José Manuel
1980, e mais um voo para a
MIAMI de todos os sonhos, inclusive aquele em especial com dia inativo, piscina
o dia inteiro no gostoso hotel Howard Johnson, ou passeios como Key West e até
mesmo um Disney World, para brincar.
Dava tempo para tudo e mais alguma
coisa.
Eu, por exemplo, adorava esse
tipo de voo pois passava grande parte do tempo em lojas tipo Home Depot ou
pesquisando o fantástico mundo das ferramentas da Sears Roebuck, as imperdíveis
Craftsman.
Então, era alugar um carro, à
época super barato, e escolher o destino.
Havia também o
"milho" na churrascaria na Coral Way, ou no ponto final do metrorail,
ambos deliciosos e famosos pelo seu milho cozido, fora outras opções de carnes
e os famosos “pitcher” de cerveja americana bem gelada e superleve.
Um Passeio pelo Bayfront Park na Biscayne Boulevard com um jantar gostoso no Buba Gump, ou em Coconut Grove eram opções imperdíveis da noite de Miami.
E assim se passavam
praticamente três dias de um dos nossos melhores pernoites à época.
Claro, que não dá para
esquecer as nossas compras pessoais no Ventura Mall, Omni ou na Flagler com uma
volta pela Burdines, as exóticas Three Sisters, Mc'Grorys ou mesmo no Sorren do
Paul e Dea Mara, onde éramos muito bem recebidos, sem esquecer a indefectível
Duane Read, misto de farmácia e drogaria onde encontrávamos de tudo “health
care" e fechando com a ótima Radio Shack.
Depois disso tudo, malas cheias de novidades, era relaxar e vestir o uniforme para o retorno levado ao aeroporto pela van do Haroldo, brasileiro que falava mais do que a boca, "sabia de tudo" sobre o Brasil e a América, e sempre prestativo.
E assim chegávamos ao nosso
"Flecha Ligeira", B-707, que nos aguardava gelado, perfumado e com
todo o material em seus devidos lugares sem faltar nada.
Aí, era fazer o cheque geral,
logo a seguir o embarque, como sempre lotadíssimo.
Aliás a impressão que tínhamos
era de que só existia a VARIG no mundo, pois o que sobrava de gente "over
booking" é tema para um texto inteiro.
Decolagem perfeita, e tome
trabalho pois a alegria dos pax na volta era sempre contagiante depois de
passarem alguns dias no futuro.
Eu de supervisor na econômica,
voo tranquilíssimo aliás como todos, até os fretamentos da "Monark”, pois
nós sabíamos como levar um voo ao paraíso. Chegamos finalmente ao Galeão,
estacionamento na remota, para desespero da turma do " futuro" e após
o desembarque de todos, nós os tripulantes iniciamos a descida na escada
traseira e para surpresa minha cruzamos com ninguém mais do que o famoso ERCI,
para nós outros ninguém mais que o “Bunda de Madame”, fiscal aduaneiro temido
por todos e acompanhado por uma turma de fiscais. Achei estranho, mas me pareceu mais um
treinamento de rotina e fui embora.
Por volta de 10h30, dormindo
em outro planeta, o porteiro me puxou do espaço com um envelope da VARIG,
escrito “URGENTE". Abri, meio sonâmbulo ainda e não
acreditei..."favor comparecer com urgência à Diretoria do Serviço de
Bordo".
No ato fiquei lúcido e aquela
imagem cristalizada do Erci, me veio à cabeça. "Truta e da grossa"
pensei com os meus botões.
Nada a fazer, tomar outro
banho para acordar, me vestir e rumar para o Santos Dumont, a ver o que o
destino me esperava, mesmo num total bagaço.
Desembarquei do elevador no
terceiro andar e encontrei de cara com o Souza Carvalho (in memoriam), que já
foi colocando os pingos grossos nos is fininhos, assim na lata:
– VOCÊ E TODA A TRIPULAÇÃO DO
MIAMI ESTÃO DEMITIDOS!!
Claro que o Erci e seu faro
aguçado e conhecedor da buraqueira, encontrou tudo das ervas daninhas, que não
titubeavam em colocar seus colegas em altas frias.
Eu, que já era gato escaldado
em trutas aerotransportadas, fui para a sala indicada onde todos iriam ser
acareados e comecei a desenhar mentalmente, vício que adquiri em voos de grande
tormenta.
Estava desenhando quando
chegou o meu auxiliar EY novinho de internacional e recém-casado.
Foi um golpe só: Escute… você acabou de casar e não vai querer
se complicar não é mesmo?
Então entre naquela sala e
conte tudo o que você viu durante o seu plantão e enquanto eu dormia. Porque se
não fizer isso, sou eu que vou fazer. Entendeu?
Não deu outra, alguns minutos
depois, fui liberado sem ser importunado retornando ao planeta horizontal do
meu lindo apartamento.
Mais uma vez as ervas daninhas
se faziam presentes no meu cotidiano e encheram todos os buracos possíveis e
imaginários do avião com mercadorias do "futuro", o que levou alguns
naquele voo, de volta ao passado irreversivelmente. Ou seja, um voo maravilhoso
podia se tornar um pesadelo, dependendo da qualidade das ervas daninhas a
bordo.
Título e Texto: José Manuel
– depois desse evento, fiquei tão afiado em desenho mental, que apenas ao
assinar a folha de apresentação no Galeão, pelos nomes já iniciava um croqui a
futuro!
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Ira Levin é um homem, um escritor
Um New York, um idiota e o fusca verde
As ervas da ira (parte III) – Gozador extrapolando limites
As ervas da ira (parte II) – Quando o demônio se incorpora
Eu, a Panair e o assombro das imagens
A Pedra da Gávea e o voo de Miami
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