Carina Bratt
NO TEMPO em que euzinha tinha onze para doze anos, a criatura ‘careta’ era uma pessoa ‘conservadora’. As pessoas não ‘iam embora’, ‘davam no pé’. O sujeito ‘bacana’ se achava ‘bonito’, bom aproveitável e impecavelmente legal, assim como ‘podes crer’, se entendia quando alguém falava alguma coisa e a gente simplesmente acreditava que era verdade, mesmo que não fosse. Algo ‘grandioso’ não vingava para além de ‘maneiro’, grosso modo, ‘um estouro’.
Minhas amigas da redação batem
o pé e chamam o mesmo ‘grandioso’ de ‘putis grilo’. O que é putis grilo?! Um
grilo puto? No meu tempo de lustradora de banco de escola a mãe vivia me
dizendo que eu ‘aprontava todas’: ‘Carina é uma diabinha ‘traquinas’’. Verdade.
As ‘traquinagens’ passavam por mim, tomaram forma e se apoderaram da minha
personalidade. Nunca me vi ‘traquinas’, apenas uma garota que tinha um prazer
quase sexual de ‘aprontona’.
Papai falava pelos cotovelos,
que a sua turma do 38º BI (Batalhão de Infantaria), na Prainha, em Vila Velha,
aqui no Espírito Santo, onde fixei residência, gostava de ‘estourar a boca do
balão’. Hoje as pessoas que convivem no meu cotidiano, não ‘estouram a boca do
balão...’, tampouco ‘pocam’, ou ‘’arrebentam’. Apenas arrasam, ou extrapolam,
vão além da imaginação. Meu tio Zé, o ‘galinha’ se julgava um ‘indivíduo
quadrado’ de carteirinha e sindicato.
Se vivo fosse, o tio seria
visto como um ‘conservador inveterado do tempo do ronca’. ‘Pegador’. ‘Comia
todas’. Por falar no Ronca, ou melhor, no tempo dele, o senhor Ronca não
roncava. Apenas relaxava os músculos da garganta, e, em face da posição errada
em que se deitava, na cama, o som esquisito que produzia se tornava forte e
perturbador. É por isso que os roncadores de nosso convívio, não roncam,
brincam de ‘motoristas de tratores’, noturnos, ou pior, esturram como se
‘tempesteassem’ num mundinho onde só eles fossem os protagonistas de uma
desgastante epopeia.
As pessoas para fazerem compras precisavam ter nos bolsos, ou nas carteiras, um punhado bastante significativo de um papel conhecido como ‘tutu’. O ‘tutu’, com a modernidade virou ‘faz me rir’. Não contente, se formou ‘dinheiro’. Quem tem ‘dinheiro’, ostenta ‘grana’. Quem não é amigo da ‘bufunfa’ para fazer um cego cantar, é um ‘duro’. Nos idos da minha infância, quem não atochava um centavo escondido debaixo do colchão, simplesmente a sociedade o cognominava de ‘pobre coitado’. Ver o ‘circo pegando fogo’ se formou e tirou diploma de ‘supimpa pra dedéu’.
Atualmente não temos, ou não
vemos muitos picadeiros por aí... se houvessem, evidentemente se traduziriam
por ‘algo muito legal’. Até bem pouco tempo, o ‘veado’ ou o ‘viado’ -, as
‘bichas’ e ‘afins’, estão lembradas?! -, se cognominavam naqueles sujeitos
‘invertidos’, ou seja, os ‘invertidos’ se constituíam naqueles tresloucados que
‘empurravam o quibe’, ou liberavam os respectivos ‘canos de descarga’... hoje
basta um vago ‘escancarar de porta’ e ‘sair do armário’. No mesmo tom, o
‘ladrão’ de verdade, era ladrão’’.
Quando muito, ‘na delegacia a
autoridade o alcunhava de ‘cinco dedos’, ou ‘velhaco’. Na roda de fogo em que
vivemos as proezas da Covid-19, e da alta da gasolina, ‘ladrão, gatuno,
trambiqueiro, cinco dedos, meliante, cafajeste ou crápula’, tem nome certo e
definido: Lula. A moça casta e namoradeira, sussurrava no escutador de futebol
do namorado um delicioso ‘pega leve’. Agora o ‘pega leve’ se travestiu de ‘você
é pra frente’.
Minhas amigas chamavam meu
paquera’ de ‘pão’. Acreditem, meu ‘pão’ virou um ‘homem bonito’. Não é ‘joia?’.
Não, é ‘legal?! Estou ‘grilada’. Pior, me vejo ‘preocupada’. Meu pai tinha um
‘carango’, Roberto Carlos um ‘calhambeque’. Mamãe passou na frente dos dois:
comprou um carro. Amiga leitora, você que me lê, por favor, não fique ‘pra
baixo’, nem se veja ‘borocoxô’. Cai melhor ‘tristinha’. Qualquer palavra dita
de modo errado, no meu ontem dava ‘bode’.
‘Dona Justa’ se fazia
presente. Hoje, bem hoje a coisa acaba em polícia e ‘Confusão’. ‘Barra limpa’
mudou o rosto. Virou ‘fora de perigo’. ‘Broto’ se abriu em ‘mulher jovem e
elegante’, como, igualmente o ‘do arco da velha’ se fez em ‘algo antiquado’. A
esposa de um amigo meu adorava ser ‘paparicada’ como ’dondoca’. Agora não liga
se aparece nos jornais como a ‘dama da alta sociedade’’. Para quem fica, até
domingo que vem. Tudo ‘chuchu beleza’ -, perdão, tudo ‘XUXU’ sem beleza. E sem
Xuxa ou ‘rainha dos baixinhos’. Nunca
foi.
Título e Texto: Carina Bratt.
De Vila Velha, no Espírito Santo. 15-5-2022
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