Aparecido Raimundo de Souza
E os sem rosto que nele
trafegam e vivem entrando e saindo dessas enormes lojas aos pés e mãos das
Torres de Babel agitadas (falamos do povo, como um todo) gravitam num vai e vem
incessante e tresloucado. A vida gira e dá cambalhotas. Dias passados, assim do
nada, um viajante, em busca de um refúgio imaginário, ou pior, sem porto seguro
determinado, tipo uma alma penada em busca de orações, chegou de ônibus e
desceu no meio dessa confusão de cabeças, braços e pernas. Sem saber, sua
presença desencadeou uma série de eventos que, num piscar de pálpebras, mudou a
sua vida para melhor. Falamos aqui, obviamente, de um senhorzinho de 71 anos de
idade, mais encalacrado em dívidas do que qualquer político em processos
judiciais.
Esse senhorzinho, num dado instante, se deparou com uma jovem linda e maviosa, até então completamente desconhecida para ele. Ambos se viram, se falaram, se tocaram, compartilharam diálogos insólitos e, de repente, essa mocinha maravilhosa mostrou seus conhecimentos sobre técnicas do cultivo sustentável de amor ao próximo, sem cogitar nada em troca — ou seja, de dádivas que aprendera em suas jornadas por uma coleção enorme de cidades onde passou. Embora os habitantes dessa localidade estivessem céticos, aos poucos começaram a experimentar as técnicas que ela ensinava. Com o tempo, a pequena serra-vila tornou-se um modelo de sucesso em solidariedade sustentável, atraindo a atenção de curiosos e investidores em busca de bugigangas para o dia a dia.
O milagre, para o longevo
de 71 anos, veio assim, de onde ele jamais imaginara — em verdade ocorreu da
chegada desse viajante anônimo que se deparou com aquela beldade que cultivava
não a “podologia”, mas uma disciplina mais profunda: o estudo da “p-o-d-e-r-o-l-o-g-i-a”
— ou seja, a capacidade poderosa, salvadora,
de trazer inovações diretamente do âmago do seu “eu” interior. Esse
exemplo ilustra claramente o princípio universal do “aqui se faz, aqui se
paga.” Muitas vezes, revela a verdadeira
transformação, fazendo surgir de onde menos se espera o obsequioso mais
regalado. Isso pode ser visto em muitos aspectos da vida — desde as descobertas
científicas feitas por acaso até as relações pessoais entre amigos e
desconhecidos. Mimos e agrados inesquecíveis e inquebrantáveis florescem de
maneiras intempestivas; saltam como cartas saídas de magas ocultas de jogadores
rivais.
Um desses inusitados se
desenrolou exatamente com esse idoso. Verdade! Ele se salvou, foi resgatado de
um buraco fundo. Um precipício negro. Ela a flor botão, se abriu inteira num
“milagre-salvador.” Percebam, que quando devastamos nossas mentes para as possibilidades
remotas e divorciadas, estamos mais aptos a reconhecer e acolher (e não só a
receber, a escolher) as dádivas-surpresas que podem mudar nossas vidas de um
minuto para o outro. Um aspecto fundamental desse fenômeno é a capacidade úria
(úria se traduz por perceber acima de qualquer circunstância, o impossível)
usque o potencial nas situações e pessoas menos prováveis. Em um mundo onde
frequentemente valorizamos o familiar, às vezes procuramos sempre a via de mão
errada. A verdadeira “magia-mágica do não esquematizado” acontece quando
desafiamos nossas próprias percepções e damos uma chance ao que chamamos de
“fora do casual ou do usual”.
Resumindo: a natureza dos
milagres acidentais, aleatórios ou abruptos entra em cena. O que sinalizamos é
que esses momentos inopinados raramente seguem um roteiro; simplesmente
afloram, pulam ou voam nos ares da imprevisibilidade e da capacidade de se adaptar
e abraçar o novo de uma maneira incomensurável. Assim, o âmago do presente
texto não outro, senão para mantermos a mente aberta e o coração receptivo. A
próxima grande mudança ou a descoberta pode estar à porta, escondida atrás de
uma esquina ou intocável em uma salinha de uma galeria sem muito movimento, de
vista para uma parada de ônibus que não imaginamos ser importante. Ao
aprendermos a conviver com as belezas do “não visto” lembrando sempre, jamais
com os olhos normais, sempre, sempre, sempre, com os olhos da alma, e via
outra, valorizando cada experiência como uma oportunidade para o nosso próprio
crescimento, estaremos preparados para reconhecer e celebrar os eventos
impossíveis que vêm de onde menos esperamos. Levem fé, caros amigos e leitores.
