segunda-feira, 21 de março de 2022

Ao lado das vítimas


Cristina Miranda

Não sou entendida em guerras e por isso não estava nos meus planos escrever sobre a invasão da Rússia à Ucrânia. Mas a irracionalidade de alguns fundamentalistas à direita, não me deixou alternativa em defesa dos meus princípios e valores, depois de me dirigirem violentos ataques nas redes, numa tentativa de linchamento de carácter que não admito.

Foi com estupefacção que constatei que o radicalismo de opinião e assédio público por divergências na forma como olhamos para o mesmo tema, é tão violento à esquerda como na ala direita: usam o mesmo estratagema de rebaixar intelectualmente o interlocutor; usam o mesmo vocabulário de rotulagem com adjectivos abjectos; a mesma violência verbal sem qualquer pudor; a mesma intolerância por pontos de vista divergentes; a mesma imposição de pensamento único.

É muito triste constatar que algumas pessoas tratam este assunto como se estivéssemos a falar de futebol: todos a justificar fanaticamente o seu clube independentemente das trapalhadas em que estejam ou estiveram metidos. Ou a comparar com violência doméstica e assaltos a habitações. Surreal.

A GUERRA, seja ela contra quem for, seja ela iniciada por quem for, é e será sempre algo muito mais complexo de explicar e resolver que questões domésticas ou de clubes. Entrar por aí não faz qualquer sentido.

As diferenças começam nas vítimas: uma guerra entre países faz uma quantidade insana de vítimas de AMBAS as partes e de outras pelo Mundo fora. Ainda, e porque hoje a globalização (conceito económico) ligou-nos a todo o planeta tornando-nos, nalguns casos, totalmente dependentes dos outros países, a catástrofe é muito maior. Por fim, o perigo do nuclear que pode reduzir-nos a cinzas, não ficando pedra sobre pedra. Numa invasão à sua habitação tem estas consequências? Obviamente que não.

Por isso, as guerras devem ser evitadas. Todos os inimigos, “neutralizados” como tão bem soube fazer Trump, com muito jogo diplomático, psicológico e demonstração de uma forte liderança. Mas a acontecer, muita frieza, estratégia inteligente sobre as vulnerabilidades do inimigo e grande capacidade de diálogo e negociação. Algo que só líderes fortes sabem gerir como ninguém em defesa de seu povo e do mundo.

Comparar as guerras de HOJE com Churchill na Segunda Grande Guerra, é de uma irresponsabilidade medonha. Já não “ganhamos” guerras com arcos e flechas, pistolas, metralhadoras, canhões ou bombas convencionais. Estamos na era NUCLEAR e QUÍMICA. E foram os EUA que marcaram essa nova era com o lançamento das bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki. Vão me dizer que essa chacina que pôs fim à guerra, foi uma vitória?

Nunca o mundo esteve tão bem organizado para EVITAR conflitos ao criar inúmeros organismos para manter a paz mundial, alimentados com biliões de dólares. Não há desculpas para a inércia aparente destes grupos que assobiam para o lado ao invés de intermediarem o conflito. A quem interessa o eclodir e posterior prolongamento desta guerra? Só daqui a uns anos, infelizmente, saberemos o que se passou nos bastidores desta guerra na Ucrânia. Até lá, vão vender biliões em armamento, vão mandar mercenários de todo o género para a frente de combate junto com os batalhões nazis, vão fazer umas sanções cirúrgicas enquanto observam, do alto dos seus camarotes, o “teatro a arder”. Porque na verdade, não convém bulir muito com o Putin, aquele com que TODOS os países fizeram e fazem negócios, mais ou menos transparentes, e que ninguém censurou até ao presente.

Fique claro que não apoio quaisquer “putins” deste mundo nem invasões. Sou incondicionalmente solidária com o povo ucraniano invadido para quem vão as minhas preces. E não fiquei indiferente aos pedidos de ajuda tendo o meu filho entregue na escola um modesto contributo nosso de roupa quente (mesmo sabendo que esta ajuda poderá nunca chegar a quem dela precisa).

