quarta-feira, 23 de março de 2022

Então… é isso

Vitor Cunha

Quero deixar a todos os leitores um sincero pedido de desculpa. Apercebi-me do risco — diminuto, eu sei — de ter, ao longo dos anos, escrito qualquer coisa que fizesse um de vós pensar. Pior que isso, há o risco de ter influenciado alguém, o que, por remota que seja tal hipótese, é uma perspectiva demasiado assustadora para ser encarada de ânimo leve. No entanto, acho difícil que alguém ligasse ao que alguma vez escrevi — eu não ligaria —, restando-me esse alento altamente provável de primum non nocere.

Os últimos dois anos têm sido muito duros, com o aumento acentuado da submissão europeia à irrelevância no mundo e com a transformação definitiva de Portugal numa cleptocracia de pseudo-artistocratas falidos do partido único (eu sei que há vários, até mais que antes, mas salvo o PCP são todos iguais em… essencialmente tudo). Ideias peregrinas como a democracia têm sido moldadas até à total ostracização dos marginais da nova religião jacobina, aquela que é propagada diariamente na RTP, na SIC, na TVI, na CMTV, no Jornal de Notícias, no Público e n’O Observador.

Com os média a fazerem o pleno da viragem do apocalipse por covid para o apocalipse por russos, testemunhei que nós, os poucos que mantêm uma certa calma na confiança da desgraça que é (e sempre foi) a condição humana, perdemos qualquer lugar no mundo. Às tantas, nunca o tivemos. A populaça está de forquilhas na mão a exigir uma coisa qualquer — prostrar-se perante Biden, a Oprah e qualquer ideia de “ocidente” baseada em humanos como produtos comerciais através de redes sociais que nos impinjam mais merdas inúteis made in China (but “designed” in California!).

É para ir para a guerra pelo “ocidente” e pela “autodeterminação”. É, mas eu estou fora. Sei que tenho que escolher, e fiz a minha escolha: o meu lado é aquele em que vocês não estiverem. Quereis acreditar que o mal é o Putin e não um Putin, que o mal é o Hitler e não um Hitler, be my guests, escolham o vosso veneno. Eu escolhi o meu: onde vocês não estiverem, é onde eu estarei. Nada muda porque nada é suposto mudar: o mal somos nós e a salvação é individual. Assim me confesso: perdoai se influenciei um único de vós.

Agora vou, mas é para a praia, enquanto há praia. Boa sorte para vós, mas, sobretudo, boa sorte para mim.

Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 23-3-2022

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-