Humberto Pinho da Silva
Havia, na empresa onde trabalhei quase quarenta anos, o costume, enraizado na tradição, de não abandonar o local de trabalho sem o chefe do departamento, dizer "Podem sair!"
Ora, após a “Revolução dos Cravos" muitos
camaradas, confundindo liberdade com falta de educação, logo que os ponteiros
do relógio indicavam a hora da saída, vestiam os casacos e debandavam, sem
aguardarem a tradicional ordem.
Desconheço o que se passava noutros departamentos,
no meu, o chefe – que gostava de falar bonito – vendo a balbúrdia e sentindo-se
inerme, passou a dizer no final do serviço "Os bem-comportados podem
sair..."
Passaram-se mais de quarenta anos, hoje, ao ver
carros estacionados nos passeios, peões e automobilistas a desrespeitarem
semáforos e desrespeitos constantes à autoridades, fico a cogitar, de mim para
mim: as leis, os deveres, são só para os "bem-comportados".
Quem é cumpridor, leal e respeitador é taxado,
normalmente, por lorpa. Como se ser educado, cumpridor e respeitador, fosse
defeito. Defeito que pode levar os íntegros a Rilhafoles.
Estando a conversar com amigo sobre o assunto,
este saiu-se com boa: na sua firma há trabalhadores respeitadores e honestos,
mas também serelepes provocadores, que geram conflitos e desestabilizam.
Estes, raras vezes são repreendidos, nem sofrem processos disciplinares.
Todavia, quando o respeitador realiza infração,
é-lhe aplicado castigo severo.
Perguntei-lhe atónito: “Por que não lhe relevam a
falta?”
Fiquei varado ao escutar: "Dizem que é para
servir de exemplo para os indisciplinados!..."
Conclui-se: nos tempos que correm, ser bom,
obediente e educado, não só passou de moda, como passou a ser defeito crasso.
Assim caminha o mundo, com sociedade que inverteu
valores.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva,
abril de 2022
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Os amores de Salazar
Que ingratidão!...
Em ditadura ou democracia é mister ter "padrinhos"
Instruir é o mesmo que educar?
Uma parábola edificante
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