Carina Bratt
‘How you die is the most important thing you ever do.’
Timothy Leary
PELA MINHA CURTA PASSAGEM por Salvador, na Bahia, tive contato com muita gente boa. Depois de revisitar a casa de Jorge Amado, na Rua Alagoinhas número 33, no famoso bairro do Rio Vermelho, fiz passeios ao Farol da Barra e à Ilha de Itaparica. Conheci de perto a praia mais bonita, ou a Praia de Ponta de Areia (não que as demais da bucólica Ilha não sejam). Tomei um dejejum na casa que a Ivete Sangalo alugou em Trancoso (a mesma que foi disponibilizada para a internacional Beyoncé) e, por fim, lanchei no frontispício do Elevador Lacerda, na Praça Cayru (Cidade baixa, abraçada ao ‘Mercado Modelo’).
Depois, parti para a Praça Tomé de Souza (Cidade Alta), no Centro Histórico de Salvador, onde crianças de uma escola local (a Estadual Odorico Tavares) recitavam versos de poetas da terra. Não trarei à baila os famosos. Discorrerei apenas versos de um desconhecido. Aliás, um ilustre desconhecido que nada deixa a desejar a Castro Alves, Firmino Rocha, Ruy Espinheira e José Carlos Capinam. Falarei do baiano CARLOS MACHADO, nascido em 1951 na pequena Muritiba, município distante de Salvador, a apenas 114 km. Fiz questão de gravar alguns textos, a meu entendimento, pérolas que me chamaram a atenção, exatamente por serem simples, e, ao mesmo tempo, de grande profundidade.
E é exatamente dele, CARLOS MACHADO, autor de ‘A Mulher de Ló’, ‘Tesoura Cega’, ‘Pássaro de Vidro’, e do infantil ‘Cada Bicho Com Seus Caprichos’, que trarei até vocês, minhas leitoras, e, igualmente à família ‘Cão que Fuma’, alguns de seus trabalhos, considerados pelo meu coração apaixonado e em festa constante, simplesmente I N I M I T Á V E I S.
PÊNDULO
o braço do pêndulo
nunca se agita
apenas acena sem
ênfase
em compasso de
PUNHOS
o tempo tem punhos
de renda
e toda a cerimônia dos
carrascos
na mão direita três
punhais
ponteiros de metais
cravados
na pele fria de cada
MARGARIDA
na margarida
do relógio
desfolho uma a uma
as pétalas do dia
nesse jogo
de sal e saibro
toda pétala
a mais é
vida a menos
e toda flor
malmequer
CÂMERA
uns preferem
a morte discreta
asséptica
sem vexame
outros apostam
no alvoroço
enxame
de câmeras até
o osso do nada
timothy leary
guru
lisérgico não quis
o analgésico
do silêncio
morreu em show
cibernético
câmera aberta
para o olho
poente
Título, Imagens, Vídeo e Texto: Carina Bratt, de Santo André. São Paulo, Capital. 1-5-2022
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