Tudo o que escrevemos nesse texto, se fez real, graças a uma criaturinha caída
lá do céu. Bem do alto. Certamente, sem dúvidas, dos braços carinhosos de Deus.
Na verdade, cá entre nós, essa moça, uma Princesa: Laudicea Gomes dos Santos.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo, 6-9-2024
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Meus Pecados de Amor
Para início de conversa, na minha visão de leitora assídua da revista Cão que Fuma, e também das crônicas de Aparecido Raimundo de Souza, as quais confesso, desde muito que me propus a acompanhar as suas histórias, penso, repenso e depois de muita luta, concluo, que o texto acima por ele escrito, é um convite valoroso que nos leva a refletir sobre a natureza inesperada das transformações e milagres em nossas vidas. Ele nos lembra que as mudanças significativas muitas vezes vêm de lugares ou situações que menos imaginamos. Vamos destacar e analisar alguns dos principais temas e mensagens do presente texto. Ele começa enfatizando com muita propriedade que muitos dos maiores milagres e mudanças em nossas vidas surgem de fontes inesperadas. Ele usa a metáfora de um pequeno lugarejo para ilustrar como algo aparentemente insignificante pode desencadear uma transformação profunda e positiva. A história de um senhor de 71 anos (acredito seja a idade dele na realidade) e uma jovem que traz técnicas de cultivo sustentável serve como um exemplo prático e típico para ilustrar esse conceito. A chegada do viajante e a interação com a tal jovem provocam uma mudança significativa na vida do senhor e da comunidade, mostrando que o inesperado pode levar a grandes resultados. E leva. A meu ver (obviamente alguém discordará) e meterá o malho em minhas humildes observações, observando que o texto sugere que, em um mundo caótico e imprevisível, as mudanças mais importantes muitas vezes ocorrem fora do que consideramos normal ou esperado. A transformação, como um todo, não é sempre algo planejado, mas sim um resultado de estar aberto ao desconhecido e ao inusitado. Tudo ao mesmo tempo, sem meios termos. Entre mortos e feridos, o Aparecido Raimundo de Souza nos convida a manter uma mente aberta e um coração receptivo às oportunidades que surgem de forma inesperada. Ele sugere, outrossim, que, ao fazer isso, estamos mais aptos a reconhecer e aproveitar as surpresas que podem mudar as nossas vidas para melhor. A história é pessoal, uma vez que onde ele se vê se salvando de uma situação difícil, graças a uma pessoa inesperada, nada mais é que uma verdade verdadeira em toda a sua plenitude. É nessa revelação que nos deparamos com as veracidades do texto em face da revelação do nome da pessoa que o tirou do fundo do poço. Uma criatura que atende pelo nome de Laudicea Gomes dos Santos. A crônica, de cabo a rabo, reforça claramente a mensagem do meio que divino dentro da velha e batida teoria de que os milagres e as transformações muitas vezes vêm de fontes que nós, não esperávamos. O texto, sem tirar nem por, como um todo, a bem da verdade, é uma celebração inusitada da capacidade humana de encontrar o extraordinário no comum e o inesperado no não-comum. E vice-versa. Nessa estrada de via de mão dupla, ele nos encoraja a desafiar as nossas expectativas e a estar abertos às possibilidades de que surgem de formas não planejadas. A ideia central é que a verdadeira magia muitas vezes se revela quando menos esperamos e que, ao estarmos atentos e receptivos, podemos experimentar mudanças profundas e positivas em nossas vidas. Esse texto simples e brilhante, é um convite sincero no tocante a valorizar o potencial dos momentos inesperados e a reconhecer que, em meio ao caos e à incerteza, a beleza e a transformação podem surgir de onde menos imaginamos.
ResponderExcluirTatiana Gomes Neves
(Tati)
Do sítio Shangri-Lá, nas divisas do Espírito Santo e Minas Gerais