sábado, 26 de março de 2022

[Daqui e Dali] Instruir é o mesmo que educar?

Humberto Pinho da Silva

No meu tempo de menino e moço, asseverava-se que a maioria dos problemas que afligem as nações, eram causados pela falta de cultura dos povos.

Os políticos, em geral, afirmavam: se toda a juventude fosse à escola, instruída e diplomada, pensaria melhor e a geria ainda melhor.

Envelheci, a cabeça cobriu-se de finos fios de prata, mas ao dar a minha voltinha dos tristes, estupefato, verifico que os jovens, apesar de estarem mais instruídos, comportam-se tal qual como os semianalfabetos do meu tempo: berram estridentemente nos transportes públicos, penduram-se nos varões do metro, usam vocabulário ignóbil, são violentos, desrespeitadores e perversos, igual ou pior à geração boçal de outrora. Portanto, a instrução nada muda, nos modos, comportamentos e no caráter.

Pode, e ainda consegue, embora cada vez menos, melhorar o nível de vida das populações, mas não a educa.

Digo, cada vez menos, devido à abundância de licenciados. A lei da oferta e procura começa a trabalhar.

Em férias que passei em casa de meus sogros, em São Paulo, encontrei eletricista, que consertava o chuveiro elétrico. Reparou o operário no meu sotaque e entabulou conversa.

Confessou-me que era engenheiro eletrotécnico, mas como não encontrou melhor emprego, trabalhava numa oficina.

Em sapataria, nas cercanias do Viaduto do Chá, fui atendido por jurista!...

Em Portugal, não é raro deparar com licenciados a trabalharem em supermercados ou como balconistas

Há anos, o lixeiro, que recolhia o lixo da minha residência, dizia-se engenheiro!... Assim como o carpinteiro, de origem estrangeira, que reformou a minha cozinha.

Conversando, uma tarde, com jovem universitário, declarou-me dolorosamente: "muitas vezes é necessário omitir habilitações, para encontrar trabalho".

Se outrora bastava estudar para singrar, agora, se não for de família influente ou excecional, o único recurso é envolver-se em política. O antigo ministro Manuel Carrilho, em 2001, disse ao Diário de Notícias:  "É difícil encontrar áreas onde os jovens estejam mais bem instalados do que na política, aos vinte têm emprego, aos trinta já estão aposentados."

Dei tantas asas ao pensamento, que me esqueci de abordar o tema que pretendia expor: a razão dos jovens comportarem-se como os antigos analfabetos.

A razão é simples: não é a instrução que molda o carácter e o comportamento, mas sim a educação.

A escola ensina, mas não educa. Pode – o que não devia, – inculcar ideologias.

Quem educa, são os pais, os avós e restante família, algumas vezes a Igreja, mas, principalmente, as mães.

Como as mães, em regra, já não foram educadas – como podem saber, o que é educar?

Antigamente conhecia-se, pela educação, as classes sociais. Agora encontram-se infelizmente quase todas niveladas, não por cima, mas pela ralé. São os sinais dos tempos.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, março de 2022

Anteriores: 
Uma parábola edificante 
Como está ou como passa? 
Silvério está com a neura 
Dois exemplos de lares desfeitos 
Onde está Deus, que não nos acode? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-