Acrescentei um ponto de interrogação a esse
“apoio”. Não sinto como apoio, não. A verdade é que a realidade dos
acontecimentos começa a ultrapassar e a atropelar os luminares da intelligentsia do regime, e estes,
acompanhados e ecoados por inocentes úteis (gente de boa-fé) - se foi Tchékhov
que cunhou a expressão, sempre foi assim e sempre será, ao longo da História -,
mais do que depressa aprestam-se a encurralar o caudal popular. Para, depois,
poder melhor pastoreá-lo. E também, é claro, trabalham para blindar a atual
presidente (e Governo) do Brasil. (Perceba isso em alguns depoimentos aqui
embaixo). Em suma, querem que as manifestações populares – a próxima está
marcada no Rio de Janeiro, agora terça-feira, 20 de setembro – se transformem,
mais ou menos explicitamente, em apoio à atual presidente do Brasil.
A ingenuidade e a boa-fé dos organizadores (e
daqueles que acorrerão à Cinelândia) ajudam muito a que isso venha a acontecer.
O antipartidarismo fundamentalista é o grande responsável pelo naufrágio que
acontecerá… escreva, meu caríssimo e único leitor!
O idealismo dos criadores se deixará engolir pelos
profissionais a serviço do regime.
Lembram do Movimento Pró-Democracia?
RIO - A sociedade civil começa
a se mobilizar para dar apoio e respaldo a ações de combate à corrupção.
Senadores de diversos partidos lançaram a Frente Suprapartidária Contra a Corrupção e a
Impunidade e convocaram a população para participar. Uma empresária já organiza no Facebook um ato contra a corrupção no
Rio, que começa a se espalhar pelo Brasil e foi notícia até no jornal espanhol "El País". O
GLOBO publica diariamente o depoimento de uma personalidade sobre a importância
do movimento e da mobilização da sociedade.
Glória Maria, jornalista
"Em outros lugares do
mundo está acontecendo um sufoco por causa da miséria e as pessoas se
manifestam contra isso. No Brasil, nós temos que nos mobilizar contra a
corrupção. Isso porque tudo o que mexe com a alma do brasileiro acontece. Temos
aí vários exemplos, como as Diretas Já, o impeachment, etc., e a população foi
às ruas. Nós tínhamos que fazer a maior manifestação que o país nunca viu, em
todas as partes e cantos do país. Se a gente não disser realmente que basta, a
corrupção não vai ter fim."
Cacá Diegues, cineasta
"A corrupção é uma coisa
que já acontece no Brasil há muitos séculos. Desde o descobrimento, na verdade,
quando Pero Vaz de Caminha, na carta que enviou à Corte, pedia emprego para o
genro, num exemplo claro de tráfico de influência. Depois, se formos ler as
pregações do Padre Antônio Vieira, vamos ver denúncias de histórias fantásticas
de corrupção. Na verdade, este problema é resultado do paternalismo do Estado.
A ideia de que o Estado pertence a quem está no poder e acha que pode fazer o
que bem entender com o dinheiro é fruto deste paternalismo."
"Hoje, pela primeira vez
eu vejo a corrupção, que sempre foi tratada como tema de oposição, se
transformar numa causa nacional, independente de partidos. A corrupção agora se
tornou uma causa nacional assim como foi a escravidão no final do século XIX.
Deixou de ser uma queda de braço entre partidos e o governo está no centro
desta discussão. Eu vejo todo este movimento anticorrupção como uma boa
notícia. Não digo que vá resolver o problema da sociedade brasileira, mas o
certo é que a sociedade não aguenta mais este problema. E esta mobilização é um
indício de que vem coisa boa por aí."
Eduardo Dussek, cantor
"A corrupção é a maior
prova da ignorância, ela é contagiosa. É absurdo achar que roubando você está
construindo uma vida maravilhosa. Enquanto isso, você mata gente no Nordeste,
mata gente nas estradas... A corrupção é destruição, é guerra. Por isso é que
eu acho que deveria haver uma regulamentação na profissão de político. Para
você ser médico ou engenheiro, tem que ter diploma, não é? Então, por que os
políticos não são exigidos em termos de saber, de técnica? Tem que acabar com
essa mania de botar qualquer pessoa no poder só porque ela tem carisma. A maior
parte dos políticos, eu não contrataria para nada."
