Carina Bratt
SOU UMA MENINA grande, senhora de mim, dona do meu destino. Apesar disso, me considero travessa, desinquieta, em busca constante de um amanhã que sempre se me apresentou imprevisto, incerto e sem talvez. Teimosa, obstinada, e rebelde, persigo à tapas e beijos, o desconhecido, como uma policial novata na careira; todavia dedicada na captura solitária de uma vigarista que acabou de dar um golpe de sorte na vida e se saiu vencedora. Nesse momento estou na rua. Saindo da padaria. Enquanto o aguaceiro dá uma trégua, eu fecho o guarda-chuva que até então me protegia dos pingos que molhavam a minha cabeça e, de roldão, a consciência. Meu futuro, bem sei, é atrapalhado, confuso, enigmático e caótico.
Se assemelha a um caderno de
duzentas folhas com meu nome grafado numa única folha no meio dele. Tenho o
peito aberto, o coração disparado em batidas descompassadas, a alma nua despida
de sentimentos inócuos. Me sinto infantil, agarrada a uma ingenuidade pueril,
quase despicienda e medíocre. De olhos arregalados, me arrependo não ter pulado
por cima da fogueira quando ainda as chamas clareavam o lugarzinho seguro para
onde eu pretendia me colocar saltando no minuto seguinte. Apesar desse quadro
esquisito, busco algo novo em algum lugar intocável. Penso num recanto ainda
não localizado no mapa. Meus pés descalços especulam o obscuro, o sombrio, o
tenebroso.
A intensão que alimento não é outra senão a de caminhar como Mia Couto, por uma Terra sonâmbula, de chão batido, desejando ardentemente, ou veementemente, um piso desimpedido que não se contaminou com a presença humana. Na verdade, tento dentro de uma inutilidade baldia, enxergar o que está ocultado além da minha visão periférica normal. Apesar desse contratempo, percebo que existe uma dezena de portas abertas para todos os lados que meus sentidos alcançam. Costumo ver com os sentidos, não com os olhos físicos. No mesmo saco, igual número de janelas escancaradas que se descerram à espreita de emoções não vividas. Me vejo —, ou melhor —, me sinto como uma lagoa imensa, maior que o Paranoá aberto à horizontes sem fronteiras.
Nessas horas, me flagro sustentando pequenas embarcações sem eira nem beira, à cata de um porto seguro onde atracarem suas longas horas de navegações à deriva e prestes a caírem num buraco enorme e sem tamanho, pior que o rombo deixado por um tal de Lula da Silva, ‘vulgo‘ dezenove dedos. Aprendi também que de onde vem um burro fujão, logo atrás dele aparecerá um sujeito furioso à lhe colocar os cangalhos do cabresto. Voltando à lagoa, tenho plena consciência de que em cada uma dessas canoas, barquinhos, lanchas, e botes, se concentram vidas temerosas buscando um recanto de plenitude onde a tranquilidade se faça pujante e não ofereça dissabores e contratempos funestos, além daqueles que atormentam sobremaneira o cotidiano.
E não só isso. De contrapeso,
um rol de desprazeres e agruras, que fazem com que o futuro se mostre mais
violento e selvagem que as pesquisas mentirosas nos fazendo acreditar que as
‘urnas eleitoreiras’ do TSE são auditáveis e seguras. Quanto a isso, ledo
engano! Acredita nessa patacoada aqueles que se diplomaram em ‘bestas humanas’,
ou leram Émile Zola e não entenderam bulhufas. Entre mortos e feridos, alguma
coisa dentro de mim se levanta, grita, esperneia, berra —, late imagina que
coisa esquisita, late, uiva, porque (não
sei como, ou de que maneira), ou forma possivelmente inumana farejou
bestialidades. Não para por aqui as minhas divagações. Nessa neurastenia toda,
eu não vejo a tábua de salvação ao alcance, ou o trilhar seguro e reto para
fugir, de uma vez por todas das violências que se avizinham à passos
gigantescos.
Me fecho, pois, temerosa, em
copas e capas, me tranco inteira em chaves e correntes, cadeados e aldravas.
