José Manuel
Por volta de julho de 1974,
entreguei o meu cargo de instrutor no setor nacional, depois de mais de dois
anos nessa função, o que valeu muita experiência para o meu futuro laboral na
empresa.
Por coincidência, no dia em
que encerrava esse ciclo, fui chamado a colaborar mais uma vez, sendo designado
meio a toque de caixa para um curto baseamento em Lisboa, como já descrito em
texto anterior, a fim de substituir um colega que se acidentou naquele
baseamento.
Apesar de todas as urgências,
em que esse processo se revestiu, acabou dando tudo certo, cobrindo a falta e
também me pondo a par do que era uma aviação internacional, uma vez que a minha
experiência até então havia sido apenas neste imenso Brasil.
Então, de retorno em agosto de
1974, fui definitivamente incorporado à RAI, ou Rede Aérea Internacional,
desejo alimentado por todos que escolheram a carreira de Aeronautas.
Foi uma época de sonho, não só
pelo descobrimento do novo, mas pelos pernoites que na sua maioria ainda eram
com um, dois e até três dias inativos, dependendo da rota.
A VARIG entrava num processo
de modernização com expansão de novas rotas, o gordão DC-10 mal havia chegado,
sendo alocado nas rotas nobres de New York, Paris e Frankfurt.
Então, quem reinava
soberanamente nestes primeiros anos pós a minha chegada ao setor internacional
em 74, ainda era o flexa ligeira Boeig-707, onde me encontrava fixo.
Como as rotas não paravam de
crescer naquela época de forte expansão, não havia equipamento disponível
suficiente para cobrir todas elas, e as frequências a essas cidades ainda,
entre 74 e 78 eram bastante esparsas pois apenas haviam chegado quatro DC-10,
que logo foram alocados em rotas nobres.
Traduzindo, por exemplo o voo
de Genebra tinha apenas uma frequência por semana, significando que a
tripulação permanecia por três dias sem contar o dia da chegada e o da saída,
esperando que a outra frequência chegasse para, retornar ao Brasil.
Isso era a glória, das glórias, principalmente para mim que iniciava o meu trabalho internacional, e já o fazia começando pela Suíça!
Nada poderia ser melhor que
isso, para quem estava acostumado a dez escalas pelos sertões e campos de pouso
empoeirados do Brasil.
Permanecer quase cinco dias na
Suíça, era como tirar a sorte grande para nós.
O Hotel era deslumbrante, uma construção neoclássica no alto de uma colina, cujos talheres inclusive nos quartos eram todos de prata e uma vista maravilhosa da cidade, com o lago Léman fazendo o seu contorno.
Tudo aquilo era um sonho,
difícil de acreditar. Para chegar ao centro e ao lago, descia-se por uma
avenida linda onde pela primeira vez vi algo insólito.
Ao descer à cidade, na parte
da manhã passávamos por uma caixa de metal cheia de jornais e aberta, na
calçada.
Na lateral uma caixinha também
aberta.
Quando voltávamos à tarde, os
jornais tinham acabado e a tal caixinha estava cheia de moedas e… aberta!!
Foi o meu primeiro choque
cultural e claro estaria aqui nas minhas memórias pois a visão daquilo foi uma
das experiências mais marcantes e difíceis de esquecer, para um Sul-americano
nada acostumado a esse tipo de civilidade.
A cidade de Genève, ou Genebra
é linda, limpa e super agradável e era uma delícia passear por suas avenidas
floridas ou navegar pelo lago Léman com o seu chafariz imenso.
Cidade sede europeia da ONU,
ao navegar pelo lago tem-se uma visão do majestoso edifício sede, numa das
margens do lago.
Tudo é bonito na cidade florida, fora é claro os passeios desde que alugando um carro, para se ir a lugares fantásticos.
Um desses passeios que fizemos,
fomos à cidade de Chamonix, 82 km de Genebra por uma estrada lindíssima e já na
França, nos contrafortes do Mont Blanc que faz fronteira com a França a Suíça e
a Itália.
Nesse passeio, nevava muito e
conhecemos o pequeno centro da cidade, que com a neve se tornou mais
interessante e acolhedor do que normalmente é. Uma delícia fazer um lanche ou simplesmente tomar um
chocolate “chaud" em um de seus bares ou restaurantes aquecidos.
Gostaria muito de lá voltar e
curtir aquilo tudo outra vez.
Através de teleféricos
chega-se a um dos vários topos onde se descortina uma vista fantástica dos três
países. Cheguei a ir até ao Skywalk na agulha do Midi com 3.777 metros e uma
vista fabulosa dos Alpes.
Passeio maravilhoso e
inesquecível que faz parte de uma coletânea de sonhos que vivi e saboreei ao
longo da minha vida.
Anteriores:
Sonhos e pesadelos
As ervas da ira (quinta e última parte) Quando não há noções de civilidade
As ervas da ira (parte IV) A delinquência nunca compensou
Ira Levin é um homem, um escritor
Um New York, um idiota e o fusca verde
As ervas da ira (parte III) – Gozador extrapolando limites
As ervas da ira (parte II) – Quando o demônio se incorpora
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