Paulo Miklos, músico
"Eu fiquei bastante
esperançoso com a grande manifestação do Sete de Setembro, em que quase 25 mil
pessoas saíram às ruas. Só a sociedade mobilizada, só um movimento muito grande
pode mudar algumas práticas, como o nosso jeitinho. As pessoas podem mudar o
curso das coisas. E, agora, as datas comemorativas do país estão servindo para
isso, para que o nosso país realmente mude. Vem aí também o 15 de novembro, e
podem surgir outros protestos.
Mas ainda temos um longo
caminho, temos que fazer muitas coisas, como uma reforma política eficiente.
Estamos esbarrando sempre nas mesmas pessoas. Parece que a alternância de poder
já não adianta, que não há tanta mudança. Sempre há a exigência de negociação
com as mesmas pessoas, quer dizer, parece que a política fica refém das mesmas
pessoas. Mas vejo com muita esperança essas manifestações, que podem começar a
mudar as coisas".
Dicró, cantor e compositor
"A corrupção, do meu
ponto de vista, começa lá em Brasília. Exemplo: agora, o governo está querendo
voltar com o CPMF para dar mais dinheiro para a Saúde. Antes, já disseram que
roubavam tudo. Vão continuar a roubar agora. Mas isso é bom para os velhinhos,
que vão recuperar a audição, a visão e vão ficar atentos para que não exista
nenhum problema ou desvio de dinheiro".
Marcelo Madureira,
humorista
"Dou a maior força para
este movimento porque a corrupção é, antes de tudo, antieconômica. Por exemplo:
uma ponte que é para custar 100, custa 150, e por aí vai. O certo é que a
corrupção no Brasil já foi longe demais. A corrupção é uma via de mão dupla.
Não existe corrupção sem corruptor. O corrupto tem que ser mancomunado com o
corruptor. O empresário, os grandes empreiteiros, desses ninguém fala. A corrupção
está em contradição com a democracia, com a economia, com o bom senso e os bons
costumes. Não existe ninguém que seja a favor destes corruptos.
Infelizmente, a Justiça só
serve aos poderosos. Só o pobre vai preso, e as pessoas praticam estes atos de
corrupção porque têm certeza da impunidade. Só existe democracia de verdade
quando existe justiça de verdade. E quando você botar na cadeia tanto o
corrupto quanto o corruptor, você vai lavrar um tempo importante. Em qualquer
lugar do mundo tem corrupção. A diferença no Brasil é que a corrupção corre
solta e não acontece nada. É uma responsabilidade nossa, do cidadão, de
lutarmos contra este tipo de delito, porque este delito prejudica a sociedade
como um todo. Quanto em dinheiro o país perde com a corrupção? É importante que
as pessoas de bem deste país estejam juntas nesta luta, que é uma luta dura.
Mas se a gente não lutar, não tem chance nenhuma de ganhar. Eu sugiro
começarmos a luta invadindo a ilha de Curupu, do Sarney, para conquistarmos um
pedaço do território inimigo. Vai ser uma boa briga!".
Eduardo Eugenio Gouvêa
Vieira, presidente da Firjan
"Nós apoiamos porque a
corrupção está incrustada no poder público brasileiro. E nós pagamos uma
quantidade gigantesca de impostos. Ninguém aguenta mais não ter serviços
proporcionais aos impostos recolhidos. Nós sabemos que grande parte dessa
dificuldade que o Estado tem de prover os serviços públicos é em função da
corrupção, do dreno de recursos que acontece na administração pública. Nós
temos que dar um basta nisso. Nós temos que conclamar todos os brasileiros a se
manifestarem a favor da moralidade pública.
Nós temos que chamar a
sociedade, as instituições, os jovens para mostrar que isso que acontece não é
mais possível, isso não é razoável, isso é um câncer que está matando a todos e
está matando principalmente a esperança da juventude".
Marco Antonio Villa,
historiador
"Eu fiquei impressionado
com as manifestações organizadas no Sete de Setembro. Especialmente em
Brasília, onde muitas pessoas foram às ruas. Eu sempre fico irritado quando
ouço de alguns, e é pensamento corrente, que a corrupção está no DNA do
brasileiro. Outro discurso de que não gosto é o seguinte: se a economia vai
bem, então está tudo certo, ninguém se mobiliza. Esses discursos que não têm
nada a ver e essas manifestações mostram que as pessoas estão indignadas. A
grande dificuldade é encontrar um meio para que sociedade possa demostrar toda
essa insatisfação. Nós somos uma sociedade invertebrada, difícil de canalizar
algumas insatisfações.
