Na semana em que o inquérito
inconstitucional completa seu terceiro aniversário, discurso de desembargador
viraliza e expõe profunda divergência entre a Magistratura e o STF
Caio
Coppolla
Nesta semana, congratulei o Ministro Alexandre de Moraes pelo aniversário do seu “filho”, celebrado dia 14 de março:
— Ministro, o Brasil acompanha
assombrado a sua desenvoltura ao cuidar sozinho dessa criança adoecida, que
apesar de todos os problemas de saúde não para de crescer e dar trabalho.
Por isso, doutor, meus
parabéns! Parabéns pelo aniversário do seu menino. Eu mal consigo
imaginar seu orgulho como pai… O seu orgulho como pai do “inquérito das fake
news” — o seu filho, que acaba de completar 3 anos.
Sabemos que o “pai biológico”
é o Ministro Dias Toffoli, mas, como ensina a sabedoria popular, pai é quem
cria. E foi o senhor que acompanhou tudo desde o comecinho: as primeiras ordens
judiciais pra excluir aqueles perfis chatos das redes sociais; a primeira
matéria censurada na imprensa — qual era mesmo o título da reportagem que o
senhor mandou tirar do ar? Ah, “O amigo do amigo do meu pai”.
Ministro, não se aflija, o
senhor foi um pai muito presente. Estava lá desde as primeiras brincadeiras de
cala-boca-não-morreu, acompanhou toda a fase de buscas e apreensões — como ele
adorava fuçar a vida alheia atrás de alguma coisa, não é?
E a primeira palavra, o senhor
se recorda? “Cumpra-se” — quem vai falar que ele não puxou o pai? Lembra
daquela vez que ele não conseguia entender de jeito nenhum o que era flagrante
permanente?
— O que é isso, papai? Eu
nunca vi nada parecido… — uma graça!
Além de presente, o senhor tem
sido um pai muito protetor, Ministro, do tipo “pai coruja”: ninguém consegue
chegar perto do seu filho, ninguém sabe nada dele, nenhuma informação. Mas o
pouco que a gente acompanha aqui de fora é de partir o coração: ele dando os
primeiros passos com o senhor segurando a mãozinha trêmula dele é fofo demais —
e nós sabemos o que se passa na cabeça de um pai, Ministro; é natural que o senhor
também tivesse as suas dúvidas e incertezas sobre o futuro:
— Será que vai dar pra prender
um jornalista?
— Será que vai dar pra prender um parlamentar?… Os amiguinhos dele vão aceitar?
Mas mesmo nos momentos mais
difíceis o senhor estava lá, impassível ao lado da sua criação, do seu legado,
do seu filho. Impossível esquecer a tentativa de tirá-lo do senhor
à força; quando aquela moça procuradora exigiu a guarda do seu filho, alegando
que ela tinha direito de participar da sua criação, que esse era o devido
processo legal — ainda bem que senhor não dá a menor bola pra esse
tipo de coisa.
E quer saber? O senhor está
certo, doutor! Vai ligar para o que as pessoas pensam?! Ainda mais essa gente
maldosa, que acha que pode sair por aí criticando o senhor e as decisões do seu
Tribunal — quem eles pensam que são? Donos do país?! Não passam de meros
eleitores.
A propósito, Ministro, falando
nisso, não sei se o senhor reparou, mas olha que coincidência: faz 1 ano que
mais de 2 milhões e 700 mil brasileiros subscreveram aquele abaixo-assinado
pedindo pro Congresso Nacional analisar o pedido de impeachment em
seu desfavor. Imagina um absurdo desses! Impedir um pai tão zeloso, como o
senhor, de continuar cuidando do próprio filho — este país
está de ponta-cabeça.
Tenha certeza de que o Brasil
inteiro sabe quem é o paizão orgulhoso do inquérito das fake
news
Ainda bem que aquele rapaz do
Senado, o Pacheco, é seu amigo e engavetou essa história toda. Eu até tentei
mandar uma mensagem de agradecimento em seu nome, Ministro, mas algo grave deve
ter acontecido, porque as redes sociais do Pacheco estão todas bloqueadas. Acho
que é caso de avisá-lo, deve ter um monte de gente que quer elogiar o trabalho
do Senador, mas não consegue acesso a ele.
Mas me perdoe a digressão,
Ministro Alexandre de Moraes. Sei que o que realmente importa agora é marcar
essa data, o 14 de março, em homenagem ao senhor e ao seu rebento.
Essa data que, sem querer, passou batida pela grande imprensa — como andam
distraídos os jornalistas nesses últimos tempos…
Mais uma vez, parabéns pelo
aniversário de 3 anos do seu filho, Ministro! Tenha certeza de que
o Brasil inteiro sabe quem é o paizão orgulhoso do inquérito
das fake news.
Um voto divergente
Também nesta semana, viralizou
nas redes o discurso contundente do desembargador Fernando Carioni ao deixar a
presidência do TRE de Santa Catarina. Embora o magistrado tenha — elegantemente
— omitido seus destinatários, sua crítica tem endereço certo:
“Precisamos repensar a
Justiça Eleitoral. Precisamos definir a sua finalidade, inclusive à vista da
diminuição de suas competências legais. Precisamos servir com responsabilidade
e em estrita observância à Constituição, a da República e tão somente”.
“Juízes não são eleitos.
Quando eles usurpam as funções das autoridades eleitas, estão na verdade
fraudando a democracia representativa e o voto popular. Mas os juízes em
tribunais ativistas não estão nem aí para o voto da maioria da população.
Aliás, eles gostam de ser contramajoritários, outro discurso enganador do
ativismo judicial. O tribunal ativista não quer aplicar a lei e sim impor sua
visão de mundo, suas convicções ideológicas sobre aborto, drogas, segurança
pública, algemas e até sobre urnas eletrônicas. Se a lei não coincide com essas
convicções, pior para a Lei”.
A pertinência das observações
do desembargador dispensa comentários; a ausência de repercussão desta fala
entre os órgãos do consórcio de imprensa também. Mas, ainda
que a divulgação da mensagem esteja aquém da sua acuidade e relevância, as
colocações do doutor Fernando Carioni expõem profunda — mas ainda velada —
divergência entre a Magistratura e a atual composição do Supremo Tribunal
Federal, símbolo máximo do ativismo judicial e do atropelo constitucional no
país. Que o exemplo corajoso do desembargador, pioneiro em seu protesto, seja
seguido por outros meritíssimos, cujas vozes não podem mais calar sob pena de
consentir.
Título e Texto: Caio
Coppolla, revista Oeste, nº 104, 18-3-2022
Caio Coppolla é
comentarista político e apresentador do Boletim do Coppolla,
na TV Jovem Pan News e na Rádio Jovem Pan
Leandro Ruschel
ResponderExcluir@leandroruschel
Qual seria a reação da militância de redação se o presidente decretasse banimento de um jornal que fosse crítico a ele?
Mandasse prender um jornalista critico seu e fechasse rede social que se negasse a deletar o perfil desse jornalista?