Expulso ou pelo menos tento mandar para o além-distante, a agonia que me
persegue. Me instruí a ponto de chegar a conclusão que da arma que picota a
primeira bala é de onde sairá o segundo projétil que deixará o cadáver sem
respirar os sabores da vida plena. Pressinto que o meu passado está em prantos,
sem saber como lutar com as lágrimas que vertem de dentro de si em abundância,
como se fossem as Cataratas do Niágara, notadamente aquelas em que o Pica-Pau
faz todo mundo se ferrar dentro de um número expressivamente enorme de tambores
e barris voando quedas abaixo. Às vezes me vejo prisioneira, como se vegetasse
os ossos num campo de extermínio.
Condenada, certamente, por um
crime que não cometi, o que é pior. Alguma coisa hedionda que a justiça me
impôs de forma errônea. Por assim, eu me fiz tão esperta e ladina, velhaca e
endiabrada, que descobri, à duras penas, que aquele que dorme com um gato dia
seguinte acordará miando. Por tudo o que acima escrevi, vindo, talvez, de algum
recôndito com ares ‘esbornianos’, de dentro de meu ser, concluí que sempre que
me vejo sem ter o que fazer, me transformo numa leoa e, como tal, vejo surgir
das minhas entranhas, uma força animal imensurável. Verdade! Apossado dela,
mergulho de cabeça num poço escuro e abissal. O que acontece a seguir, nessa
viagem desvairada e aberrante, desusada e tresloucada, infelizmente não posso
dizer.
Menos ainda explicar aqui
nessas minhas ‘Danações...’. Sempre que tento me abrir, falar, vociferar um
mutismo intransigente invade os espaços que em mim até então estavam vazios e
desocupados. Pareço estar vivendo o ‘Silencio dos Inocentes’, não na pele do
Hannibal vivido pelo Anthony Hopkins, literalmente naquele pobre sujeito que
perdeu o nariz e ninguém ficou sabendo o nome dele como ator. Ao sol bonito que
se aproxima, em meio a uma hipnose, ou torpor, não sei mensurar com palavras,
os meus medos e queixumes se desfazem. Retomo o fio da minha existência... e
num piscar de lagartixa de parede em apuros, vou tecendo, tecendo, tecendo... a
minha FELICIDADE plena ‘in punti e nodi’.
Título e Texto: Carina Bratt. De
Vila Velha, no Espírito Santo. 27-03-2022
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Quando a ‘Saudade’ deixa de ser ‘Saudade’ e se transforma em poesia...
Por todos os ‘Is’ que ficaram sem pingos
Voyeurismo provocado
NÃO DURMO DE BUNDA PARA CIMA, NEM JUNTO SABONETE EM BANHEIROS MASCULINOS MAS TAMBÉM NUNCA MORDI TRAVESSEIROS. RELAÇÃO QUE DÁ TORCICOLOS ESTOU FORA.
ResponderExcluirLOLOLOLOLOL...
Concordo plenamente. Para evitar problemas a noite, tiro a bunda e guardo num lugar que somente eu sei onde escondo a chave. A questão e que as vezes esqueço onde coloco a droga da chave.
ResponderExcluirAparecido R. Souza
Vila Velha ES.
Ligeira explicação: tentei postar um comentário via telefone celular, mas na hora de enviar, o sistema pediu tanta coisa, fez tanta exigência, que o "testículo" não foi. Pra completar o quadro, minha cara sumiu. Agora, no hotel, aqui em São Paulo, onde acabamos de chegar, estou tentando pela segunda vez enviar o dito comentário, observando, como introito, o acrescento dessas palavrinhas. Peço desculpas se o comentário sair repetido, culpa do "B". Pois bem. Não durmo de bunda para cima, nem para baixo. Tiro a mesma e guardo num lugar que só eu sei onde foi colocada. O meu maior desafio é, na manha seguinte, lembrar onde foi que coloquei a chave do esconderijo. Recentemente precisei comprar às pressas uma bunda para colocar no lugar. Se não agisse assim, certamente a autora do texto, a dona Carina Bratt, me "bratt-eria" e para completar meu quadro desavergonhado, seria chamado por ela de "desbundado". Morder travesseiro costuma dar azia nos dentes, em face do óleo que os cabelos soltam durante a noite. Tem gente que morde. Já soube de casos em que os "mordedores" de fronhas e travesseiros, costumam ter fortes dores musculares na altura do cachaço. Também me chegaram relatos de coceiras nas virilhas, o que no fim das contas costuma "virilhalualizar" nas redes sociais.