O desafio, agora, é a
continuidade. Como manter essas manifestações e pressionar? Aquela tese de que
não estão nem aí, é tudo bobagem, lero-lero. Tenta-se até justificar a
despreocupação com a carta de (Pero Vaz) Caminha, e associam também a corrupção
a uma herança ibérica, mas não é assim. Pode ser que esse movimento inaugure
uma nova forma de fazer política. Há um cansaço em relação às formas
tradicionais. Os sindicatos e movimentos sociais, por exemplo, são todos
beneficiados e atrelados ao governo".
Carlinhos de Jesus,
coreógrafo
"A população tem que se
organizar, sim. Tem que se juntar para dar um basta na corrupção. Na época do
impeachment, a sociedade não se organizou, pintou os rostos e foi às ruas? É
importante estar atento e lutar contra esse mal. Às vezes, acho que a sociedade
não tem noção da força que tem. Com os impostos absurdos que pagamos, não é possível
que aconteça o que acontece. Temos que entender que o dinheiro do contribuinte
não pode ser usado da maneira que é. Pagamos e não há o mínimo respeito com a
população. A população tem que se organizar e dar um basta. Isso é válido. O
Brasil é conhecido em todo o mundo pelo esporte, pela música e pela corrupção.
É desagradável. Não adianta nada o Neymar fazer gol, dançarmos e acontecer tudo
que acontece com o nosso dinheiro".
Maurício Azêdo, presidente
da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
"O movimento tem a maior
importância porque sem a mobilização popular nós não vamos ter uma modificação
essencial nesse quadro a que assistimos, de ataque ao dinheiro público e de
práticas fraudulentas na administração pública. A presença da ABI ao lado da OAB
e da CNBB tem em vista procurar alastrar esse movimento para sensibilizar a
opinião pública, que pode ter uma participação decisiva nessa questão.
É através dessa mobilização
que vamos modificar essa leniência e essa contemplação com a corrupção que grassa
na administração pública em todos os níveis e em todos os escalões da
federação".
Mário Moscatelli, biólogo
"É um compromisso apoiar
os movimentos contra a corrupção. Ano que vem tem eleição e é uma oportunidade
que o eleitor tem de fazer uma faxina em nível municipal. Do jeito que está,
não dá mais. Se o mau gerenciamento do dinheiro público, a corrupção e a
impunidade não forem resolvidos, esse país vai afundar. Os políticos têm que
sentir medo da população. O mesmo medo que a gente sente quando vai ser
atendido em um hospital público e quando vai andar de ônibus à noite. Com a
união do povo, esses caras vão perceber que as coisas podem mudar. A sociedade
vai começar a pressionar, e o instinto de sobrevivência deles vai falar mais
alto. Assim, vão ter que parar de roubar".
Alexandre Coutinho
Pagliarini, Professor de Relações Internacionais e especialista do Instituto
Millenium
"Eu apoio totalmente os
movimentos sociais, na rede, nas ruas, e rejeito qualquer forma de censura à
mídia. Eu atribuo a corrupção a quatro fatores: ausência de disciplinas sobre
democracia, Direitos Humanos e fundamentos do Direito no ensino básico e
fundamental; falta de investimento do governo em todos os níveis de ensino, o
que originou uma opinião pública inconsciente de seus direitos e deveres, e
falta de democracia durante longos períodos. Se você olhar para os 500 anos de
história do Brasil, há períodos ínfimos democráticos. Mas, não acredito que
Dilma esteja fazendo uma faxina. Tudo o que está ocorrendo é por força da
mídia".
Gustavo Borges, ex-nadador
e medalhista olímpico
"Não há como vermos a
corrupção no nosso país e não sentirmos indignação. Seria uma falta de ética da
nossa parte não se indignar. Vivemos em um país com um potencial gigantesco e
temos os nossos valores, como respeito e confiança, abalados. Temos que viver
aquilo que acreditamos. É o 'faça fora de casa o que você faz dentro'.
Acredito, sim, que todas essas mobilizações podem trazer mudanças, desde que a
população se envolva. Se isso acontecer, a gente consegue mudar as
coisas".
Carlos Lessa, economista
"Toda e qualquer
mobilização da sociedade é bem-vinda, terá êxito se traduzir uma percepção
latente no corpo social. No Brasil, a corrupção é histórica e faz parte da
realidade corrente, reflete uma democratização insuficiente e uma cidadania com
pouca musculatura.
