Obra da Iguá provoca desastre ecológico no Bosque da Barra, causando a seca do lago e impactando gravemente a fauna local. Prefeitura do Rio suspende ampliação da estação de esgoto
Quintino Gomes Freire
O lago do Bosque da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, encontra-se praticamente seco, ameaçando o delicado ecossistema da área. O desastre está relacionado à obra de ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto da Barra, conduzida pela concessionária Iguá. Após denúncias e constatações de danos ambientais, a Prefeitura do Rio de Janeiro decidiu paralisar imediatamente as obras, em uma tentativa de preservar o ecossistema local.
A situação no Bosque
da Barra é crítica. O lago, antes vibrante, agora se resume a lama e
umidade residual. Garças e outros animais lutam para
sobreviver, enquanto jacarés se arrastam pela lama em busca de
um habitat que está desaparecendo rapidamente. O biólogo Luiz Roberto
Zamith, pesquisador da UFF e membro do conselho consultivo do Bosque,
alerta para os riscos que esse incidente representa para a flora e fauna da
área, incluindo espécies ameaçadas de extinção.
Intervenção e impacto
ambiental
As obras da Iguá tinham o objetivo de aumentar em 50% a capacidade da estação de tratamento de esgoto, mas uma vistoria da Secretaria Municipal do Ambiente e Clima, realizada em julho, detectou que o rebaixamento do lençol freático, necessário para a obra, estava contribuindo para o ressecamento do lago. Mesmo após adequações, os efeitos ambientais persistem, gerando questionamentos sobre a eficácia das medidas adotadas pela concessionária.
“Temos trabalhado para
devolver a água retirada do lençol freático ao lago, seguindo as normas
ambientais” afirmou a Iguá em nota, mas a seca continua a afetar a
área.
Os biólogos estão agora
avaliando os danos e buscando formas de mitigação para minimizar os impactos já
causados. O objetivo é impedir que a situação piore e encontrar soluções para a
recuperação do ecossistema.
Falta de monitoramento e
possíveis punições
A Iguá admitiu
que o monitoramento do lençol freático só começou após a primeira notificação
da Secretaria do Meio Ambiente, o que levantou questões sobre a
diligência da empresa desde o início do projeto. O Instituto Estadual
do Ambiente (Inea) também interveio, afirmando que a concessionária
não informou previamente sobre a necessidade de rebaixamento do lençol freático
e que, caso os danos sejam confirmados, a empresa poderá sofrer punições e ser
obrigada a recuperar a área.
Um alerta sobre o
equilíbrio entre urbanização e preservação
Este incidente no Bosque
da Barra da Tijuca destaca a tensão constante entre desenvolvimento
urbano e preservação ambiental. Como um dos poucos redutos naturais
remanescentes na cidade, o Bosque é vital para a biodiversidade local, e sua
deterioração tem repercussões graves. Ambientalistas e moradores esperam uma
resposta rápida das autoridades para evitar danos irreversíveis ao ecossistema.
A crise ambiental no
Bosque da Barra reforça a necessidade de um planejamento urbano sustentável que
considere o impacto das obras em áreas sensíveis. É um lembrete de que o
progresso não pode ocorrer às custas da destruição de ecossistemas vitais,
especialmente em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde os espaços verdes são
cada vez mais escassos.
À medida que a situação se
desenrola, o caso no Bosque da Barra torna-se um exemplo crucial para futuros
projetos de infraestrutura em todo o país, estabelecendo precedentes
importantes sobre a proteção de áreas ambientalmente sensíveis.
O Parque Natural Municipal Bosque da Barra, um dos mais tradicionais espaços naturais do Rio, é uma área de lazer popular, ideal para passeios ao ar livre e piqueniques em família. Agora, mais do que nunca, sua preservação tornou-se uma prioridade urgente.
Bosque da Barra, 2020 |
Título e Texto: Quintino
Gomes Freire, Diário do Rio, 10-10-2024
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