ResponderExcluirNão quero isso acontecendo comigo.
Aparecido Raimundo de Souza
de São paulo, Capital
Minha Sweet Child. Jamais deixarei que você caia numa situação como a descrita acima, ou sequer 'A/parecida'. A dona Carina Bratt jamais 'Bratt/erá' em você. Apenas euzinha irei puxar a sua orelhinha pelo 'dona'. Amei o 'desbundado'. Seja um bom menino e a Carininha ou a sua 'Ca' vai continuar alegre e saltitante sendo a sua secreta secretária e o mais importante, ESTOU DE OLHO EM VOCÊ.
ResponderExcluirCarina
Ca
São Paulo, Capital
Bom dia, boa tarde, boa noite, meu caro e prestimoso Vanderlei Rocha. Estava saudosa dos seus comentários. Em acrescendo as suas palavras em meu texto me fizeram lembrar de uma amiga, a Dilma Bobocó. Ela até hoje dorme de bunda pra cima e não pode ver esses sabonetes (faço referência aos que os hotéis nos dão quando nos hospedamos) que logo sai catando e colocando na sua bolsa-família. Engraçado que são tão pequenos esses trocinhos, que ao se tentar lavar os dedos dos pés, por serem tão minúsculos, somem no ar, ficando apenas as lembranças. A minha amiga Dilma Bobocó, tem mania de entrar não nos banheiros masculinos, mas naqueles mictórios que servem à ambos os sexos. Também cultiva a estranha mania de sair do armário, morder travesseiros e palitar os caninos com as fronhas que encontra pela frente. Dias passados, soube por uma de suas apaniguadas, teve problemas sérios com a dentadura inferior e precisou chamar o dentista particular dela, o doutor Lulas Dezenove. Doutor Lulas Dezenove estava em baixo da cama (imagine!) fugindo de uma cadeira giratória coberta com um pano pintado com a cara do Temer. Passado o susto tremendo, coitado, o doutor Lulas Dezenove pediu à sua paciente que trocasse o fixador de dentaduras usado por uma marca mais forte. No mercado farmacêutico temos os fixadores de próteses com as Lulas, desculpe, com as bulas e etiquetas as mais variadas. Fazem milagres. Em épocas eleitoreiras, por exemplo, esses produtos podem ser encontrados em qualquer banquinha não só aqui na Vinte e Cinco de Março, como na Praça da Sé e adjacências. Em São Paulo, numa pesquisa recente da Globo, saída na Data Bolha, enunciaram as mais fortes. O colega, perdão, o Corega Creme Sabor menta é super legal. Vem com Fita Adesiva. Doutor Lulas Dezenove sugeriu à sua paciente impaciente, uma marca forte que se adere às gengivas mais calamitosas. Sem falar que não fogem da Claudia, digo, da raia, nem nas piores refeições do dia, além de facilitar as mastigações e logicamente as ruminações em festinhas e encontros de amigas. Não sou de revelar marcas de produtos, mas citarei três muito legais: 1) A Ucraniana Morro Mas Não Largo o Osso, está no topo da lista da DAta Bolha, seguida da chinesa Tebett Vai Com Tudo e, em terceiro, a Russa Caldo Sem Cabelo. Acredite, meu amigo Vanderlei, esses fixadores são imunes a torcicolos. Espero, sinceramente, que volte sempre. A sua graça e as observações em meus textos, me deixa contente.
ResponderExcluirSua fã
Carina
Ca
de São Paulo, capital