Mudam os tempos e os termos,
mas a corrupção foi 'naturalizada'. A sonegação de impostos, a propina para
apagar a multa de trânsito, a obtenção de um falso atestado médico para
justificar falta ao trabalho ou à sala de aula, etc. são manifestações
consideradas"naturais" e justificáveis pelo brasileiro comum. É
positivo denunciar a macrocorrupção, desde que haja combate ao corrompido e ao corruptor.
Há uma complacência com a microcorrupção, que deveria ser combatida ao nível de
escola primária.
É preciso separar o joio do
trigo. A Fiesp acha que o problema brasileiro é "excesso" de carga
tributária e poderio burocrático. Isso tem grãos de verdade, mas não anulam a
cultura antidemocrática e pouco praticante de cidadania. As decisões das
agências reguladoras não são transparentes, nem explicitadas. Em muitos
aspectos os temas regulados pelas agências são hoje áreas de desrespeito
sistêmico aos "direitos" do cidadão. Talvez a Fiesp pense o Estado
soberano como uma agência neoliberal de governança".
Nalbert Bitencourt,
ex-jogador de vôlei e comentarista
"Esses movimentos de
combate à corrupção estão crescendo, são muito importantes e têm o meu apoio.
Antes, as pessoas só reclamavam e não tomavam atitude. Essa vigilância da
sociedade ajuda a pressionar os corruptos. A Dilma entrou forte nessa guerra.
Mas a gente sabe que não é fácil. Nós temos que lutar para que a impunidade,
que é o grande problema, deixe de existir. Os políticos corruptos se sentem
muito à vontade pelo fato de não acontecer nada, não serem punidos. Essa
absolvição da Jaqueline Roriz, por exemplo, foi um absurdo, algo
inacreditável".
Mauricio de Sousa,
desenhista
"O movimento popular
sempre vai dar em algum resultado, mesmo que seja pequeno, vai dar. Aos poucos,
essas mobilizações vão se transformando em uma bola de neve. Eu não gosto muito
do termo 'faxina' porque envolve motivações políticas. A gente não sabe muito
bem o que está por trás disso. Eu prefiro o termo 'movimentos popular', que
acontece a partir da conscientização que está se espalhando no nosso país,
graças ao trabalho da imprensa, que, espero, não tenha nenhum tipo de bloqueio.
O que importa, na verdade, é a nossa faxina, conduzida pelo povo, pelos agentes
sociais. Nessa, sim, eu acredito".
Luiz Alfredo Garcia-Roza,
escritor
"Eu sou favorável a
qualquer campanha contra a corrupção. Acredito que elas podem, sim, trazer
efeitos para o nosso país. Espero, sinceramente, que essas mobilizações, esses
atos que estão sendo organizados pela sociedade, tanto na internet quanto nas
ruas, tragam mudanças concretas. É uma oportunidade até para elas pegarem
carona em mobilizações que estão acontecendo atualmente em outros países".
Sérgio Besserman,
economista
"Corrupção não é só crime
e desperdício de recursos públicos. Ela degrada os negócios, as instituições e
é um obstáculo à democracia brasileira. Eu acredito em dois caminhos
transformadores para reduzir a corrupção: transparência - que significa cada um
dos três poderes disponibilizarem todas as informações para os cidadãos -,
liberdade de imprensa; e participação popular fazendo força política em busca
da ética.
Os primeiros meses do governo
Dilma demostraram que existe uma força majoritária na sociedade brasileira que
quer a mudança do padrão de direção política no país. Eu apoio a aglutinação de
todas as forças políticas que querem transformar o modo pelo qual o poder
público é exercido no país".
"Essa faxina da Dilma foi
pontual e quem levantou isso foi a imprensa. Mas, a sociedade está começando a
reagir. Temos no momento um ambiente favorável a essa reação. A opinião pública
é quem de fato está derrubando ministros, pressionando, conquistando aquilo que
antes parecia inatingível, como a Lei da Ficha Limpa. Um dos temas favoritos da
minha coluna é a corrupção, que corrói a sociedade e os agentes públicos. A
corrupção tem muitas faces, uma delas é essa dos políticos roubarem para os
seus partidos. Desviar dinheiro público para o partido é roubar duas vezes. É
pior do que roubar para si, porque corrompe o processo eleitoral".
Fábio Konder Comparato,
jurista e professor emérito da Faculdade de Direito da USP
"A corrupção dos agentes
públicos é um mal endêmico no Brasil e existe desde o início da colonização,
abrangendo indistintamente todos os órgãos do Estado. Charles Darwin, quando
passou pelo nosso país, observou: "Não importa o tamanho das acusações que
possam existir contra um homem de posses, é seguro que em pouco tempo ele
estará livre. Todos aqui podem ser subornados."
