quarta-feira, 5 de julho de 2023

Vereadores do Rio aprovam mais uma lei inútil. Lobby das plaquinhas?

Agora é proibido chamar o Elevador Social de Elevador Social. O de Serviço também tem que mudar de nome. Esta idiotice é de autoria de Waldir Brazão, e Paes bate palma pro maluco dançar


Quintino Gomes Freire

Nesta terça sou pego de surpresa com a sanção pelo prefeito Eduardo Paes de uma lei maluca de autoria de Waldir Brazão (Avante) que proíbe o uso dos termos “Elevador de Serviço” e “Elevador Social”; o objetivo? Evitar a discriminação. O espanto começa por vir de um vereador que não está exatamente dentre os bastiões das causas progressistas, ele mesmo homem, branco e hetero. Vá lá, não se é obrigado a sofrer na pele para defender as causas dos outros. Lobby de fabricante de plaquinhas, burrice, estupidez ou só pura incompetência?

O problema aqui é a completa estupidez desta lei, essa mania dos nossos legisladores de terminar o mandato dizendo que fez tantos projetos de lei, e dá-lhe dia da Sogra, projetos inconstitucionais que deveriam ser federais ou estaduais, ou aberrações como estas do Brazão. A iniciativa até aparenta ser cheia de boas intenções, evitar a discriminação, mas sabemos que a estrada para o inferno foi pavimentada de pessoas bem-intencionadas, imagine com leis amalucadas como essa. A verdade é que o elevador de serviço não é de serviço por causa do tipo de pessoas que estão subindo ou descendo; é, sim por causa do que estas pessoas – seus passageiros – estão efetivamente fazendo. E o mesmo ocorre com o elevador social.

Primeiro, vamos ser sinceros, Shakespeare já dizia: “Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume.“, se um elevador se chamasse Elesbão e o outro Florisberto, a discriminação ainda existiria. Não seria pela força de uma lei que mudaria. Claro, uma parte dos vereadores que está no Palácio Pedro Ernesto parece carecer de um QI maior que a temperatura ambiente, a não ser para conquistar votos. Ou saberia que os elevadores continuarão sendo usados da mesma forma.

Não vou nem entrar no mérito da péssima redação da lei, que simplesmente proíbe que os elevadores sejam chamados da forma que sempre foram. Mas não menciona a possibilidade de os síndicos e empresas escolherem outras formas análogas que – graças a Deus pela burrice alheia – poderão ser utilizadas em seu lugar. Voto em “Elevador Principal” e “Elevador de Trabalho”, enquanto me preparo para imprimir esta maravilha da criação legislativa num rolo de papel higiênico.

E se cumprirem a lei – que é um ícone da imbecilidade pública e do desperdício do dinheiro de todos nós – vamos lembrar do tal Brazão quando tentarem subir com entulho pelo elevador social de madeira, de metal dourado ou espelhado de um edifício. Ou quando a gente estiver dando um almoço social no nosso apartamento e nossos convidados derem de cara com dedetizadores sujos de remédio anti-cupim fedorento. E posso pensar em diversas outras hipóteses.

Esta é a mesma Câmara, que se não fosse pelo olhar atento do vereador Pedro Duarte, teria aprovado um projeto da vereadora Teresa Bergher que obrigava a todos bares e restaurantes a servirem um cardápio infantil. Não foram poucos os donos de restaurantes que pretendiam cobrar R$ 300 por um pão com ovo e fritas e tratar como “kids menu”; afinal, se alguém em uma drinkeria levasse seus infantes e pedisse algo nesse valor, valeria a pena mandar um funcionário até a venda da esquina comprar uma caixa de ovos.

Meu cinismo impede imaginar que as coisas melhorarão; na Alerj deputados como Rosenverg Reis apresentam tantos projetos de lei para terminar o mandato e colocar em seu santinho “autor de mais de 100 projetos em seu último mandato” e assim enganar os incautos. E a culpa é de nós da imprensa, que acabamos tratando como parte mais importante do Legislativo a criação de leis novas; e não é. O mais importante é fiscalizar o Poder Executivo; leis, temos até demais, está aí a tosca iniciativa de Brazão que não me deixa mentir. E que vai ser aplaudida por algum identitarista preguiçoso.

Título e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 5-7-2023

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