aulas, pediam mais e mais conteúdo de qualidade.
Se Paulo Freire ajudou a
doutrinar milhares de comunistas nas salas de aula, Olavo ofereceu o antídoto
com seu embasamento, e hoje os filhotes de Freire não encontram tanta
facilidade assim ao propagar as falácias esquerdistas, pois há muita gente disposta
a e capaz de rebatê-las. Olavo ajudou como poucos a preparar esses “cruzados
intelectuais”, e não será suficiente um risinho nervoso de deboche ou o uso de
rótulos depreciativos para interromper seu trabalho. A direita acordou, e sua
voz será ouvida.
Título e Texto: Rodrigo Constantino, revista Oeste, nº 97, 28-1-2022
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