Assim que se deu a invasão, procurei falar com colegas com ligações familiares à Ucrânia para saber o que pensavam disto tudo. E a mensagem foi clara: “Cristina, queremos que este conflito ACABE. Queremos que o presidente tudo faça para que acabe. Eu sei que nem tudo é branco e preto. Há culpas de ambos os lados. Não quero inocentes civis a pagarem o preço. A Ucrânia era o 3º pais mais corrupto da Europa. Votaram neste presidente como última esperança mas ele também não conseguiu e um dos seus conselheiros foi apanhado a vender cargos públicos em dinheiro vivo. Outra das suas bandeiras era acabar com a guerra a leste e viu-se no que deu. Agora posso dizer que não é dos piores que lá passou”.

Ninguém com isto está a dizer que o presidente não fez bem em reagir à invasão. É claro que o primeiro instinto é a defesa das suas fronteiras. Não podia ser de outra forma. Não sou globalista – conceito político (só apoio a globalização – conceito económico). Porém não deixa de ser irónico verificar que agora as ELITES globalistas são defensoras acérrimas dos ultra-nacionalistas que defendem as suas fronteiras. Um caso de estudo ou melhor, um caso para desconfiar sobre a verdadeira razão deste apoio.

Não é porque questiono a seriedade da comunicação social – que criou conteúdos falsos com videojogos nas suas reportagens sobre Ucrânia, usou imagens de outros anos para criar notícias, e deturpou factos -, ou por contextualizar o conflito mostrando reportagens que o abordam em diversos ângulos, nem por dar voz a TODOS os comentadores com experiência em conflitos de guerra ou especialistas em assuntos sobre a Rússia , que significa que estou ao lado de PUTIN, e nem tão pouco por apelar ao entendimento, significa NEUTRALIDADE. Não há neutralidade quando estamos de corpo e alma com as vítimas da Ucrânia. Só gente desonesta intelectualmente pode afirmar tal. Lamento.

Infelizmente os novos fundamentalistas julgam que este conflito é um videojogo e por isso gritam por bombas em cima da Rússia sem dó nem piedade. Isto não é solidariedade à Ucrânia. É apelo ao genocídio.

Estar do lado certo da História é acima de tudo estar do lado do sofrimento e exigir do lado de quem tem poder, uma resolução inteligente do conflito. Um louco não se neutraliza com mais loucura.

Eu não vou deixar de mostrar todo o conflito sob todos os ângulos só porque você entende que só podemos falar a uma só voz. E vou continuar a questionar tudo o que merece reflexão. Gostem ou não. Sou assim desde sempre, aqui no Blasfémias, sobre qualquer tema.

Por isso, pergunto a quem souber responder:

1. Por que razão, a comunicação social, que deveria ser fiel na descrição dos factos, inventou conteúdos falsos: aquiaquiaquiaqui 


Afirmou que Zelenski está a lutar junto dos combatentes mas mostram imagens de 2021: 


Sobre essas fake news, deixo uma pesquisa do jornalista Daniel Funke que transcrevo na íntegra:

“First: this image was passed off as a Russian attack in Ukraine. False: it is a 2021 attack on Gaza https://eu.usatoday.com/…/fact-check-gaza…/6922317001/

Second. This video passed off as a Russian airstrike on Ukraine actually shows Russian planes over Moscow during a test flyover before a national holiday in 2020, unrelated to the recent invasion. https://eu.usatoday.com/…/fact-check-video…/6922740001/

Third. This footage shows Ukrainian police dropping riot gear in Odessa, too bad it’s from 2014 https://eu.usatoday.com/…/fact-check-video…/6906796001/

Fourth. Earlier this week, thousands of social media users falsely claimed that this video showed the war between Russia and Ukraine, but it is a video of the video game “Weapon 3” https://eu.usatoday.com/…/fact-check-arma-3…/6879521001/

Fifth. This leaked video does not show a recent explosion in Ukraine. The clip was published on TikTok in January.

https://eu.usatoday.com/…/fact-check-viral…/6923330001/

Sixth. This photo actually shows Ukrainians praying, but it has been running since 2019 AT LEAST https://eu.usatoday.com/…/fact-check…/6871441001/

Seventh. This photo does not show a Russian plane shot down by Ukraine. It was taken in August 2015 during an air show celebrating Russian National Flag Day. https://eu.usatoday.com/…/fact-check…/6926889001/

Eighth. This footage of a plane crash is unrelated to the invasion of Ukraine. The video shows a Libyan fighter jet shot down over Benghazi in 2011. https://eu.usatoday.com/…/fact-check…/6923966001/

Ninth. This video does not show an explosion in Ukraine. It shows one of a series of explosions that occurred in China in August 2015 https://eu.usatoday.com/…/fact-check-video…/6922882001/