Trata-se, na verdade, de uma
prática entranhada na mentalidade coletiva e que permeia os costumes ou modos
de comportamento de todas as classes sociais. Sou, no entanto, bastante idoso
para perceber que a situação começa a mudar. Hoje, ao contrário do que parece,
a corrupção não aumentou em relação ao passado. O que aumentou é o número de
pessoas que manifestam indiferença ou complacência para com ela.
Entendo que a atual presidente
da República tem seguido, com coragem e determinação, no rumo certo: a
intransigência com qualquer prática de corrupção no Poder Executivo, mesmo
quando contamina ministros de Estado.
Não basta, porém, apoiar a presidente,
como os meios de comunicação de massa, acertadamente, vem fazendo. Como a
mentalidade coletiva não muda rapidamente, é indispensável montar uma política
pública de longo prazo para combater a corrupção, comportando instituições
adequadas e uma ampla campanha de educação cívica.
Dentre as instituições
adequadas para lutar contra a corrupção, entendo que devemos criar instrumentos
novos de atuação popular, como ouvidorias do povo, em todas as unidades da
federação, e a instituição de ações populares, ou seja, ações judiciais
propostas por qualquer cidadão em nome do povo".
"Hoje a sociedade tem
instrumentos não só para se mobilizar, como para interagir. Não basta
conscientizar a população, é preciso viabilizar instrumentos para ações, e o
cidadão precisa usá-los, deixando de ser mero espectador. O efetivo combate à
corrupção, tanto na área privada como no setor público, se dá pelo processo dos
envolvidos. Não bastam exonerações. O importante é registrar e abrir
inquéritos. Não se trata de vingança, é uma questão de pragmatismo.
As mídias sociais são válidas
nessa luta. O disque-denúncia tem mais de 55 mil seguidores no Twitter, através
do qual informamos aos cidadãos sobre locais de risco de assaltos, mapas de
cracolândia... e os seguidores, por sua vez, interagem, enviando fotos, vídeos,
informações, denunciando. Eu apoio a atuação da Dilma, ela está no caminho
certo de não tolerar essas ações corruptas. A presidente está atraindo uma
confiança muito grande, que acaba dando mais desenvoltura para outros agentes
sociais nessa luta".
Tia Surica, integrante da
Velha Guarda da Portela
"Eu apoio essa faxina que
a Dilma está fazendo, que está mais do que certa. O país não aguenta mais tanta
corrupção. A tendência dessa mobilização da sociedade é dar certo porque
estamos todos cansados de tanta corrupção. Se todos entrarem de cabeça nessas
manifestações que estão sendo organizadas, os efeitos vão surgir".
Renato Sorriso, gari
passista
"Toda corrupção que
acontece no Brasil e no mundo é por falta de educação familiar. Os corruptos
são pessoas ambiciosas, que só pensam nelas mesmas, não pensam em dividir, só
querem tirar proveito. Quem tem isso dentro de si não consegue enxergar um
horizonte de honestidade. Vejo o movimento das pessoas que agora se unem para
combater a corrupção como uma ação muito positiva. A população tem, sim, que ir
para as ruas contra as pessoas desonestas e contra a política suja. Tem que
lutar para garantir seus direitos sociais: educação, saúde, emprego. A Dilma
está certíssima em fazer essa faxina, só que ela já era pra ter sido feita há
muito tempo, antes de isso tudo acontecer. A limpeza tem que ser feita. É como
dentro de casa. Se não limpar, a sujeira acumula".
Marcelo Adnet, apresentador
e humorista
"A corrupção é o que o
Brasil tem de pior. É um crime, mais do que um roubo, é um desfalque. Você,
cidadão, parte do princípio que está sendo roubado. Você paga imposto, trabalha
e vê que está sendo enganado. A corrupção é uma falha entre o Estado e o
cidadão. A gente aprende desde cedo que o 'jeitinho' é a saída pra tudo. Desde
pequenos, nos ensinam que o Estado é o nosso inimigo, que nos rouba. E acham
que a forma de lutar contra isso é apenas burlando. Eu sou 100% favorável a
essa faxina no governo. E isso de termos uma mulher no comando é muito legal
porque a mulher é menos tolerante com esse conceito do 'jeitinho'. A Dilma é
uma mulher forte, séria, independente, a gente está vendo que ela não é a
sombra do Lula. Ela priorizou a faxina em vez da manutenção da base. Mas,
claro, ela não governa sozinha.
