Vitor Cunha
Quero deixar a todos os
leitores um sincero pedido de desculpa. Apercebi-me do risco — diminuto, eu sei
— de ter, ao longo dos anos, escrito qualquer coisa que fizesse um de vós
pensar. Pior que isso, há o risco de ter influenciado alguém, o que, por remota
que seja tal hipótese, é uma perspectiva demasiado assustadora para ser
encarada de ânimo leve. No entanto, acho difícil que alguém ligasse ao que
alguma vez escrevi — eu não ligaria —, restando-me esse alento altamente
provável de primum non nocere.
Os últimos dois anos têm sido
muito duros, com o aumento acentuado da submissão europeia à irrelevância no
mundo e com a transformação definitiva de Portugal numa cleptocracia de pseudo-artistocratas
falidos do partido único (eu sei que há vários, até mais que antes, mas salvo o
PCP são todos iguais em… essencialmente tudo). Ideias peregrinas como a
democracia têm sido moldadas até à total ostracização dos marginais da nova
religião jacobina, aquela que é propagada diariamente na RTP, na SIC, na TVI,
na CMTV, no Jornal de Notícias, no Público e n’O Observador.
Com os média a fazerem o pleno da viragem do apocalipse por covid para o apocalipse por russos, testemunhei que nós, os poucos que mantêm uma certa calma na confiança da desgraça que é (e sempre foi) a condição humana, perdemos qualquer lugar no mundo. Às tantas, nunca o tivemos. A populaça está de forquilhas na mão a exigir uma coisa qualquer — prostrar-se perante Biden, a Oprah e qualquer ideia de “ocidente” baseada em humanos como produtos comerciais através de redes sociais que nos impinjam mais merdas inúteis made in China (but “designed” in California!).
É para ir para a guerra pelo
“ocidente” e pela “autodeterminação”. É, mas eu estou fora. Sei que tenho que
escolher, e fiz a minha escolha: o meu lado é aquele em que vocês não
estiverem. Quereis acreditar que o mal é o Putin e não um Putin,
que o mal é o Hitler e não um Hitler, be
my guests, escolham o vosso veneno. Eu escolhi o meu: onde vocês não
estiverem, é onde eu estarei. Nada muda porque nada é suposto mudar: o mal
somos nós e a salvação é individual. Assim me confesso: perdoai se influenciei
um único de vós.
Agora vou, mas é para a praia,
enquanto há praia. Boa sorte para vós, mas, sobretudo, boa sorte para mim.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 23-3-2022
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