Humberto Pinho da Silva
No meu tempo de menino e moço, asseverava-se que a
maioria dos problemas que afligem as nações, eram causados pela falta de
cultura dos povos.
Os políticos, em geral, afirmavam: se toda a
juventude fosse à escola, instruída e diplomada, pensaria melhor e a geria
ainda melhor.
Envelheci, a cabeça cobriu-se de finos fios de prata, mas ao dar a minha voltinha dos tristes, estupefato, verifico que os jovens, apesar de estarem mais instruídos, comportam-se tal qual como os semianalfabetos do meu tempo: berram estridentemente nos transportes públicos, penduram-se nos varões do metro, usam vocabulário ignóbil, são violentos, desrespeitadores e perversos, igual ou pior à geração boçal de outrora. Portanto, a instrução nada muda, nos modos, comportamentos e no caráter.
Pode, e ainda consegue, embora cada vez menos,
melhorar o nível de vida das populações, mas não a educa.
Digo, cada vez menos, devido à abundância de
licenciados. A lei da oferta e procura começa a trabalhar.
Em férias que passei em casa de meus sogros, em
São Paulo, encontrei eletricista, que consertava o chuveiro elétrico. Reparou o
operário no meu sotaque e entabulou conversa.
Confessou-me que era engenheiro eletrotécnico, mas como não encontrou melhor emprego, trabalhava numa oficina.
Em sapataria, nas cercanias do Viaduto do Chá, fui
atendido por jurista!...
Em Portugal, não é raro deparar com licenciados a
trabalharem em supermercados ou como balconistas
Há anos, o lixeiro, que recolhia o lixo da minha
residência, dizia-se engenheiro!... Assim como o carpinteiro, de origem
estrangeira, que reformou a minha cozinha.
Conversando, uma tarde, com jovem universitário,
declarou-me dolorosamente: "muitas vezes é necessário omitir habilitações,
para encontrar trabalho".
Se outrora bastava estudar para singrar, agora, se
não for de família influente ou excecional, o único recurso é envolver-se em
política. O antigo ministro Manuel Carrilho, em 2001, disse ao Diário de
Notícias: "É difícil encontrar
áreas onde os jovens estejam mais bem instalados do que na política, aos vinte
têm emprego, aos trinta já estão aposentados."
Dei tantas asas ao pensamento, que me esqueci de
abordar o tema que pretendia expor: a razão dos jovens comportarem-se como os
antigos analfabetos.
A razão é simples: não é a instrução que molda o
carácter e o comportamento, mas sim a educação.
A escola ensina, mas não educa. Pode – o que não
devia, – inculcar ideologias.
Quem educa, são os pais, os avós e restante
família, algumas vezes a Igreja, mas, principalmente, as mães.
Como as mães, em regra, já não foram educadas –
como podem saber, o que é educar?
Antigamente conhecia-se, pela educação, as classes
sociais. Agora encontram-se infelizmente quase todas niveladas, não por cima,
mas pela ralé. São os sinais dos tempos.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva,
março de 2022
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