Uma dessas ações é a retirada de strogonoff do menu de um restaurante
Camila Maciel
Foto: Fabrizio Bensch/Reuters |
O advogado Danilo Kozemekin é
brasileiro, neto de russos, vive em São Paulo e observa aumento crescente de
ataques racistas. Ele conta que foi criado pelos avós e compartilha valores e
práticas da comunidade russa, sobretudo em torno da convivência na igreja
ortodoxa. “O que mais me assusta e me deixa bem triste é que as ameaças
começaram nas igrejas”, relata. Danilo acrescenta que foram deixadas mensagens
na caixa postal com referências nazistas. “Diziam que nós merecíamos ter
morrido na Segunda Guerra Mundial”.
Para Vanessa Matijascic,
professora de relações internacionais do Centro Universitário Armando Alvares
Penteado (Faap), é preciso diferenciar sanções econômicas e políticas
relacionadas à guerra. “Essa dicotomia é muito problemática, porque você simplifica
algo, você extrapola uma esfera que é intervenção política de determinado
presidente, em determinado tempo, e vai atribuir isso a todas as expressões
russas, a todo o povo russo indiscriminadamente. Não dá para pegar um evento
político e, a partir disso, transformar todas as outras esferas numa
penitência”, afirma.
A professora chama a atenção para generalizações que podem se aproximar de práticas discriminatórias históricas, como as que ocorreram no período do nazismo e fascismo. Vanessa avalia que essas posições preconceituosas incorrem na mesma sistemática. “Eu acredito que isso tem a ver com o contexto mundial, um pouco antes da pandemia, de ascensão de grupos, em determinados países, de extrema-direita ou essa extrema-direita ganhando um pouco mais de espaço”, alerta.
Danilo Kozemekin lembra que,
apesar de as ameaças de agressão terem aumentado no contexto da guerra, elas já
ocorriam anteriormente por meio das redes sociais da comunidade russa. É o que
ele chama de russofobia. “Dentro da cultura pop, por exemplo, o russo sempre é
o mau, o vilão”, exemplifica referindo-se aos filmes, sobretudo do período da
Guerra Fria entre os Estados Unidos e a Rússia. Vanessa acrescenta outros
elementos históricos, especialmente no século 20, como a propaganda nazista de
Adolf Hitler.
A professora ressalta o papel
da imprensa, no sentido de mostrar diferentes posições para que o consumidor da
informação possa formar sua opinião. Ela lamenta que por se constituírem como
empresas, muitas vezes isso não ocorre. Vanessa explica, por exemplo, a partir
da corrente chamada de Realismo em Relações Internacionais, que é natural
entender a intervenção russa na Ucrânia, já que esse país começou com o pedido
para entrada da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan.
Ela reconstrói a geopolítica
do pós-guerra, em 1945, e dos acordos que se sucederam, entre eles a formação
do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para explicar sua opinião. “No
continente americano, basicamente, grande parte das questões mais nevrálgicas
dentro de áreas militares de defesa perpassam os Estados Unidos, porque é a
potência da região. E com relação aos chamados espaços pós-soviéticos também, e
a Ucrânia é um caso claro sobre isso”, compara a pesquisadora. Essa leitura, no
entanto, muitas vezes fica secundarizada no noticiário, construindo uma
narrativa dicotômica da guerra.
Título e Texto: Camila
Maciel; Edição: Graça Adjuto – Agência Brasil, 25-3-2022, 6h34
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