O fechamento das escolas aumentou a distância entre ricos e pobres, e não há ‘políticas de igualdade’ que possam resolver isso
J. R. Guzzo
Fala-se muito das calamidades em cascata causadas pela desaceleração, ou pura e simples paralisação, da atividade produtiva em todo o mundo — dois anos de recessão, desemprego, falências, gasto público desesperado e por aí afora. Menos mencionada, porque não interessa aos governos nem aos beneficiários das medidas de “lockdown”, é a devastação causada na educação dos jovens e crianças pobres com o fechamento das escolas — e o ataque sem precedentes às liberdades que as autoridades e as elites têm feito ao longo dos dois últimos anos.
Os países desenvolvidos fizeram uma defesa muito melhor do futuro de suas crianças, percebendo, desde o início, que era essencial manter as escolas em funcionamento. O Brasil fez exatamente o contrário. Até hoje há escolas fechadas. Os alunos do ensino privado ainda se defenderam melhor, por terem mais recursos, mas a imensa maioria dos alunos brasileiros do ensino básico não aprendeu nada durante este tempo todo. As aulas “à distância”, para as crianças pobres, foram uma piada: como dar aulas “on-line” sem computadores, sem internet estável, sem assistência técnica, sem a presença de monitores? Como ensinar sem professores, que trataram de toda essa tragédia como uma questão sindical, fazendo greves para não voltar às escolas e ficando dois anos seguidos em casa?
Os alunos que perderam os anos
de 2020 e 2021, e ainda vão receber um ensino deficiente em 2022, sofreram um
prejuízo que vai lhes perseguir pelo resto de suas vidas. É muito simples: o
que não aprenderam agora não será aprendido nunca. Nenhum “Estado” e nenhuma
empresa com “sensibilidade social” vai lhes pagar ou compensar por isso. Só vão
lhes oferecer empregos ruins, salários baixos, trabalho de má qualidade, sem
perspectivas de progresso profissional ou de melhoria de vida — o que sempre se
oferece a quem sabe pouco. O fechamento das escolas, sob a mais completa
indiferença dos que mandam e dos pensam neste país, foi a maior e mais perversa
ação de retrocesso social que o Brasil já teve em sua história moderna. A
distância entre ricos e pobres aumentou ainda mais, e não há “políticas de
igualdade” que possam resolver isso.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, 17-3-2022, via revista Oeste
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