O Brasil está avançando, as
coisas estão melhorando, mas não podemos esquecer que quem é muito pobre,
continua muito pobre. O país não é só a classe média. Não acho que a juventude
esteja mais mobilizada. Ela está mais virtualizada. Por estarmos muito nesse
mundo virtual, vemos nele um meio de levantar movimentos. Isso é muito
positivo, mas a internet foi quem mudou muita coisa, falta a gente mudar.
Então, essa mobilização é muito boa, mas ainda é muito pouco. O brasileiro
ainda é muito passivo, debate pouco, não tem o hábito de criticar,
questionar".
Rodrigo Baggio, presidente
e fundador do Comitê para Democratização da Informática
"Dou força e apoio total
à presidente Dilma, para que ela amplie essa faxina. Cada brasileiro tem que se
manifestar. A gente tem que dar o basta através desses atos que estão sendo
organizados e utilizar as mídias sociais para mobilizar o Brasil. O sonho do
brasileiro é acabar com a corrupção. Mas a ética tem que partir de cada um. Tem
uma frase do Gandhi que diz 'seja você a transformação que você quer ver no
mundo'. A educação pelo exemplo é o que vai mudar o país. É o avô dando exemplo
para o neto, o pai dando exemplo para o filho. E todos precisam usar as mídias,
ir aos eventos, criar e reproduzir no Brasil, de forma organizada e sem
violência, o fenômeno de mobilização em rede que aconteceu em outros países,
como Chile, Espanha... Eu estarei no ato na Cinelândia, em setembro, e em
outros que forem criados".
"A corrupção no Brasil é
uma questão cultural, que vem desde os tempos do Império, não dos nossos
índios, mas de quem nos colonizou. Infelizmente, ela é uma coisa que não acaba
nunca. Sempre vai ter isso. É claro que é sempre muito bom que surja um
movimento contra isso. Eu apoio qualquer movimento contra a corrupção e é bom
que ele cresça, que as pessoas se mobilizem, porque a sociedade tem sido muito passiva
em relação a essas práticas que parecem que estão na genética do brasileiro.
Infelizmente. O pior é que se fala em faxina ética, se faz limpeza, mas uns
corruptos se vão e outros chegam."
Marly da Silva Motta,
historiadora e pesquisadora do CPDoc da FGV
"Movimento de combate à
corrupção não é inédito no Brasil. No segundo governo Vargas existiu uma frente
contra o roubo e a corrupção. Mas o debate político, nessa época, tinha um
componente ideológico forte, diferente de hoje. Essa questão cresce porque tem
apelo popular. E a sociedade tem que apoiar a "faxina", mas o Brasil
não tem tradição de ir às ruas pedir punição para corruptores. Claro que pode
ser a primeira vez.
Agora, o que tem diferente
hoje é que antes esses movimentos ocorriam durante graves crises políticas (por
ex, no governo Vargas, com JK e até na época do Collor) e agora não são para
derrubar a Dilma. Então, os movimentos podem estabelecer novos padrões. A
corrupção não está sendo vista como arma para derrubar presidente. Agora, instituições
como AGU e CGU podem se mobilizar e aí a corrupção será tratada no lugar certo.
Esse combate deve passar pelas instituições que o Estado possui. Mas espero que
tudo não seja só panaceia, e sim um processo duradouro.
Sobre a Dilma, ninguém duvida que
ela possa tomar a iniciativa (pra continuar com o movimento), o eleitorado já
esperava uma atitude mais durona. Ela faz acreditar que o processo pode
avançar."
"Um dos problemas de se
acreditar no brasileiro é que aqui se governa com os amigos. Como você separa
projetos que interessam à população de outros projetos que são muito mais de
interesse de grupos, lobistas, pessoas incrustadas nos ministérios? Esse é o
grande problema. O que o Senado está fazendo é muito bom. Representa um pouco
da indignação diante do fato de que o Brasil melhora, mas não consegue mudar em
relação às falcatruas. Entra governo de direita, sai governo de direta, entra
governo de centro, sai governo de centro, entra Lula, sai Lula, entra Dilma e
continua tudo a mesma coisa. E a coisa vai ficando cada vez pior. E os
tribunais? As pessoas falaram que houve abuso no uso de algemas nos presos (na
Operação Voucher, da Polícia Federal). Sim, e aí? Essas pessoas são criminosas
ou não? Vão ser julgadas ou não?"
Imagem e Texto: Jornal "O Globo", Rio de Janeiro, 17-09-2011
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