sexta-feira, 13 de maio de 2022

[Daqui e Dali] A guerra e o frade redentorista

Humberto Pinho da Silva

O incrível aconteceu na velha e supercivilizada Europa, em pleno século XXI, explodiu hedionda guerra, verdadeira e sangrento genocídio.

Uns, de cátedra, dizem que a terra é deles; outros, asseveram que o povo tem o direito de escolher, democraticamente, o governo e ideologia, que querem seguir.

A minha geração batia-se e defendia encarniçadamente que os povos deviam ser livres. Os velhos impérios e o colonialismo tinham de ser varridos da face da Terra – Eram os ventos da História.

Os ventos mudaram, e parece que a definição de liberdade e democracia também se vão desnudando... São ventos variáveis.

Mas não é da guerra, nem dos beligerantes que quero falar, mas sim do deplorável caso que me contou o Senhor Martins, enfermeiro do antigo Hospital da Misericórdia de Gaia.

“Numa calma e cristalina manhã, banhada de sol – era ainda adolescente, – tendo de fazer o habitual curativo, fui ao posto do enfermeiro-chefe. Este, depois de cuidar do ferimento, contou-me o seguinte:

Frade, do Seminário de Cristo Rei, compareceu acompanhado de sacerdote Redentorista, com os joelhos em estado lastimoso.

Constrangido, o sacerdote contou concisamente que o humilde discípulo de Afonso Maria de Ligório, ouvira no parlatório que no Oriente havia sangrenta guerra.

Condoído, permaneceu de joelhos, durante horas, em piso irregular, em fervorosa oração, a ponto de lhe arrebentarem os joelhos.”

O Senhor Martins – homem pouco crente –, ao contar-me a ocorrência tinha os olhos embaciados, e notava-se pela voz apertada que as palavras se trancavam na garganta.

"Ainda há gente boa! Avaliando o estado em que se encontravam os joelhos, posso calcular o lancinante sacrifício que o ingénuo homem fez, e as dores que sofreu."

Enquanto oligarcas e políticos convivem em fausto, indiferentes à dor e necessidade dos povos, para satisfazerem vaidades e orgulho, ainda há gente humilde, recolhida em silêncio, que sofre com cilícios e penitências, esperando que a divina Providência, alcance a paz e a concórdia entre os povos.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, abril de 2022 

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