sexta-feira, 18 de março de 2022

[Observatório de Benfica] Derrubar o “Novo Muro”

Mário Florentino

“Caro Chanceler Scholz, destrua esse novo muro contra a liberdade que existe na Europa (…) não é um muro de Berlim, é um muro na Europa Central entre a liberdade e a escravidão, e este muro fica maior a cada bomba lançada sobre a Ucrânia”, disse hoje Volodymyr Zelensky perante o Parlamento Alemão.

O historiador Timothy Garton Ash referia-se à revolução de 2004 na Ucrânia desta forma: “A revolução laranja da Ucrânia juntou-se à lista crescente de revoluções europeias de um novo tipo, em grande medida pacíficas e evolucionárias, e cuja linhagem tem já trinta anos desde a “revolução dos cravos” de 1974 em Portugal”. Na conclusão do seu livro “Free World – A América, a Europa, e o Ocidente”, escrito em 2005, este pensador argumentava que “Os Presidentes, os Primeiros-ministros e os Chanceleres chegam e partem: os grandes desafios identificados neste livro permanecem. O modo como os abordarmos nos próximos vinte anos determinará se os nossos filhos viverão em sociedades civilizadas mais livres, ou em sociedades mais fraturadas e intolerantes. E isso depende, consideravelmente, de nós, os cidadãos”.

O argumento é de que nós, os cidadãos do Mundo Livre, somos capazes de fazer estas revoluções pacíficas e derrubar muros: “A Ucrânia do Outono de 2004 era um país pobre, uma sociedade profundamente dividida, com um Estado imensamente corrupto controlado por um regime de bandidos (…) No entanto, os Vasils e os Svyatoslavs, as Elenas e os Vovas, vieram para Kiev e acamparam noite após noite, com temperaturas que caíram até aos dez graus negativos, para fazerem uma revolução de veludo. (…) Se eles conseguiram tomar o seu destino nas suas próprias mãos, nós também podemos conseguir”.

Depois dos desenvolvimentos das últimas 3 semanas, na sequência do brutal ataque do ditador Putin à Ucrânia, quase 20 anos após Garton Ash ter escrito aquelas palavras, fica claro que nós, os cidadãos do Mundo Livre, não conseguimos. Ainda não conseguimos acabar com esta divisão entre o Ocidente e o Resto do Mundo. Falhámos esse objetivo.

Defendem alguns que a Ucrânia deveria render-se e aceitar as condições de Putin para o fim do conflito, por forma a reduzir a destruição e as vítimas da guerra. Essa posição, defendida por Miguel Sousa Tavares e por vários comentadores nas TVs e na imprensa, é para mim incompreensível. Não há equivalência moral entre uma sociedade aberta do Mundo Livre, e um regime totalitário como o de Putin. Não há equivalência moral entre um país invadido brutalmente, à revelia do direito internacional, e um regime que envenena os seus opositores e prende e tortura quem se manifesta pacificamente na rua contra a guerra. Não pode haver equivalência moral entre os dois lados desta guerra, por mais argumentos que queiramos trazer para o debate.

Se o Ocidente não defender o Mundo Livre, Putin e outros ditadores continuarão a massacrar e escravizar os seus povos. E serão tentados a expandir o seu poder para outros territórios europeus. Não há alternativa para o Ocidente a resistir, como resistiu na segunda Guerra Mundial, e as sanções económicas à Rússia são, naturalmente, uma resposta inteligente. Na época da globalização e das redes sociais, não será possível um povo viver muito tempo na mentira. O povo russo acabará por perceber que nenhum tirano lhe pode tirar a Liberdade. E fará a sua revolução pacífica, tal como o povo ucraniano em 2004 fez a sua “revolução de veludo”.

Terminada esta guerra, os cidadãos do Mundo Livre devemos ajudar os europeus da Rússia a fazer essa revolução pacífica que derrube o regime tirano de Putin. E derrube o “novo muro” referido por Zelenskyy. Só assim haverá Paz. 

FICA BEM 👍

Os primeiros-ministros da Polónia, Mateusz Morawiecki, da República Checa, Petr Fiala, e da Eslováquia, Janez Jansa. Numa arriscada viagem de comboio foram a Kiev encontrar-se com o atual líder do Ocidente, Zelinsky, e declarar-lhe o apoio da União Europeia à sua luta. "A Europa tem de perceber que se perder a Ucrânia nunca mais será a mesma. Será uma versão derrotada, humilhada e patética de si mesma" escreveu o PM polaco após essa viagem.

FICA MAL 👎

As moralistas da extrema-esquerda radical. Mariana Mortágua e Ana Gomes, sempre afoitas a criticar tudo e todos, à mínima suspeita de ilegalidade ou irregularidade, num tom sempre acusatório e moralista, foram agora envolvidas em casos de legalidade ou ética, o mínimo, duvidosa. Como diz o povo, no melhor pano cai a nódoa.

Título e Texto: Mário A. Florentino, Benfica, 17 de março de 2022 

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A Resposta do Ocidente a Putin 
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