Índice deve cair para 3,4% em 2023
Luciano Nascimento
O Banco Central (BC) elevou a estimativa de inflação para este ano. A revisão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 4,7% para 7,1%, ficando acima do centro da meta definida para 2022: 3,5%. A nova estimativa consta do Relatório de Inflação divulgado hoje (24), em Brasília, pelo BC e aponta que a probabilidade de estouro da meta varia de 88% a 97%.
Foto: José Cruz/Agência Brasil |
Segundo a publicação, a
instituição trabalha com dois cenários. No primeiro, considerado "de
referência", as projeções de inflação para 2022 ficam em torno de 10,6%
nos dois primeiros trimestres do ano, caindo para 7,1% no fim do ano e para
3,4% em 2023. Esse cenário tem a probabilidade de estouro da meta de 97% e
prevê que a taxa básica de juros, a Selic, feche o ano em 12,75%, caindo para
8,75% ao ano em 2023.
Já o segundo cenário,
considerado alternativo, prevê que a inflação feche 2022 em 6,3%, caindo para
3,1% em 2023. Esse ambiente considera a hipótese de uma queda no preço
internacional do petróleo, diminuindo o impacto do produto na alta dos preços
no país. Nesse aspecto, o BC adota a premissa na qual o preço do petróleo segue
aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano
em US$ 100 o barril e passando a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de
2023. A probabilidade de furar a meta é de 88%.
Conflito na Europa
Segundo o Banco Central, o
ambiente externo, com o conflito entre Rússia e Ucrânia, levou a um aperto
significativo das condições financeiras e aumentou a incerteza em torno da
economia mundial. Em particular, por conta do choque de oferta decorrente do
conflito que "tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que
já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto nas
avançadas."
"A elevação dos preços de commodities e dos preços de produtos importados – especialmente desde a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia −, embora atenuada pela recente apreciação do real, pode ser considerada um novo choque de oferta do ponto de vista da economia doméstica, com impacto altista sobre a inflação e negativo sobre a atividade econômica no curto prazo", afirmou o relatório.
No ambiente interno, o BC
disse que, apesar de indicadores mensais terem mostrado um recuo da atividade
econômica em janeiro, é esperada uma recuperação da economia em fevereiro e
março com a melhora da pandemia.
A perspectiva é favorável para
alguns setores específicos, como a agropecuária e as atividades econômicas que
ainda estão em processo de recuperação dos impactos negativos da pandemia do
novo coronavírus covid-19.
O relatório, entretanto,
afirmou que a inflação ao consumidor segue elevada, "com alta disseminada
entre vários componentes, e mais persistente". O BC disse, ainda, que
parte significativa dessa inflação está relacionada aos preços de combustíveis
e de alimentos, mas também houve surpresa em itens associados à inflação subjacente,
que mede a tendência dos preços. De acordo com o documento, "as diversas
medidas de inflação subjacente permanecem acima do intervalo compatível com o
cumprimento da meta para a inflação."
O Banco Central destacou,
ainda, que o risco fiscal elevado e o processo de aperto monetário em curso
continuam impactando as condições financeiras atuais e, consequentemente, a
atividade econômica corrente e futura.
"O elevado nível corrente
de incerteza econômica doméstica atua na mesma direção. Neste contexto, a
projeção de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB – a soma de todas as
riquezas produzidas no país) em 2022 foi mantida em 1,0%", especificou o
relatório.
Taxa Selic
O mesmo documento voltou a
afirmar a disposição do Comitê de Política Monetária (Copom) em aumentar
novamente em um ponto percentual a taxa Selic, atualmente em 11,75% ao ano.
Segundo o relatório, essa decisão reflete a incerteza ao redor do cenário
econômico e um balanço de riscos "com variância ainda maior do que a usual
para a inflação". A taxa poderá ser reajustada "para assegurar a
convergência da inflação para suas metas".
Título e Texto: Luciano
Nascimento; Edição: Kleber Sampaio – Agência Brasil, 24-3-2022, 11h21
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