quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

[Observatório de Benfica] A conspiração dos media e o erro fatal de Rio

Mário A. Florentino

Em 2018, o partido Vox conquistou 11% e 12 deputados nas eleições autonômicas da Andaluzia, aqui ao lado, tornando-se depois o 3º maior partido no Parlamento espanhol, em 2019. O mesmo aconteceu por cá com o Chega quando, no passado dia 30 de janeiro, se tornou no grande ator político do momento. Quem criou este fenômeno do Chega? Os media, em conluio com a esquerda.

Ao longo dos últimos anos, os media não pararam de falar do alegado perigo que este partido representa para a democracia, mesmo quando não falam dele. Em todos os debates e discussões, o Chega era sempre o tema central, ainda que não estivesse presente (como quase nunca esteve). Qual foi a consequência desta presença tão forte do Chega nos media? Os excelentes resultados que André Ventura teve, primeiro em 2019, depois nas presidenciais, e agora em janeiro, com o crescimento de UM para DOZE deputados, tornando-se o terceiro partido mais votado.

Mas podemos colocar outra questão: quem mais se beneficiou deste grande sucesso, para além do próprio Chega? António Costa e o PS, que obtiveram a estrondosa e inesperada maioria absoluta. Isto leva-nos ao erro fatal de Rui Rio e da sua estratégia. Até à última semana antes das eleições, Rio nunca terá acreditado que poderia ganhar as eleições. Por isso a sua estratégia ao longo de quatro anos foi sempre a mesma - e nunca se afastou um milímetro dela, contra tudo e contra todos: afirmar-se como um partido do Centro, e roubar eleitorado ao PS, esquecendo a Direita. O seu objetivo foi sempre claro, e nunca o escondeu: afastar o PS da extrema-esquerda, e, se o PS fosse o partido mais votado, aprovar os seus orçamentos através de uma aliança do tipo de "bloco central", garantido assim a estabilidade e a aprovação das reformas ao Centro.

Mas eis que, subitamente, a uma semana das eleições, algumas sondagens e alguns comentadores, começam a falar na hipótese, não só do PSD ficar à frente do PS, mas também da soma dos votos da direita ser superior à dos votos da esquerda (permitindo assim uma "geringonça à direita"). E o que faz Rui Rio, com este cenário? O impensável: afasta-se da estratégia coerente seguida milimetricamente nos últimos quatro anos. A hipótese do poder permitiu-lhe sonhar em ser Primeiro-Ministro (em vez de vice-PM de Costa). Mas esse cenário hipotético nunca estaria ao seu alcance sem os votos do Chega. E é aqui que entra o seu erro fatal. Ao aceitar governar sem rejeitar o Chega, dando a ideia (mesmo que muito ténue) de algum diálogo, isso foi-lhe fatal. Essa abertura ao diálogo com o Chega foi, note-se, mesmo muito ténue e com imensos "ses" pelo meio. Mas foi o suficiente para o PS e toda a esquerda, não mais "largarem o osso". A partir desse momento, toda a última semana de campanha, tanto da esquerda como da maioria dos comentadores foi focada num único tema: "o perigo da extrema-direita". Não se falou mais noutra coisa na campanha: Rio teria aberto a possibilidade de governar com o perigoso partido "fascista" que, alegam eles, pretende mudar o regime.

Foi quanto bastou para 350 mil votos do PC e BE passarem para o PS, com medo das malfeitorias do Chega, e elegendo assim Costa como dono absoluto de todo o poder governativo. A conspiração mediática contra o Chega tinha funcionado. Até melhor do que Costa (e Marcelo) alguma vez teriam imaginado.

Finalmente, ao que temos assistido nestas duas últimas semanas a seguir às eleições? A mais do mesmo. Um ataque cerrado ao Chega, imitando a "cerca sanitária" à la Mitterrand, primeiro com a rejeição do nome de Pacheco de Amorim para Vice-Presidente da AR, e depois com o PM a receber todos os partidos menos o Chega. Qual o objetivo disto? Reforçar ainda mais o poder já absoluto do PS. O PSD e Rui Rio ficam, impotentes, a vê-los passar...

FICA BEM 👍

A seleção nacional de Futsal. A equipa liderada por Jorge Braz sagrou-se bicampeã da Europa no domingo, após derrotar a Rússia na final, num jogo difícil e emotivo. Parabéns ao treinador e a toda a equipa por mais esta alegria que dão aos milhares de adeptos de futebol.


FICA MAL 👎

Os media e o seu comportamento na cobertura mediática ao resgate do menino Rayan. Durante quase quatro dias inteiros, os canais de TV nacionais não passaram outra coisa, explorando ao máximo o suposto "milagre", que no final de contas, infelizmente, não se concretizou. Como se tal não bastasse, não fizeram, durante mais de duas semanas, qualquer cobertura noticiosa dos acontecimentos do Canadá, associados ao chamado "Freedom Convoy". 


Título e Texto: Mário A. Florentino, Benfica, 9 de fevereiro de 2022

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2 comentários:

  1. Estado de direito

    Henrique Pereira dos Santos

    Tenho estado divertido com o facto de haver um conjunto de partidos que dizem que querem um cordão sanitário ao Chega por ser um partido racista, homofóbico, xenófobo e coisas afins, concluindo que é um partido que põe em causa o estado de direito.

    Saltemos por cima do facto de ser perfeitamente legítimo ser contra o sistema e contra o Estado de Direito (o que não faltam é partidos em Portugal que explicitamente defendem a revolução), para nos concentrarmos na constituição.

    A Constituição proíbe associações racistas (e também fascistas).

    O Chega é um partido legal, logo, o Tribunal Constitucional não o considera uma organização racista.

    Ou seja, todos os partidos e pessoas podem achar que o Chega é racista, claro, mas ao atuar no pressuposto de que é um partido racista, estão, de facto, a pôr em causa a decisão do tribunal competente para dirimir essas naturais diferenças de opinião, isto é, estão a pôr-se do lado de fora do estado de direito.

    Se de hoje para amanhã eu fosse julgado por ter matado alguém, e fosse absolvido, todas as pessoas que a partir daí se negassem a dar-me trabalho por eu ser um assassino estariam a desrespeitar o estado de direito.

    Claro que para partidos e pessoas que, por definição, se colocam numa posição de superioridade moral, nada disto é relevante, porque a bússola moral que guia as suas ações (para o que se pensa e diz a questão é diferente) não está na lei, mas nas suas próprias opiniões.

    Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 9-2-2022

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  2. Tem toda a razão o Henrique Pereira dos Santos, no seu comentário. A verdade é que isso está a mudar. E essa mudança nota-se quando se fala com as novas gerações, dos jovens de 20 anos, os que votaram no Chega e na IL. Felizmente, essa bússola moral vai acabar por mudar. E no Parlamento, com os 20 novos deputados (12 + 8) também se começará a notar tal mudança.

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