Tenth. This image does not show a Russian plane on fire in Ukraine. It shows a pilot being ejected from a burning plane during a 1993 air show in Fairford, England. https://eu.usatoday.com/…/fact-check-photo…/6929314001/

Eleventh. This TikTok video has more than 1.5 million views on Facebook. But it doesn’t show Russian soldiers parachuting into Ukraine: the clip was posted on Instagram in 2015.” https://eu.usatoday.com/…/fact-check-tiktok…/6937733001

2. Porque o Facebook é agora tolerante à incitação ao ódio e violência sobre os russos e Putin mas nunca o foi declaradamente sobre Daesh ou jihadistas nessa rede.

3. Por que razão Rothchild (publicação entretanto eliminada) e Soros , da elite globalista que comanda o Mundo, fizeram declaração pública de apoio à Ucrânia ultra NACIONALISTA na defesa das suas fronteiras.

4. Por que razão a comunicação social se apressou a dizer que não havia laboratórios de patogénicos perigosos na Ucrânia e OMS agora pede que os protejam. Veja também aqui.

5. Por que razão a comunicação social que apelava todos os dias ao perigo da extrema direita em Portugal e na Europa – associando falsamente o CHEGA a essa ideologia -, ignoram os batalhões nazis ultra-nacionalistas que foram integrados nas forças armadas da Ucrânia e no Corpo Nacional – sob a supervisão do Ministro do Interior -, ao lado da Polícia Nacional -, por Zelenski.  


6. Porque a comunicação social censura as vozes (apartidárias) dos comentadores que desalinham da narrativa oficial, fazendo-os “desaparecer” do ecrã, mas mantêm em horário nobre os comentadores do PCP e BE e outros pseudo intelectuais da esquerda.

7. Porque foram CENSURADOS/bloqueados outros meios de comunicação social, alegando propaganda e informação falsa e não se fez o mesmo com os outros media que divulgam e continuam a divulgar desinformação mais do que comprovada, apanhados a mentir e criar conteúdos falsos. É por mentirem “menos”? Como se mede isso?

8. Porque nos querem todos a uma só voz, com censura e sem contraditório à narrativa oficial se dizem falar a verdade? De que têm medo? Isto é uma democracia PLENA?

9. Porque a EUROPA, EUA ou ONU não se apressaram a mediar o conflito para o tentar sanar ao invés de serem meros espectadores enquanto o alimentam.

10. Se a Ucrânia está a ganhar a guerra como afirmam os media do mainstream não censurados, porque aceita agora negociar ou apelam a ajuda internacional. Mais uma mentira?

11. Se ambos os lados da guerra têm propaganda porque só se dá visibilidade e credibilidade a uma das partes. Porque não deixam que seja a população a fazer a sua própria opinião a partir de toda a informação recebida. Filtram para quê?

12. Há ou não ataques sobre civis do batalhão ultra nazi AZOV e outros – tal como os houve durante 8 anos – neste conflito, como reportam alguns freelances e jornalistas? Aquiaqui, aqui e aqui

A verdade escondida está, parte dela, numas declarações de Biden congressista, há uns anos, e que agora Presidente, finge-se de “morto”. Veja aqui.

Resumindo a administração Biden/Obama: primeiro alerta-se para as consequências de uma adesão à Nato da Ucrânia; depois pica-se a Ucrânia para fazer parte da Nato a todo os custo e por fim, depois do conflito eclodir, diz-se que não será parte da Nato e finge-se que se é alheio ao problema. Que nome se dá a isto? O que andam estes indivíduos a fazer? O que nos escondem?

Líderes fracos e burros abrem portas aos loucos. Trump explicou-o melhor que ninguém. Veja aqui.

A desinformação é de tal dimensão que nunca podemos olhar só num sentido e achar que sabemos o que se passa. Não sabemos. A única certeza é de uma invasão; do êxodo da população; das crianças e mulheres separadas dos maridos; dos bombardeamentos sobre civis; das mortes de civis inocentes; da ajuda humanitária vinda de todo o lado; do sofrimento de quem deixa uma vida para trás. O resto, só quem está nos bastidores da guerra tem acesso à informação toda. Mas essa, não chegará até nós – pelo menos por enquanto – porque os media generalistas (comprados pelos seus governos) servem os seus amos. Não a população.

Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias, 21-3-2022 

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